Era uma vez... Richard Branson e Jeff Bezos no espaço

Site da OMAZE

Há coisas que só os super-ricos podem ter ou fazer, coisas absurdas, que não lembram ao comum mortal, ou que, caso lembrem, só em sede de sonhos, talvez, ou de loucura. Algumas delas são exageradas mas ainda fazem algum sentido. Por exemplo, comprar largas parcelas de terreno em redor da casa, e até as casas à volta da sua, para não ter de se confrontar com vizinhos. Por vezes eu mesma gostava de comprar um monte alentejano e escapar à convivência de alguma vizinhança! Mas o que dizer de mudar todo o recheio de uma casa para acompanhar as estações do ano e as tendências? Ou encomendar um filme sobre si, a um realizador famoso? Ou ter um pequeno hospital montado na mansão, e um médico de plantão, ou uma casa segura no subsolo para sobreviver a um apocalipse de zombies?

Colecionar carros de luxo já é quase banal entre os muito ricos. Comprar um jacto também é algo mais comum. Mas um super-rico pode ter muitos amigos, por exemplo um tal Usmanov, Russo, que optou por comprar um Airbus capaz de sentar umas duzentas pessoas. Os que preferem navegar compram um iate de luxo, equipado com mísseis de defesa, como fez o russo Abramovich. É melhor não se atravessarem na rota dele  quando resolver is à pesca de esturjões. Outros compram uma ilha inteira só para si, como fez o di Caprio. Espero que a vida lhe corra melhor aí do que no filme A ilha, que protagonizou há uns anos. 

As excentricidades a que se entregam os que têm mais dinheiro do que aquele que se consegue gastar numa vida, são bastantes, variadas e incatalogáveis. Já todos vimos fotografias de sanitas em ouro, mas isso nunca me empolgou muito. O que eu gostava mesmo era de ter uma espécie de toque de Midas capaz de transformar m... em ouro, isso é que seria precioso mas não há dinheiro que compre. 

Vem toda esta tolice a propósito das viagens turísticas de Richard Branson e Jeff Bezos ao espaço que muitos dizem ser apenas extavagâncias de quem não sabe o que fazer ao dinheiro. Uma vez ofereci um bilhete de cinema a um grupo de amigos, no meu aniversário. Fomos todos viajar para a sala de cinema a ver o filme O sexto sentido. O Apollo 13 já estreara uns anos antes, foi pena.  Ora, não sendo rica como a Katy Perry que  num aniversário ofereceu ao marido, Russel Brand, um bilhete para ir ao espaço, "cacei com gato." Depois de ter entregue os bilhetes de cinema a todos reparei que faltava um para mim e tive de voltar à bilheteira, chegando atrasada à sessão.  Ainda hoje sou amiga da maioria dessas pessoas. Quanto à Katy e ao Russel,  é sabido: os dois "precisaram de espaço" e foi cada um para a sua Lua: divorciaram-se. Ora, esse bilhete da Katy Perry reservava um lugar numa viagem turística espacial da empresa do Richard Branson, a Virgin Galactic. Os anos voaram desde que Katy Perry comprou o bilhete  espacial e só agora a empresa inaugurou o promissor negócio.  

Foi já com 70 anos, a 11 de Julho, que o bilionário Branson se juntou à tripulação de três pessoas e dois pilotos do veículo VSS Unity SpaceShipTwo,  - misto de avião de fuselagem dupla, o WhiteKnightTwo, e foguete,  - da empresa de voos espaciais Virgin Galactic para cumprir o seu sonho. Demorou-lhe 17 anos para conseguir elevar-se 86 km acima do nível do mar e voltar a descer. O avião descola com o foguete acoplado, que depois se separa. A aterragem é similar à de um avião. Parece que Branson disse que estar no espaço - tudo se fez em 20 minutos - dá uma perspetiva diferente sobre a importância da vida na Terra. É só porque a maioria de nós não tem como lá ir acima que a Terra está um caos: falta-nos perspectiva. Vão ver que doravante vai tudo ficar melhor com a quantidade de ricos que vão ver a Terra lá de cima,  como habitualmente, a olhar-nos de cima para baixo. Não foi lá muito original nem inspirador de Branson, mas talvez a emoção fosse demasiada para conseguir produzir frases inspiradoras. 

( Leiam também sobre a aventura da SpaceShipOne! Sim, em 2004, a SpaceShip One voou a mais de 100 km de altitude inaugurando a "era do turismo espacial"...)

Todo o espectáculo e cobertura feita a este empreendimento lançou a sua empresa como a primeira a investir em viagens espaciais turísticas e mesmo de transportes de carga. Branson parece ter feito  história: a "pista" para o turismo espacial está aberta, ou entreaberta, já que sempre pavimentada por muitos dólares. O fundador da Virgin Records provou que foi um visionário há 17 anos, quando pediu que lhe construissem este foguete, quer a gente aprecie ou despreze a sua voltinha espacial, a aura dos super-ricos e os seus sonhos extravagantes, - que as mães ensinam a nunca deixar de querer alcançar - ou apenas nos preocupe a poluição que todo este novo turismo irá gerar. E andam os do movimento Climáximo a protestar contra os aviões na Rotunda do Aeroporto e as mulheres a acabarem nuas na esquadra da polícia! Que se preparem!

Ainda que se sintam incomodados com todo este exibicionismo bilionário e tecnológico, que até faz parecer fácil uma ida ao espaço, que permanece, e permanecerá (ainda) um risco, achei que devem saber que a Virgin Galactic fez uma parceria com a Omaze para oferecer dois bilhetes para ir ao espaço, numa das próximas missões. A inscrição busca obter doações  para financiar as iniciativas de solidariedade social da Omaze,  mas também é possível fazê-la sem fazer qualquer doação. E as candidaturas estão abertas para qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, através do site. Portanto, escolha uma boa companhia para viajar até ao Novo México e embarcar num dos primeiros voos comerciais da Virgin Galactic!  Inscreva-se para poder experimentar a micro-gravidade, ver vistas inspiradoras da Terra e  ter Sir Richard Branson como o seu guia VIP e pessoal pelo Spaceport America. O hotel e voo para o Novo México também estão incluidos. Eu não me vou inscrever pois tenho medo de enjoar.

Alguns dias depois, foi a vez do também bilionário Jeff Bezos, com 57 anos, o homem mais rico do mundo, que fundou a Amazon em 1994, viajar também para o espaço: a data foi  20 de Julho. Simbolicamente, a data escolhida para esta viagem coincidia com o 52.º aniversário da chegada de Neil Armstrong e Buzz Aldrin à Lua. A Blue Origin, empresa privada de astronáutica,  foi criada com fundos provenientes da Amazon. Para além do projecto do turismo espacial, a empresa tem uma parceria com a NASA para construir uma infraestrutura no espaço, na Lua, uma rede de urbanizações espaciaise desenvolver foguetes e veículos espaciais. Elon Musk deve estar a adorar a competição.

A partir do Texas voaram com Bezos o seu irmão Mark, um jovem estudante de física, Oliver Daemen, que pagou 28 milhões de dólares pelo bilhete, e Wally Funk, uma pioneira da aviação que aos 82 anos se tornou a pessoa mais velha a ir ao espaço e que até deu uma animada cambalhota no interior da nave enquanto flutuava. Digam o que disserem, este convite que Bezos fez a Wally, foi um gesto bonito. Em 1960, Wally chegou a treinar como astronauta. Nos anos 70 ela voltou a inscrever-se, mas não conseguiu. Agora foi a convidada de honra de Bezos. Wally fez parte de um grupo de 13 mulheres que participaram em 1961 numa selecção que, imaginavam elas, as levaria ao espaço. Este "programa" não era apoiado pela NASA, que nesse tempo não selecionava mulheres, tendo sido desenvolvido de forma privada. Como não houve autorização para continuar os testes, que  na última fase implicavam simulações, pois a NASA não tinha qualquer intenção de enviar mulheres para o espaço, o programa foi descontinuado.

Bezos, que não deve ter gostado de ter sido o segundo na corrida,  anda agora a gabar-se de que fez mais e melhor pois passou a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral: os cem quilometros de altura, a Linha de Kármán, referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950. Mas parece que a fronteira se situa entre os 80 e os 100, ou que, mesmo ultrapassando essa linha ainda será pouco. Neil deGrasse Tyson já veio dizer que se trata apenas de um voo suborbital, que permite ver uma vista simpática da Terra, mas que isso não é "ir ao espaço". Ir ao espaço é ir ao espaço, entrar em órbita, ir à Lua ou a Marte. Ou seja, "turistas espaciais" não são "astronautas"  e talvez se devessem antes intitular, mais modestamente, "turistas especiais". Who cares, Tyson! Até a Laika foi mais longe...

O New Shepard, o foguetão lançador, cujo nome é uma homenagem ao astronauta Alan Shepard, que em 1961 se tornou o primeiro americano a ir ao espaço,  e que muito riso provocou em virtude do seu formato fálico, levou os quatro passageiros numa cápsula e retornou em pouco mais de 10 minutos.  A cápsula é automatizada. Não há piloto e os passageiros não podem manobrar ou ajustar a direção. A cápsula  atingiu os 105 Km de altitude e depois entrou em queda controlada. Os passageiros puderam experimentar  3 minutos de gravidade zero, soltaram-se dos cintos de segurança e observaram a Terra das janelas. O lançador aterrou no mesmo local de onde levantou voo e a cápsula aterrou no deserto. Este voo também  foi suborbital, tal como o de Branson, isto é a nave não entrou em órbita.

Elon Musk, dono da SpaceX (Space Exploration Technologies Corporation), entre outras empresas, e de uma fortuna de bilhões, - é o segundo mais rico do mundo -  como é sabido também está na corrida ao espaço, envolvido em projectos em parceria com a NASA, e desenvolvendo foguetes e aeronaves. Lá para Setembro também se vai aventurar em algo semelhante. Musk, Branson, Bezos: o espaço, definitivamente, é a última fronteira para os bilionários. De repente o espaço tornou-se uma espécie de brincadeira entre os super-ricos: o que diria Gagarin de tudo isto! Musk, que tem mais perfil de colonizador (de Marte)  do que de turista espacial, não resistiu a reservar uma passagem para um dos voos da Virgin Galactic, comprada na manhã que antecedeu o voo de Branson, que foi apoiar no Spaceport America. Desculpa lá, Musk, mas o Russell Brand está primeiro, sabias? 

Comentários

Ser super-rico tem dessas coisas!

Bjxxx
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