Laurinda, linda, linda, em versão tradicional e alternativa


Oh! Laurinda, linda, linda (bis)
És mais linda que o Sol
Deixa-me dormir uma noite
Nas dobras do teu lençol.

Sim, sim, cavalheiro, sim (bis)
Hoje sim, amanhã não.
Meu marido não está cá
Foi p'ra feira do Gravão.

Onze horas, meia-noite (bis)
Marido à porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu.

Ou ela está doentinha (bis)
Ou já tem um novo amor.
Ou então procura a chave
Lá no meio do corredor.

De quem é aquele chapéu (bis)
Debruado a galão?
É para ti meu marido
Que o fiz eu por minha mão.

De quem é aquele cavalo (bis)
Que na minha esquadra entrou?
É para ti meu marido
Foi teu pai que to mandou

De quem é aquele suspiro (bis)
Que ao meu leito se atirou?
Laurinda que aquilo ouviu
Caiu no chão, desmaiou.

Oh Laurinda, linda, linda (bis)
Não vale a pena desmaiar.
Todo o amor que eu te tinha
Vai-se agora acabar.

Vai buscar as tuas irmãs (bis)
Trá-las todas num andor.
E a mais linda delas todas
Há-de ser o meu amor


Escute aqui, na voz de Vitorino, o tema Laurinda, do LP Flor de la Mar.

Escute também  aqui a versão na voz de Mariana Vitorino, do LP Anthology of Portuguese Music, gravado por Giacometti e Fernando Lopes Graça.

"Laurinda, "é um tema popular do Algarve, recolhido em 1962, no monte da Casa Velha, Alferce, por Michel Giacometti, um etnomusicólogo que um dia veio da Córsega para Portugal para resgatar muitas das nossas canções tradicionais do esquecimento:

"Enfim, importa frisar que, no Algarve, ao que parece mais que alhures, o processo de degradação do folclore musica, devido a influências várias que não cabe aqui dilucidar (a menor das quais, porém, parece não ser a divulgação da rádio) acelerou-se particularmente nesta última década. Eis porque o nosso empreendimento, por muito modesto que seja nas suas ambições e nos seus meios, se apresenta como obra de desesperada salvaguarda de um património em vastíssimas proporções irremediavelmente perdido." (Excerto do texto que acompanha o segundo video no YT)


Fui encontrar uma versão alternativa do affair da Laurinda, linda, linda no livro Romanceiro Tradicional, Versões Fictícias. Trata-se de uma proposta de Nuno Esteves, e pode ser comprado na WOOK, online. Os ingredientes destas páginas, leio na sinopse, são adultério, morte violenta, incesto, traição, envenenamento e calúnia, com ilustrações à mistura. É um original da editora Serrote que ficou conhecida pela edição de cadernos em impressão tipográfica. Não sei se a Laurinda, linda, linda merecia tal sorte, mas aqui fica para vossa apreciação.


Laurinda Anticonjugal

- Ó Laurinda, linda, linda, és linda como o cristal,
deixa-me dormir contigo, numa noite especial.

-Sim, sim, cavalheiro, sim, hoje é a noite ideal,
meu marido está pra fora, foi jogar o futsal.

Onze horas, meia noite, ouve-se um som anormal,
marido bateu à porta, num som nada cordial.

Bateu uma, bateu duas, Laurinda não deu sinal.
- Esconde-te no guarda-fatos, vai ser nosso funeral!

Laurinda lá abre a porta, da maneira habitual:
- Não te ouvia, meu querido, por causa do vendaval.

- De quem é aquele cavalo, que eu ali vi no curral?
- Foi teu pai quem to mandou, é da feira anual.

- De quem é esta camisa, com um padrão vegetal?
- E para ti, meu marido, comprei-a na capital.

- De quem são estes sapatos, com tiras de cabedal?
- Encontrei-os no outro dia, cá no comércio local.

- De quem é aquele suspiro, está no armário um pardal?
Laurinda cai desmaiada, da tensão arterial.

- Que horror, no nosso leito, é tão anticonjugal,
não desmaies, ó Laurinda, por este crime carnal.

Descansa, que não te mato, nem ali ao meu rival,
os males por vezes surgem como forma de sinal,

vai buscar as tuas irmãs, traz, as três num pedestal,
vou escolher a mais bonita, mas ainda não sei qual.

Sugestão de leitura:

Two bridges between Lisbon and Edinburgh , por José Joaquim Dias Marques (Universidade do Algarve: A balada portuguesa Laurinda (1) e a balada escocesa Our Goodman (2) pertencem a um grupo de baladas existentes em muitos países europeus que estão sem dúvida geneticamente relacionadas. A base de todas elas é o tema da mulher adúltera e esperta, surpreendida quase em flagrante pelo marido quando este volta de viagem. Este tema é desenvolvido através duma série de perguntas do marido sobre peças de roupa ou outros objectos que ele inesperadamente encontra ao regressar a casa e através duma série de respostas imaginativas da mulher, tentando escapar a ser desmascarada.

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