Para entender o fenómeno Anitta, e o funk, leiam este texto de Bernardo Oliveira
“TUDO LÁ NO MORRO É DIFERENTE...” Ainda discriminado, o funk é onipresente no espírito carioca. “...tudo lá no morro é diferente/ daquela gente não se pode duvidar/ começando pelo samba quente que até um inocente sabe o que é sambar...” (“Linguagem do Morro”, Padeirinho da Mangueira e Ferreira dos Santos) A arte contra cultura, a cultura contra a arte Substituindo a palavra samba pela palavra funk, o trecho acima permaneceria tal e qual. Foi retirado de um samba dos anos 60, gravado pelo mangueirense Jamelão, e destaca dois aspectos da relação morro-asfalto no Rio de Janeiro que vigoravam bem antes daquela época. O primeiro é uma declaração de distinção: “tudo lá no morro é diferente”. Produto do descalabro do estado brasileiro, as favelas constituem, como na maioria dos redutos afro-descendentes da América, uma espécie de estado paralelo, com leis e dinâmicas próprias, reduto de grande miséria, mas também de grande força criativa. O segundo aspecto, decorrente do primeiro e leitimotiv...