Uma osga entrou em minha casa!



Esta semana, ao final da tarde, vi uma pequena osga a descer pela parede da sala em direcção a uma estante repleta de livros. Um deles, o livro de Cesário Verde, onde o autor num poema, Nós, nos revela o amor que nutre pelo campo por oposição à cidade, onde reina a opressão do homem, assim escreveu:

A nós tudo nos rouba e nos dizima:
O rapazio, o imposto, as pardaladas,
As osgas peçonhentas, achatadas,
E as abelhas que engordam na vindima.

Fui tomada pela surpresa e curiosidade, e, sobretudo, pela premente questão "como vou eu apanhar a osga"? Até à hora do jantar o animal por lá ficou, entre prateleiras, quem sabe indeciso sobre que leitura escolher! Durante o jantar imaginei-me a retirar todos os volumes pois queria apanhar o pequeno réptil antes de ir dormir. Não parecia haver alternativa. Estava morta de cansaço e essa perspectiva era bem o oposto da noite descansada que o meu corpo pedia! Tinha abanado alguns livros escolhidos a esmo, feitos ruídos macacos, chamado por ela, "Hei, osga, aparece, miúda"! Mas a bichinha recusava-se a dar um ar de sua graça, para minha desgraça. Intimidada ou cautelosa, continuava resguardada na literatura. Poderia eu encantar a osga como fez o flautista de Hamelin com os ratos?

Depois de arrumar a cozinha voltei à sala e examinando paredes topei a osga encastrada num canto do tecto, imóvel, a cauda ondulada do tamanho do corpo. Fiquei aliviada por não ter de descarregar a livraria mas ainda tinha de resolver o problema da captura. Metro e meio de gente que sou, e ainda por cima atreita a vertigens, assim fiquei presa entre a escada e a parede, ou melhor dizendo, o tecto, aonde tinha de chegar. A ideia de subir a bancos e escadotes para alcançar o réptil já me estava a deixar novamente perturbada. Não tenho redes nem camareiros pelo que improvisei então uma apanha-osgas com um tubo vazio de Pringles, achava eu com largo e suficiente diâmetro, e uma saca plástica transparente, tudo bem preso a um cabo de Vileda, confiando que com aquela engenhoca e alguma sorte conseguiria apanhar a osga. Não estava à espera de tamanha luta. A agilidade e velocidade do animal surpreenderam-me. As minhas vãs tentativas não o teriam sequer sido se soubesse um pouco mais sobre as capacidades atléticas e acrobáticas da osga! De barriga colada ao tecto e cabeça para baixo, sem tonturas, tremeliques ou hesitações, ela corria pelo tecto com uma perícia insultuosa e eu parecia uma tontinha a persegui-la fazendo gincana entre bancos, cadeiras, poufes e mesas, arriscando derrubar um jarrão chinês, uma jarra de vidro da Marinha Grande e outras fragilidades decorativas. A bicha parecia gozar à brava com a minha impotência. Saracoteava-se pela superfície branca alegremente qual Shakira. Já me doíam o pescoço e os ombros quando ela começou a descer pela parede e se escondeu de novo, desta vez atrás da escrivaninha de estilo inglês. Foi a minha sorte e a sorte dela, mas sobretudo a minha pois sentia-me já exasperada ante a perspectiva de passar a noite a correr em vão pela casa. Julho foi um carrossel que Agosto ainda não viu abrandar. Estava cansada e só me queria ir deitar. Mas como, sabendo que andava um réptil à solta por ali, um pequeno dragão de parede, ainda que simpático e inofensivo?

Ao perceber que a bicha estava por baixo da escrivaninha, naquele compartimento sem fundo que separa a última gaveta do chão, resolvi selar a sua saída com a ajuda de vários sacos do lixo tamanho XL, bem amarfanhados, colocados entre a parte posterior do móvel e a parede, onde o rodapé começa. Assim tive a certeza que a bicha estaria ali no dia seguinte à espera da minha intervenção, desta vez, perspectivava eu, mais planeada e eficaz. Foi assim que me fui deitar e antes de apagar a luz ainda fiquei acordada a olhar o tecto e a pensar na osguinha marota. Sim, devia estar agradecida pela presença da Shakira na minha casa. Afinal ali estava uma arma letal e não tóxica, de potencial longa duração, com resultados comprovados, de qualidade-preço praticamente imbatível, a solução natural e biológica para a eliminação dos mosquitos que eu tanto odeio. Adormeci dividida entre o dever de libertar a Shakira no seu ambiente silvestre ou e a hipótese mais egoísta de a adoptar.

Depois de uma noite de sono, logo após o pequeno-almoço, dei início à Operação Libertar Shakira. Fiz um paralelepípedo de 20cm com um cartão ao qual fixei com voltas generosas de fita adesiva uma saca plástica transparente, grande. Coloquei esta armadilha no chão, bem entalada entre a escrivaninha e o rodapé da parede, assegurando que o caminho para o túnel improvisado e saca estava desimpedido e que não havia buraquinho por onde a Shakira pudesse escapar e regressar ao tecto da sala da minha angústia. Para incentivar a bicha coloquei uma luz no chão, na proximidade da saca. Esperei um pouco mas já desconfiava que só ao final do dia teria sucesso, pelo que apaguei o candeeiro e fui à minha vida, desejando que a osga não se fizesse rogada pois queria devolvê-la quanto antes sã e salva à Natureza. Desconfiava que tivesse vindo de um terreno em frente à casa, um pedaço de terra mal amanhada com vegetação e lixo à mistura, árvores, muros com hera e ruínas de uma casa antiga. Aí devia retornar a simpática intrusa, assim fosse esperta ou apenas fizesse o que o instinto lhe manda: sair do escuro para a luz para se alimentar.

Acabado o almoço fui ao Google pesquisar o que deveria usar para atrair osgas a armadilhas pois comecei a duvidar da minha ciência improvisada. Percebi que teria de ir à caça de grilos, baratas, aranhas, ou moscas e mosquitos, os snacks preferidos da osga, sem dúvida mais saudáveis que as Pringles. Avaliando o meu êxito como caçadora até ao momento, descartei a hipótese de imediato. Lembrei-me ainda das aranhas de borracha que usei na decoração do Halloween, mas decerto a osga não se deixaria enganar pelo truque. Também encontrei dicas de repelentes caseiros para lagartixas: alho, cebola, pimenta, naftalina, enfim, coisas mal cheirosas. A presença de cascas de ovo indica à osga que existem bichos nas imediações, funcionam como ameaça. Borrifos com água gelada supostamente paralisam o animal facilitando a captura. Não testei nenhuma das duas. Também encontrei soluções radicais, venenos, sumamente desaconselháveis, tendo em conta que as osgas são seres inofensivos e de grande utilidade para nós. Outra hipótese seria pedir um gato emprestado ao vizinho. Saí do Google como entrei.

Quando regressei ao fim da tarde fui espreitar a saca transparente e nada de Shakira. Teria de fazer uma espera à bicha e quando ela aparecesse, zás!, bastaria apanhar a saca com uma mão vedando-lhe facilmente o retorno à "toca"! Depois do duche voltei à sala e lá estava ela! Andava a passear na saca, toda esperta. Mas quando me viu correu veloz para se esconder! Felizmente enganou-se no caminho e enfiou-se numa nesga entre o cartão revestido pela saca e parede. Lá ficou, muito engraçada, com parte da cabeça de fora, como que a espreitar-me. Estava tudo a correr bem: agarrei a armadilha e fechei a entrada do túnel de cartão. Operação Libertar Shakira quase concluída, pensei. Finalmente tinha a Shakira ensacada e pronta para ser devolvida à liberdade, o que fiz de imediato. Atravessei a rua e fui até à vegetação, longe da estrada. A bicha não queria sair da saca e mesmo quando no chão, não se pisgou dali como um foguete. Pata ante pata, olhava ao redor. Passou-me pela cabeça que talvez desejasse ser minha inquilina, que teria gostado da biblioteca, mesmo com o Cesário a escrever impropriedades sobre si! Mas, não. Estava apenas a ser cautelosa antes de se entregar ao seu destino.

Depois deste episódio dei uma volta pela internet e encontrei muita informação sobre as osgas que desconhecia. Aqui deixo um resumo que contém alguns factos extraordinários. Leiam e pode ser que se um dia vos aparecer uma osga em casa não se sintam compelidos a matá-la, pensamento imediato de muitas pessoas, em especial nos meios mais urbanos. A osga é um réptil que convive connosco quer nos campos quer nas cidades, onde entra em casas e tanto é capaz de provocar espanto e repugnância, curiosidade e horror, sentimentos muito contraditórios e extremados. Importa repetir: a osga é totalmente inofensiva e trás benefícios aos seres humanos pois alimenta-se de insectos muito indesejados – traças, moscas e mosquitos - e rastejantes como as baratas. Entre Fevereiro e Outubro as osgas, também conhecidas por sardas, andam por aí na sua missão e devíamos todos estar gratos pela sua existência.

A osga é um animal do tipo dos Cordados, da classe dos Répteis, da ordem dos Escamosos e da família dos Geconídeos, constituída por cerca de 800 espécies. A osga que entrou em minha casa é uma osga-moura, (Tarentula mauritanica), a espécie mais vulgar em Portugal. Pode encontrar-se na Europa, mais especificamente na Bacia do Mediterrâneo e nalgumas zonas costeiras, e no Norte de África. Em Portugal está espalhada praticamente por todo o território continental, em especial no Algarve, junto à fronteira com Espanha, e ainda na área de Lisboa e na Península de Setúbal, sendo menos frequente na zona costeira a norte de Lisboa, especialmente acima do rio Mondego, sendo bastante abundante nas zonas interiores do país. É provável que a osga comum, (Tarentola mauretanica), tenha chegado a Portugal em navios proveninentes de África, ou, no caso da Osga turca (Hemidactylus turcicus), da Ásia. Além destas há que referir a Osga-das-Selvagens (Tarentola bischoffi), que é uma forma endémica do arquipélago das Selvagens, Região Autónoma da Madeira, Portugal. As espécies mais aparentadas com ela encontram-se nas ilhas de El Hierro e Gran Canaria, no arquipélago das Canárias, Espanha. Estas são as espécies que se podem encontrar em Portugal de acordo com o Atlas dos Anfíbios e Répteis.

Os adultos crescem entre 8,5 e 15 cm. O corpo apresenta pele escamosa e é achatado e granuloso, com protuberâncias cónicas em filas da cabeça à cauda. A cabeça é larga e de formato triangular, fazendo lembrar a das serpentes. Em situação de perigo pode perder a cauda (propriedade a que se dá o nome de autotomia) para distrair o predador e escapar, que se regenera depois, mas mais lisa e mais clara. De cor predominantemente cinza pardo ou acastanhada e ventre claro, apresenta manchas escuras que ajudam à sua camuflagem. A cor muda consoante a intensidade da luz que a pele recebe: se activa durante o dia apresenta-se mais escura. Olhos têm uma pupila vertical, que à noite se abre. São grandes e próprios de animais nocturnos. A íris é de cor cinza. Não têm pálpebras e antes uma escama transparente que cobre os olhos, pelo que para os manterem húmidos e limpos, lambem-nos.

As osgas têm 5 dedos que na base aparesentam lamelas. As suas patitas abertas até fazem lembrar as nossas mãos. Mas isso é uma observação banal. O que é extraordinário é que as patas permitem-lhe deslocar-se verticalmente 1 m por segundo e fazer 30 passos por segundo. Elas ligam-se e desligam-se das superfícies em microsegundos graças a propriedades únicas que têm intrigado os estudiosos desde a Antiguidade.

As fêmeas são mais pequenas que os machos e têm unhas em todos os dedos, que permanecem quase sempre escondidas. Os machos, com unhas apenas no terceiro e quarto dedos, são dominadores e defendem o seu território, a sua morada e zona de caça. Acasalam na Primavera e no Verão nascem as osguinhas após 40-120 dias de incubação. Os ovos são postos em grupo, num mesmo local, por várias fêmeas. Dos dois ovos, em posturas quatro a seis vezes por ano, redondinhos, sairão juvenis que medem 1-4 cm. Crescem devagar e em cativeiro podem viver até 8 anos, no seu habitat natural, 4 anos.

As osgas podem ser encontradas em edifícios no meio urbano sempre perto das luzes, porque estas atraiem os insectos, em estruturas diversas, casas abandonadas, jardins, ruinas, troncos, muros, em esconderijos, sempre em áreas onde existem insectos de que se alimentam.

Sendo de sangue frio não controlam a sua temperatura internamente buscando sol e sombra em alternância para a regularem. Podem entrar em brumação (espécie de hibernação própria dos répteis) no Inverno por ausência de suficiente luz solar, entre Novembro e Janeiro, ou, em zonas mais frias, entre Outubro e Fevereiro, vivendo das suas reservas de gordura, em grupo, em locais variados como frestas ou ninhos de ave abandonados.

Serem nocturnas não significa que não estejam activas durante o dia: ao amanhecer podem apanhar sol durante um par de horas. Em dias de Inverno ensolarados, no fim da estação fria, também vêm à procura de sol. Durante o dia escondem-se na sombra, sob as pedras aquecidas, uma forma de fugir aos seus predadores também. Daqui emitem as suas vocalizações, para comunicar socialmente, mas também as usam em defesa. Os machos são mais faladores, por exemplo, emitem sons antes de ir para a caça, as fêmeas só falam no período de acasalamento para procurar um parceiro! Caçam nas paredes, tectos e solos em modo de aproximação lenta: posicionam-se e depois atacam repentinamente num salto quando estão a 5-30 cm. Falham muito mas são persistentes, podendo percorrer até 10 m para alcançar a presa, por exemplo um grilo que ouçam a cantar à distância. Batem com as presas no solo (baratas, grilos) para as atordoar e depois devoram-nas também mais facilmente. Junto de luzes capturam insectos atraídos por ela. À noite, após o sol descer, aparecem em força. Até às duas-quatro da manhã, elas estão activas.

Em 350 anos A.C., Aristóteles já queria perceber como a osga conseguia trepar paredes e caminhar nos tectos de cabeça para baixo, desafiando a gravidade. As hipóteses explicativas foram-se sucedendo: garras, ventosas, adesivos, cargas electroestáticas. Mas não era assim. No séc. XIX Van der Waals foi o primeiro a especular sobre o que explica parte do fenómeno: ainda se colocava em causa a existência de moléculas quando ele avançou a hipótese da existência de forças intramoleculares. São elas e a sua espectacular morfologia que explicam a habilidade que ainda hoje nos surpreende tanto como a Aristóteles: as patas estão cobertas por uma série de camadas lobulares sobrepostas chamadas lamelas, constituídas por pêlos ceratinosos microscópicos, as cerdas, presentes por milhões. Eles não se alinham continuamente na vertical, como acontece num velcro tradicional, inclinam-se antes de forma oblíqua. Esta condição permite inúmeros pontos de contacto com a superfície que os animais conseguem "ligar" e "desligar" assim possuindo a capacidade de se locomovem, a alta velocidade, grudando e desgrudando, cada ponto permitindo a fixação de parte do peso do animal. Para remover uma pata da superfície, a osga curva os dedos dos pés para cima, enrolando-os.

Nos seus dedos existem meio milhão de pelos. Cada pelo, por sua vez, ramifica-se em centenas de pontas duplas chamadas espátulas. Cada espátula individual tem apenas 200 manómetros de comprimento, é invisível, excepto com o auxílio de um microscópio electrónico. As espátulas em combinação com as forças de Van der Waals e as superfícies, tiram partido das mínimas rugosidades existentes nas superfícies, como aqui se explica. Aranhas e outros insectos também exploram estas "forças" para se agarrarem e locomoverem.

Outro facto incrível é que as patas do animal estão sempre limpas: nada adere aos filamentos que assim se mantêm sempre impecáveis e adesivos. A osga corre um metro por segundo sobre superfícies rugosas ou polidas, mesmo cristais ou vidros, e adere a elas com força extraordinária. A osga pode suspender-se por um só dedo como se nada fosse. Se um homem de estatura média tivesse dedos como as osgas poderia suspender-se do tecto com uma mão.

Foi em 2000 que uma equipa científica chefiada por Robert Full avançou com esta explicação, que estava na área da física subatómica, mais precisamente nas tais forças, descritas pelo holandês Johannes Diderik van der Waals, Prémio Nobel de Física de 1910. Elas ocorrem no nível intramolecular e surgem como resultado da polarização das moléculas em dipolos, alterando a nuvem de eletrões. É dessas interações fracas que o animal se aproveita, usando-as para vencer a gravidade. Cada pelo microscópico ou cabelo é subdividido na sua ponta em milhares de terminações chamadas espátulas. Essas espátulas são tão pequenas, com dois bilionésimos de metro de largura, que estão abaixo do comprimento de onda da luz, e por isso só graças a tecnologia avançada foi possível medi-las e detectar sua interação com as superfícies. No nível das moléculas de superfície, as espátulas criam ligações químicas que reorganizam temporariamente os eletrões no material para criar uma atração eletrodinâmica. Para isso, os pelos devem ajustar-se perfeitamente à superfície do material, de modo que as espátulas interajam com os átomos do mesmo. E em tal interação não importa exatamente se o material é polido ou não, ou se está húmido ou não, porque tudo acontece entre as moléculas. E, o mais interessante, essa atração eletrodinâmica pode ser cancelada simplesmente mudando o ângulo de contacto das espátulas com as moléculas da superfície, - a pata não se "descola" da superfície como uma fita adesiva se desprende, ultrapassando a força que a mantém presa a uma superfície, mas simplesmente a atração cessa quando as espátulas ultrapassam um ângulo de 30 graus em relação à superfície, o que também explica aquela curiosa forma de enrolar os dedos para cima (vídeo) que as osgas usam.

Em Portugal, o sardão, a víbora-cornuda, a cobra-de-escada, a geneta e a coruja, são exemplos de predadores naturais que não constituem ameaça à sua abundância. Os gatos também costumam apanhá-las nas áreas urbanas e oferecê-las aos donos com orgulho. A poluição, o desmatamento, a presença de espécies invasoras e até mudanças climáticas globais podem ter impactos imprevisíveis na espécie.

Uma outra ameaça mais global e directa somos nós. Se, por um lado, há quem goste tanto de osgas que até as tem num terrário como animal de estimação, apesar de ser um animal silvestre, há também quem as odeie e mate de forma totalmente irracional. Ignorava que lhes dessem caça por razões tão diversas, na maioria própria de ignorantes. Desde a simples repugnância que sentem perante o animal, que compreendo, até ao culto de ideias antigas e crendices, totalmente infundadas, as osgas são perseguidas injustamente. Como Cesário Verde escreveu, há ainda quem acredite que as osgas são peçonhentas, ou que são venenosas, ou que são as responsáveis por um problema de pele chamado "cobro" ou "cobrão", que é, afinal, zona, - também designada por “herpes zoster”, uma infecção que se manifesta na pele por uma reactivação do vírus que provoca a varicela e que nada tem a ver com osgas - ou mesmo que cospem e provocam a calvície ou a cegueira com o cuspo! Talvez por serem animais de sangue frio são irracionalmente associados com a morte e geradores de sentimentos incontroláveis e medos. Mas como entender que há quem tema que se metam pelos nossos orifícios e nos devorem os órgãos e o cérebro?! Também se diz que comem roupa nos armários ou que vêm ter connosco à cama para nos picar nos dedos e sugar o sangue! Li uma notícia: até há quem as coma! Neste mundo há sempre alguém que come um bicho que mais ninguém consegue imaginar comer! Não, não foi um chinês. Coitado do povo chinês! Acabem lá com essa piada xenófoba. Foi um australiano que acabou por morrer com salmonela, já que é comum que os répteis contenham a bactéria no estômago e que saia nas fezes, podendo ser fonte de infecção para os humanos. Pois, tenho então que dar razão a quem o diz: efectivamente as osgas podem entrar por um dos nossos orifícios, ahahah, com o nosso consentimento gastronómico. 

As osgas não cospem, não têm venenos nem transmitem o vírus zoster, nem mordem, - podem mordiscar os nossos dedos se as molestarmos, - , não se alimentam de trapos, - parem de as confundir com as traças - e não são nenhumas vampiras sugadoras de sangue. São, isso sim, criaturas benéficas por serem eficazes no controlo de pragas que muito nos afectam e causam prejuízo. Por isso peço ao leitor que não mate uma eventual osga que entre furtivamente na sua habitação, quem sabe desejando ser sua inquilina a troco de trabalho como eliminadora de pragas. A solução mais amistosa e justa é dar-lhe ordem de despejo na Natureza! Se tem receio de répteis, ou mesmo fobia, ou sente repugnância por eles, pode comprar um repelente e pulverizar o exterior das suas janelas e portas, sempre fica mais tranquilo. Matar não é solução.

N. B. Tentei ser o mais correcta possível mas encontrei contradições nas fontes consultadas pelo que alguns dados sobre a biologia da osga, por exemplo, tempo de incubação dos ovos, podem não ser precisos.


Sugestão de leitura


Ficha da osga comum - Mitra-Nature

Fotografias da osga-comum - BioDiversity4all

Repelente para répteis - aqui

Praga de osgas na capela de S. Leonardo de Galafura

Osga-Moura ou Osga-Comum: Características, Habitat e Fotos

Tarentola Mauritanica, vídeo

La pata del geco - Mauricio-José Schwarz

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