Merkin: as perucas íntimas que já foram uma moda popular

 


Ora, aqui estou perante vós, perfeitamente consternada, ainda mais conhecida por ser aquela chata que está sempre a pugnar pela divulgação de materiais fotográficos acompanhados de créditos, pela protecção das autorias, acabo de descobrir que caí que nem um patinho e que vos fiz cair também numa ilusão. Não questionei, quando vi a fotografia do vendedor de postiços púbicos, que a sua autoria se tivesse perdido. Tomando esse facto por assente, parti em busca da história das "merkin", que desconhecia. Pois bem, lamento desapontar-vos, mas a fantástica fotografia das perucas púbicas é uma criação artística de um incrível fotógrafo de nome Stephen Berkman. A história de como este homem a criou, e outras igualmente fantásticas, e do seu livro, é quase tão boa como a história encenada nesta foto.
Confesso que escrevi de forma apressada, que fiz uma busca superficial dos factos relatados. Não cuidei de pensar muito no assunto, contrariamente ao que é meu hábito. É incomum proceder assim, mas fosse porque a ilusão é perfeita, ou porque quis acreditar numa personagem tão insólita, enganei-me e enganei-vos. Nem tudo o que escrevi é fantasia, as "merkin" são reais, eram usadas pelas trabalhadoras do sexo e ainda hoje são usadas e confecionadas em muitas cores e formatos. Mas esse homem intrigante não é.
A fotografia faz parte de um livro de 200 fotos com o título Predicting the Past, Zohar Studios: The Lost Years, by Stephen Berkman. Em outubro de 2020, 30 destas fotografias estiveram em exposição no Contemporary Jewish Museum.
Assim, peço encarecidamente a quem partilhou o favor de apagar essa partilha para evitar que erro se propague. Podem e devem voltar a partilhar com as referências correctas. De igual forma, assim que acabar de publicar esta postagem, irei apagar a minha anterior postagem. As minhas desculpas, gente amiga.

O texto tinha saído assim: 

Vi esta foto e fiquei intrigada. Um vendedor de barbas? Não, nada disso. Um vendedor de "merkins"! É o que se lê no expositor. Está na cara que se trata de um vendedor de perucas íntimas, como é que não percebi logo isso? Este homem é, evidentemente, um percursor do marketing pessoal! Alguém que sabe dar a cara pelo seu negócio. Não estou a ver que alguém o tenha conseguido superar em visibilidade e autoridade! Estas curiosas perucas têm esta designação particular: "merkin" é o seu nome. A palavra demorou a conseguir entrar nas páginas dos dicionários. Uma jogadora de Scrabble de nome Robyn Wells, residente em Broome, encetou uma busca pela origem desta palavra e foi encontrá-la numa entrada de um dicionário, a segunda edição do Novo Dicionário Internacional de Webster, publicado em 1934. Lá estava ela bem aninhada entre "merk" (uma velha moeda da Escócia) e "merl" (um melro europeu)! Mas o dicionário apenas definia "merkin" como "uma esfregona canhão"! A sua conotação erótica só seria tornada púbica, digo pública, na terceira edição do dicionário, que seria publicada 27 anos mais tarde. O responsável pela abertura à mudança foi D.H. Lawrence com o seu profano romance Lady Chatterley's Lover. Uma cena de sexo no chão da floresta, entre o guarda de caça e Lady Chatterley, envolveu a editora de Lawrence num caso judicial que mudou o curso da história literária. A editora ganhou o direito de publicar o manuscrito completo e sem censura, estabelecendo um precedente para publicar palavras com conotações sexuais. E foi esta decisão que trouxe a definição de "merkin" à terceira edição da Webster como "Falso cabelo da genitália feminina!" (Adpatado de www.Abc.net.au)

Muito antes, no antigo Egipto, quando a maioria dos cidadãos era obrigada a raspar os pelos púbicos e corporais para se livrar dos piolhos, as pessoas nobres e ricas também usavam perucas púbicas. E Cleópatra, ao que parece, exibia longos pelos pubianos, bem escovados e oleados, através de vestidos diáfanos. Durante os séculos seguintes não sei o que terá acontecido à moda das perucas íntimas. 

A partir do séc. XVII reinaram as perucas no andar superior. Reinava também a temida sífilis que deixava marcas profundas no corpo, uma delas a calvície, que era escondida sob as ditas perucas. Os homens e as mulheres aristocratas usaram e abusaram de pesadonas e monumentais perucas empoadas. Mas, de volta, às "merkin". Durante o século XIX, os ricos e extravagantes coleccionavam pelos pubianos ou pedaços de "merkin" de suas amantes como recordação. Seriam então feitas com fibras naturais como crina de cavalo, pelo de cabra ou cabelo de cadáveres humanos. O Oxford Companion to the Body, (um guia sobre a temática do corpo, publicado em 2001) aponta 1450 como o ano em que “malkin” – palavra da qual deriva "merkin" – apareceu pela primeira vez. 

As perucas púbicas entraram na moda no século XIV para fins higiénicos e não eróticos ou decorativos. As mulheres tinham de rapar os pelos púbicos para combater as infestações por piolhos ou para esconder as cicatrizes decorrentes da sífilis. O banho era uma coisa do futuro e a solução mais prática era rapar e depois ornar com um capachinho púbico, este sim, bem esfregadito e seco ao sol, como um carapau salgado. Todavia, aparecer barbeada no andar inferior era coisa de prostituta e daí as "merkin" se terem tornado populares até nos estratos sociais mais elevados. Além do mais, nessa época, um arbusto farto era sinal de saúde. Colinas bem aparadas só se tornariam moda muito mais tarde quando o bikini piquinino, amarelo às bolinhas, fez a sua aparição nos corpos femininos, talvez só no final dos anos 50. Mais tarde ainda, nos anos 70, a moda do carpélio não se limitou apenas à decoração de superfícies e as colinas púbicas voltaram a cobrir-se de forma luxuriante. 

 E hoje? Actualmente, as "merkins" são usadas ​​principalmente na indústria cinematográfica quando é exigida precisão histórica, ou estética, ou como uma espécie de salvaguarda dos olhares alheios. Rooney Mara já usou uma. Podem ficar a tentar adivinhar em que filme. Isso! Da próxima vez que vos aparecer um nu frontal e farfalhudo no cinema lembrem-se que nem tudo o que parece é, tal como o cabelo sintético, hoje, uma realidade banal, pelo que já ninguém precisa de profanar cadáveres para roubar cabelo para vender, como em tempos passados, aos artesãos que confecionaram estes postiços púbicos.


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