Foto de Eduardo Gageiro É tarde, muito tarde da noite, trabalhei hoje muito, tive de sair, falei com vária gente, voltei, ouço musica, estou terrivelmente cansado. Exactamente terrivelmente com a sua banalidade é o que pode dar a medida do meu cansaço. Como estou cansado. De Ter trabalhado muito, ter feito um grande esforço para depois interessar-me por outras pessoas quando estou cansado demais para me interessarem as pessoas. É tarde, devia Ter-me deitado mais cedo, há muito que devera estar a dormir. Mas estou acordado com o meu cansaço e a ouvir música. Desfeito de cansaço incapaz de pensar, incapaz de olhar, totalmente incapaz até de repousar à força de cansaço. Um cansaço terrível da vida, das pessoas, de mim, de tudo. E fumo cigarro após cigarro no desespero de estar tão cansado. E ouço música (por sinal a sonata para violino e piano de César Franck, e depois os Wesendonck Lieder) num puro cansaço de dissolver-me como Brunhilda ou como Isolda no que...