O conflito Israel-Palestina e um poema


Write down:
I am an Arab.
My ID card number is 50,000.
My children: eight
And the ninth is coming after the summer.
Are you angry?

XXX

Write down:
I am an Arab.
I work with my toiling comrades in a quarry.
My children are eight,
And out of the rocks
I draw their bread,
Clothing and writing paper.
I do not beg for charity at your door
Nor do I grovel
At your doorstep tiles.
Does that anger you?

XXX

Write down:
I am an Arab,
A name without a title,
Patient in a country where everything
Lives on flared-up anger.
My roots…
Took firm hold before the birth of time,
Before the beginning of the ages,
Before the cypress and olives,
Before the growth of pastures.
My father…of the people of the plow,
Not of noble masters.
My grandfather, a peasant
Of no prominent lineage,
Taught me pride of self before reading of books.
My house is a watchman’s hut
Of sticks and reed.
Does my status satisfy you?
I am a name without a title

XXX

Write down:
I am an Arab.
Hair coal-black,
Eyes brown,
My distinguishing feature:
On my head a koufiyah topped by the igal,
And my palms, rough as stone,
Scratch anyone who touches them.
My address:
An unarmed village—forgotten—
Whose streets are nameless,
And all its men are in the field and quarry.
Are you angry?

XXX

Write down:
I am an Arab
Robbed of my ancestors’ vineyards
And of the land cultivated
By me and all my children.
Nothing is left for us and my grandchildren
Except these rocks…
Will your government take them too, as reported?
Therefore,
Write at the top of page one:
I do not hate people,
I do not assault anyone,
But…if I get hungry,
I eat the flesh of my usurper.
Beware…beware…of my hunger,
And of my anger.


Mahmoud Darwish (1941-2008) – Poema ID Card, escrito aos 23 anos e que o tornou um alvo da perseguição israelita por relatar a Nakba e proclamar o seu amor pela terra palestina. Sobre as reações inflamdas que este poema causou e ainda causa, ID Card” by Mahmoud Darwish— A Translation and Commentary, e fonte desta tradução que transcrevi.

Darwich é um nome maior da poesia palestina, autor da Declaração de Independência Palestina, testemunhou a destruição de sua aldeia, Al Birweh, durante a implantação do Estado de Israel em 1948. Ao retornar clandestinamente, passado um ano, descobriu que o lugar era um colonato agrícola judaico. Com  Samih Al-Qasim e Tawfiq Ziad compõe aquele que é chamado o trio de poetas da resistência. Sobre este poeta e a dimensão da sua obra,  Poet of the Arab World.



Benjamin Netanyahu deixou esta semana de ser o primeiro-ministro de Israel, na sequência do voto favorável, no Knesset, (parlamento israelita) de uma coligação de oito partidos. O novo chefe do governo é Naftali Bennett. Segundo este homem afirmou, se tivesse poder para isso, as crianças palestinianas poderiam ser mortas a tiro pois não são crianças, são terroristas. Biden já felicitou Israel pelo resultado eleitoral mas deve manter-se afastado, ocupado na arrumação da sua ainda nova casa. Por outro lado, o presidente da Autoridade Palestiniana anunciou o adiamento das primeiras eleições no território palestiniano em quinze anos, que estavam para acontecer em breve, após um difícil acordo entre Fatah e Hamas. Mahmoud Abbas faz agora depender a sua realização da permissão de Israel para a votação em Jerusalém Oriental. 

Como é que há pessoas - e ainda por cima, políticos de assumidas Democracias capazes de vencer eleições, note-se - capazes de defender a morte de crianças sem dó? Como é que se chegou a isto, ali, naquele espaço geográfico? Ninguém na comunidade internacional parece ter mãos para resolver o conflito que coloca Israel e Palestina numa disputa pelo direito à terra desde há mais de meio século. O primeiro diz que é o verdadeiro povo natural de Eretz Yisrael, a terra de Israel, que remonta a 3000 anos. Antes deles Egípcios, Filisteus, Assírios, Persas, etc. Cedo começa a diáspora judaica. Os judeus viviam no reino de Israel quando se revoltaram contra o domínio dos Romanos, várias vezes, sendo expulsos de forma violenta. O Imperador Adriano expulsou-os de Jerusalém, permitindo que estes retornassem apenas um dia por ano e até altera o nome da cidade Jerusalém para "Aelia Capitolina" (Capital do Sol) e o de" Judéia" para Síria Palestina.

No fim do séc. XIX surge o movimento sionista - motivado pelas ações do jornalista húngaro Theodor Herzl - que defendia que a melhor forma de garantir a segurança do povo disperso era criar um Estado judeu. Para a religião judaica, Israel tinha sido prometida por direito divino. A Declaração Balfour de 1917 favorecia a criação de um Estado judeu na Palestina se a Inglaterra derrotasse o domínio Otomano, mas com a preservação dos direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas. Os judeus começam a  regressar à região e com o passar do tempo as relações inicialmente pacíficas entre árabes ali residentes e eles, deterioram-se. Com o início da perseguição nazista, mais judeus entram na Palestina. A ideia da criação do Estado de Israel ganhou força com o Holocausto. 

Israel é um país amado e odiado. Para uns exaltado como a única Democracia do Médio Oriente, para outros um violador dos direitos humanos, segregacionista, um exterminador, que ignora o Direito humanitário internacional. Os judeus sempre foram um povo perseguido. Por exemplo, o anti-semitismo medieval atribuiu então a origem da epidemia de peste negra aos judeus, que foram barbaramente perseguidos. Mas agora perseguem os palestinos. Uma frágil Palestina tem sido fustigada com inclemência por um Estado bem artilhado e poderoso economicamente, com aliados de peso como os EUA. Apoiantes da Palestina serão a Turquia, Irão e o Qatar, que ainda há pouco anunciou ajuda à reconstrução. Os países europeus costumam apoiar Israel nos conflitos no Oriente Médio. Só as mortes de civis na ofensiva fazem com que este apoio comece a ser cada vez menos evidente embora se perceba que Israel ainda não parou de tirar o chão aos Palestinianos. O mundo assiste à contínua perda de direitos dos cidadãos palestinos, à ruina da sua economia, surpreende-se com a sua resistência, capacidade de sacrifício, no limite da sobrevivência, enquanto se indigna também com os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas, chamado por isso "organização terrorista", em virtude da sua componente armada. Em 2006 ele ganhou as eleições legislativas. Ismail Haniyeh, tornou-se o Primeiro Ministro da Autoridade Nacional Palestiniana. Pouco depois fez da Gaza a sede da sua organização.

Fiz uma pequena pesquisa sobre a historia conturbada deste território antes de ver a primeira temporada de Fauda , uma série israelita que tem feito grande sucesso, e aqui fica o resumo. Não está completo, poderá até conter imprecisões, e caso as detetem, comentem para que possa corrigir. Havia muito mais, mas serviu para arrumar algumas ideias.

Em 1947, o mandato colonial Britânico sobre a Palestina expira e Israel proclama-se Estado por declaração da ONU um ano depois. Truman reconhece a nação de imediato. Mas a sua existência nunca foi aceite pelos estados árabes. O Egipto, a Jordânia e a Síria formam a Liga Árabe e invadem. A guerra seguiu-se à decisão das Nações Unidas de dividir o território da Palestina em dois estados, um para os judeus, outro para os árabes. Os árabes eram mais numerosos e tinham menos área, e menos terreno fértil. Os Palestinianos pensaram poder ganhar com a ajuda dos outros países árabes, mas perdem.  São roubados, seus bens confiscados, são expulsos ou fogem para escapar à morte , - é a Nakba, a tragédia, o grande êxodo - e refugiam-se nesses países vizinhos nos três anos seguintes. 

Israel só não controlava a Cisjordânia, controlada pela Jordânia, e o Egipto controlava Gaza. Em 1964 é criada a Organização para Libertação da Palestina, que tanto tem alas moderadas que querem negociar, como outras mais beligerantes capazes de atingir alvos militares como civis, ganhando cunho terrorista. Em 1967 começa a Guerra dos Seis dias, mais um conflito entre israelitas e árabes. Egipto, Síria, Jordânia, Iraque e Líbano posicionaram-se contra o Israel. Este assume o controlo de Gaza, Cisjordânia e Península do Sinai e Golã. Israel negociou a paz com Egipto e retirou-se do Sinai. Em 1967 centenas de mulheres, crianças e idosos foram assassinados e mutilados por milicianos cristãos aliados de Israel nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila, nos subúrbios de Beirute, no Líbano. Ariel Sharon foi responsabilizado pelo ataque mas descarta, ainda que sofra repercussões diversas. Este massacre atraiu atenção mundial para a questão dos refugiados da Palestina.

Desde a guerra dos Seis Dias que Jerusalém e a cidade velha estão sob controle de Israel, que entretanto transferiu para Jerusalém Ocidental todo o aparato de um Estado central, desde o Parlamento (Knesset) às instalações dos diferentes ministérios. Actualmente a Cidade Velha (em Jerusalém Oriental) é cercada por muros e possui divisão em quatro bairros: judaicos, muçulmanos, cristãos e arménios.

Em 1972, uma ala radical da OLP, conhecida como Setembro Negro, faz reféns 11 atletas israelenses durantes os Jogos Olímpicos, todos acabam mortos e o conflito torna-se mundialmente conhecido. 
Dois anos depois, a Liga Árabe declara a OLP como a única representante legítima do povo palestino. No entanto ela é vista como entidade terrorista por muitos países e também pelos judeus. Nos Acordos de Camp David, mediados pelos Estados Unidos, Israel e Egipto comprometem-se em estabelecer a paz. O Egipto abre mão da Faixa de Gaza, inclusive reconhecendo o Estado de Israel.

Quanto à Faixa de Gaza, Israel retirou-se completamente desse território em 2005, por decisão unilateral promovida pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon e desmantelou os colonatos. Mas na Cisjordânia ocupada, Israel tem vindo a expandir os colonatos, além de ter construído aí a maior parte do muro. É na Cisjordânia que fica Jericó, considerada a cidade ainda habitada mais antiga do mundo. E também Hebrom, Belém, Jenin, Nablus, Al-Bireh e Ramallah, onde hoje se situa a sede da Autoridade Palestiniana. 

Para passar o muro para o lado Israelita existem cerca de 100 postos de controlo que é feito mesmo que os Palestinianos apenas pretendam dirigir-se para o trabalho. Muitos deles têm autorização para trabalhar em Israel ou nos colonatos, assentamentos israelitas. Os procedimentos burocráticos relativos a estas "autorizações" envolvem desde logo uma barreira: a língua. Estão em hebraico. Podem ser canceladas por diversas razões e dependem dos empregadores. Para conseguir alcançar os postos, passar a inspecção e chegar ao trabalho, dormem poucas horas por noite. A circulação de Palestinos entre os territórios da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza é assim dificultada, mas também por outros bloqueios ocasionais e mais informais, com obstáculos diversos e presença de soldados.

Em 1987 aconteceu a primeira Intifada ou revolta popular: palestinianos insurgiam-se contra a ocupação israelita em Gaza e na Cisjordânia e vigilância constante, atacando com pedras os militares e fazendo boicotes e manifestações. Israel respondeu militarmente. Morreu muita juventude palestina. O actual líder do Hamas revelou-se nestes confrontos. É por esta altura que é fundado o Hamas, movimento que aspira a libertar a Palestina, um grupo muito mais radical que proclama abertamente o seu ódio a Israel. 

Em 1993, Yasser Arafat, líder da OLP e Yitzhak Rabin, por Israel, assinam os acordos de Oslo - uma troca de terra por paz - que criavam uma Autoridade Nacional Palestiniana para governar a faixa de Gaza e a Cisjordânia e os dois Estados são reconhecidos. Esta é dividida em 3 áreas: com controlos diversos, Zona A, controlada civil e militarmente pela Palestina; Zona B, controlada pela Palestina, mas policiada pelo exército israelense; Zona C, controlada civil e militarmente por Israel. Mas diversos factores levaram ao fracasso dos acordos de Oslo, tanto acções de grupos palestinos como o fortalecimento de grupos da extrema direita em Israel, levando ao assassinato de Rabin em 1995 por um estudante de Direito (ironia, não?)  israelense. Rabin, um soldado de Israel, partilharia o Nobel da Paz com Arafat, um caso inspirador de um homem que fazia a guerra mas que entendeu a importância da paz.

Uma segunda Intifada, cinco anos de violência, começou em 2000. Ariel Sharon, líder do partido de oposição da extrema direita israelense, fez um discurso reafirmando o controle sobre os territórios reivindicados pelos Palestinos. Naquele mesmo mês, Sharon visitou a mesquita de Al Aqsa, na parte árabe de Jerusalém. Os palestinos encararam a visita como uma provocação. Seguem-se manifestações e repressão. Granadas, tiroteios, homens-bomba. Ruínas, destruição, covas colectivas. Israel envia tropas e tanques para seis cidades palestinas em resposta a atentados suicidas em Jerusalém. O assassinato de Muhammad Al-Durrah, de doze anos de idade, por forças israelenses, gravado em vídeo pelas equipas de televisão francesas, corre mundo. O pai sobrevive aos ferimentos de uma chuva de balas de 45 minutos. Israel diz lamentar a morte mas acusa os Palestinianos de usarem as crianças cinicamente nos embates.

Quando Arafat morreu, Mahmmoud Abbas preside à Autoridade Palestiniana e pede paz. Em 2007, o Hamas e o Al Fatah o maior grupo da Organização de Libertação da Palestina, disputavam a liderança e é o Hamas - Movimento de Resistência Islâmica - quem ganha por maioria absoluta. Ou seja, os territórios palestinos estão separados geográfica e até politicamente, pois a Cisjordânia é governada pelo partido moderado Al Fatah, liderado por Mahmud Abbas. 

Em 2012, as Nações Unidas concederam o estatuto de "estado observador não-membro" ao Estado da Palestina. Tanto Israel como a Autoridade Nacional Palestiniana reclamam soberania sobre Jerusalém, a cidade-santa para três grandes religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. É em Jerusalém que está o lugar mais sagrado para os judeus, o Muro das Lamentações. A cidade foi a capital do Reino de Davi, o local do Templo de Salomão queguardava a Arca da Aliança e os restos das tábuas dos Dez Mandamentos. Uma das paredes desse templo é o Muro das Lamentações.Ao lado fica a mesquita de al-Aqsa, do século VIII, o terceiro lugar sagrado do Islão, depois de Meca e Medina. Para os muçulmanos este é o local onde o profeta Maomé subiu aos céus, o mesmo da Arca da Aliança.Um dos lugares mais sagrados para os cristãos, a Basílica do Santo Sepulcro, fica pouco distante dali. Para os cristãos, Jesus realizou aqui milagres, foi crucificado, sepultado e ressuscitou. Como não sou religiosa, o facto deste lugar tão sagrado para tantos se ter tornado num foco constante de violência, faz-me pensar, mais uma vez, que as religiões servem mais depressa para justificar perseguições e actos de guerra do que para serem instrumentos para fazer a paz. No entanto compreendo que à disputa da terra junta-se a disputa pela herança religiosa, com enorme peso para estes povos.

Desde 2014 que ocorrem ondas de violência que terminaram com cessar-fogo mediados pelo Egipto, Qatar ou Organização das Nações Unidas (ONU). Ao longo do tempo, as tentativas de reconciliação com o rival palestino Al Fatah falharam. O Hamas não quer a paz nem um Estado de Israel. 

Em 2020 é apresentado por Trump e Benjamin Netanyahu, o Acordo do Século para o Oriente Médio destinado a resolver os problemas históricos entre Israel e a Palestina, que promove o reconhecimento de Israel como Estado judeu e Jerusalém como sua "capital indivisível". Além disso, o acordo permite a Israel a anexação de todas as colónias na Cisjordânia e todo Vale do Jordão. Sem participação dos Palestinos na formulação do acordo, não se podia esperar um bom resultado. Além de ter originado protestos e violência, foi criticado pelo Hamas, rejeitado por Abbas e pela ONU que apoia a solução do conflito pela via de dois estados Israel e Palestina deverão viver lado a lado em paz e segurança, com fronteiras reconhecidas a partir dos limites demarcados antes de 1967. Alguns países Árabes -  Arábia Saudita, Egito, Catar - embora este defenda a solução da ONU - e Emirados Árabes Unidos, apoiaram o acordo, Jordânia e Turquia posicionaram-se contra.

A situação humanitária dos Palestinianos em Gaza há muito que está num impasse e a mudança eleitoral verificada esta semana não faz antever melhorias. O novo primeiro ministro de Israel ainda não há um mês andava nas redes sociais a dizer sem fundamento que o Hamas estava aquartelado num hospital em Gaza e que dali que conduzia as suas acções terroristas contra Israel, sendo, no entanto verdade que o  Hamas, através das brigadas Izz ad-Din al-Qassam, recorre ao terrorismo como forma de combater Israel. Já se sabe que provocações geram respostas belicosas.

O princípio do caos verificado em Maio passado começou com um despejo de sete famílias palestinianas do bairro de Sheik Jarrah, em Jerusalém Oriental, ao abrigo da "Lei da Ausência", que permite aos judeus reivindicar habitações e terrenos com fundamento em alegados direitos de propriedade do século XIX. Imóveis de Jerusalém estão a ser reivindicados por um grupo de colonos judeus nos tribunais israelenses e há dezenas de famílias palestinas na sua mira. Existem leis para judeus e leis para árabes, e aqui se incluem os árabes judeus, tratados amiúde como cidadãos de segunda. A manifestação a exigir justiça foi duramente reprimida e fez despoletar conflitos locais entre judeus e muçulmanos em várias cidades israelenses, estendeu-se de Jerusalem a Gaza, culminando no confronto mais violento desde 2014, (cerca de 2000 palestinos mortos) com ataques aéreos, foguetes do Hamas e mísseis a cruzarem os céus, a morte de um comandante do Hamas, mas muitas perdas civis e destruição de estruturas vitais na Palestina. A população civil de Gaza viveu dias e noites de terror sob o fogo dos projécteis de ambos os lados, temendo uma invasão por terra e a escalada da situação para uma verdadeira guerra. 

Em Israel além dos conflitos entre Árabes e a polícia, lamentaram-se doze vítimas mortais, duas delas crianças, mas apesar dos muitos disparos do Hamas, as perdas de vidas por foguetes foram na sua maioria evitadas pelos caças ou sofisticado sistema de defesa antimísseis. Nas cidades mistas de árabes e judeus como Haifa, Lod e Jaffa onde árabes e judeus convivem, a violência aconteceu por via de linchamentos, apedrejamentos e tiroteios. Em Jerusalém Oriental,- judeus e palestinos que são a maioria a residir aqui - podem evitar-se uns aos outros facilmente. Naquelas cidades a convivência pacífica é aparente e o racismo mútuo traduziu-se em ofensas físicas e destruição da propriedade.

Mohamed Abbas, foi eleito presidente em 2005, está  há mais de uma dezena de anos no poder tal como Netanyahu, que só agora foi afastado da função, também não mostra ter qualquer controlo sobre o Hamas. Infelizmente, tanto a Europa como os Estados Unidos tendem a ver tudo o que envolva a Palestina através das acções deste. Só que a Palestina não pode ser reduzida às acções do Hamas. Durante o Ramadão e após combates em Jerusalém Oriental, a parte palestina da cidade ocupada e anexada por Israel, a polícia israelita lançou balas de borracha e granadas de choque contra a mesquita de Al-Aqsa depois de ter recebido pedradas. Então o Hamas aproveitou de imediato esta situação e disparou foguetes e Israel retaliou.

Na sequência dos ataques de Israel que visavam túneis e infraestruturas miliatres, mas também blocos habitacionais, onde eles afirmavam estar equipamento e armamento do Hamas, morreram cerca de 250 palestinianos: 32 mulheres, cerca de 60 eram crianças, entre civis e combatentes. Quando há vítimas civis Israel culpa o Hamas que diz estar infiltrado junto com a população que lhe serve de escudo. Contrariamente, Israel considera- se escrupuloso porque avisa antes de mandar uma torre ao chão e evitar mortes. Mas no ataque aos túneis, várias moradias de civis foram pelos ares: morreram 42 pessoas. A culpa dessas mortes, diz Israel, é do Hamas por fazer túneis tão próximos das casas. Foi um grande azar, disseram os israelitas. Quando se bombardeiam as estradas, é também porque há túneis por baixo, e  quando se matam civis é porque moram ao lado do Hamas ou apenas porque o diabo da Palestina é tão pequena e tão densamente povoada. 

O excesso israelita foi evidente e motivou uma onda de indignação geral, até junto daqueles que habitualmente estão sempre do seu lado. Resumindo: casas, escolas, hospitais e negócios, as estradas que conduziam aos hospitais de Gaza foram bombardeadas impedindo os cuidados aos feridos. Também uma torre onde estavam sediadas agências noticiosas como a Associated press ou a Al Jazeera. O que resultou de toda esta destruição? Mais destruição, mais ódio. E reforço do movimento radical do Hamas. 

Depois veio o cessar-fogo mediado pelo Egipto, elogiado pelo Papa. E assim terminou mais um surto de violência que ciclicamente nos habituámos ver nas TV entre judeus e árabes. As vidas de Palestinos e Israelitas têm sido massacradas por gerações, em momentos e locais diferentes do globo. O território da Palestina tem vindo a ser progressivamente apagado do mapa. É frustrante percorrer a cronologia dos eventos que nos conduziram ao presente. A coexistência dos dois Estados em paz não será fácil, mas não quero acreditar que seja impossível. O que se me afigura impossível é consegui-la enquanto continuarem a cuspir foguetes e mísseis e balas. O diálogo é o caminho, pelo que, antes de pedirmos a paz, talvez seja primeiro preciso exigirmos o fim da guerra.

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