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A mostrar mensagens de agosto, 2020

O poema mais longo de Cesário Verde: Nós

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  I Foi quando em dois Verões, seguidamente, a Febre E o Cólera também andaram na cidade, Que esta população, com um terror de lebre, Fugiu da capital como da tempestade. Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas, (Até então nós só tivéramos sarampo), Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo! Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga: O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos; Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga. Na parte mercantil, foco da epidemia, Um pânico! Nem um navio entrava a barra, A alfândega parou, nenhuma loja abria, E os turbulentos cais cessaram a algazarra. Pela manhã, em vez dos trens dos batizados, Rodavam sem cessar as seges dos enterros. Que triste a sucessão dos armazéns fechados! Como um domingo inglês na city, que desterros! Sem canalização, em muitos burgos ermos, Secavam dejeções cobertas de mosqueiros. E os médicos, ao pé dos padres e coveiros...

Uma osga entrou em minha casa!

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Esta semana, ao final da tarde, vi uma pequena osga a descer pela parede da sala em direcção a uma estante repleta de livros. Um deles, o livro de Cesário Verde, onde o autor num poema, Nós , nos revela o amor que nutre pelo campo por oposição à cidade, onde reina a opressão do homem, assim escreveu: A nós tudo nos rouba e nos dizima: O rapazio, o imposto, as pardaladas, As osgas peçonhentas, achatadas, E as abelhas que engordam na vindima. Fui tomada pela surpresa e curiosidade, e, sobretudo, pela premente questão "como vou eu apanhar a osga"? Até à hora do jantar o animal por lá ficou, entre prateleiras, quem sabe indeciso sobre que leitura escolher! Durante o jantar imaginei-me a retirar todos os volumes pois queria apanhar o pequeno réptil antes de ir dormir. Não parecia haver alternativa. Estava morta de cansaço e essa perspectiva era bem o oposto da noite descansada que o meu corpo pedia! Tinha abanado alguns livros escolhidos a esmo, feitos ruídos macacos, cham...