A monetização de conteúdos a todo o custo é uma praga
"Ao percorrer o feed do Instagram, muitas vezes você se depara com destinos de viagem incríveis, um após o outro. Todo mundo delirando com eles. Mas você realmente deve fazer as malas e reservar um voo para esses locais? Bem, provavelmente não.
Nosso artigo de hoje adverte sobre ser cauteloso com "locais Instaworthy". É uma compilação de impressionantes imagens editadas lado a lado mostrando aquilo que o espera na chegada a esses destinos. "
Nosso artigo de hoje adverte sobre ser cauteloso com "locais Instaworthy". É uma compilação de impressionantes imagens editadas lado a lado mostrando aquilo que o espera na chegada a esses destinos. "
A verdade da mentira das postagens instagiras é um tópico que tem que se lhe diga e por isso pensei que este artigo que me apareceu como sugestão de leitura fosse útil, ou tivesse piada. Nem uma coisa nem outra. Tempo perdido, o texto incorre nos mesmos vícios das fotos cheias de filtros que distorcem a realidade do mundo. As imprecisões devem até ser mais do que aquelas que reporto, não sei, não li tusdo, acabei por me limitar a fazer scroll e a descartar.
O artigo começa por afirmar que em Tóquio existe uma torre -a Roppongi Hills Mori Tower, - onde existem escadas rolantes de onde por sua vez se avista uma panorâmica impressionante sobre a cidade, excepto quando há neblina, que, por acaso, ainda atrai mais gente! Imaginem, os turistas gostam de ver um mar de neblina! Quem sabe? Até talvez seja giro! A foto do lado oposto mostra um vidro sem grande atractivo do lado de fora, a presença da neblina justificaria assim o engodo em que estaríamos a cair: a neblina não deixa ver nada. Ri-me alto e pensei para comigo que isso é o mesmo que sucede quando a gente acorda para uma manhã de neblina na nossa praia favorita, acontece: é normal. O facto de eu mostrar no Instagram uma fotografia da praia sem neblina não quer dizer que ela esteja sempre, sempre livre de neblina para possibilitar fotos instagramáveis. Naquele momento estava assim. E em muitos outros, no futuro, também. Faz parte da Natureza haver neblina nas praias! E nas grandes cidades como Tóquio, a presença de neblina e nevoeiro e poeiras e poluição, é deveras normal, onde é que a autora destas linhas vive? Ou crê que os candidatos a turistas serão todos uns idiotas ou ignorantes? Entretanto, fiquei curiosa sobre a tal torre, mais até com o detalhe das escadas, e fiz uma busca rápida sobre a torre descobrindo que o que não faltam em Tóquio - além daquela torre que parece a Torre Eiffel, uma muito conhecida, a "Torre de Tóquio" - são torres com miradouros. E então, no decorrer dessa busca, instalou-se a dúvida: as escadas rolantes da fotografia aparentemente pareciam pertencer a outra torre, não à Mori Tower aqui referida...ora vejam: elas estariam na Torre de Shibuya.
Desde o final dos anos 1950 que os arranha-céus e torres começaram a surgir em Tóquio. As vistas panorâmicas que esses edifícios oferecem não foram desperdiçadas pelos projectistas, e várias dessas estruturas incorporam decks de observação abertos ao público. Guia de Tóquio.
Roppongi Hills, ou colinas Roppongi, é um dos melhores exemplos de uma cidade dentro da cidade . O complexo de edifícios inaugurado em 2003 no coração do distrito de Roppongi, em Tóquio, possui escritórios, apartamentos, lojas, restaurantes, hotel, um museu de arte moderna, deck de observação e muito mais. Os andares de escritórios abrigam empresas líderes dos sectores de TI e financeiro. Roppongi Hills tornou-se um símbolo da indústria japonesa de TI. No centro de Roppongi Hills fica a Torre Mori de 238 metros, um dos maiores edifícios da cidade. Eis uma visitante da torre mostrando o espaço de observação envidraçado que aparece na publicação do site que referi, do lado direito.
A Torre Mori tem fama de ser o melhor mirante de Tóquio: o miradouro é, basicamente o seu heliporto. A torre funciona até as 20h e tem 2 opções de pagamento. A primeira é para subir até o último andar, onde se pode ver através do através do acrílico em 360º. No último andar, fica o heliporto, a pista não pode ser pisada, anda-se à volta, havendo ainda 2 miradouros em cada extremidade com alguns bancos para o visitante se sentar.
Roppongi Hills, ou colinas Roppongi, é um dos melhores exemplos de uma cidade dentro da cidade . O complexo de edifícios inaugurado em 2003 no coração do distrito de Roppongi, em Tóquio, possui escritórios, apartamentos, lojas, restaurantes, hotel, um museu de arte moderna, deck de observação e muito mais. Os andares de escritórios abrigam empresas líderes dos sectores de TI e financeiro. Roppongi Hills tornou-se um símbolo da indústria japonesa de TI. No centro de Roppongi Hills fica a Torre Mori de 238 metros, um dos maiores edifícios da cidade. Eis uma visitante da torre mostrando o espaço de observação envidraçado que aparece na publicação do site que referi, do lado direito.
Vídeo, aqui.
Já as escadas que se viam do lado esquerdo pareciam existir, sim, mas numa outra torre, em Shibuya. O nome Shibuya é familiar a muitos porque é lá que fica a estação que um filme protgaonizado por Richard Gere tornou conhecida do mundo inteiro. À saída de Shibuya é onde está estátua do cão Hachiko famoso pela sua história de fidelidade ao seu dono. Hachiko era um cachorro Akita que pertencia a Hidesaburo Ueno, professor de engenharia agrícola da Universidade de Tóquio que morreu em 1925 após sofrer uma hemorragia cerebral enquanto dava uma de suas aulas. O cão todos os dias esperava na estação que seu dono voltasse da Universidade mas houve um dia em que não voltou. No entanto, o fiel amigo continuou indo para a estação de Shibuya todos os dias por mais 9 anos. A poucos metros dali já se avista o também famoso cruzamento de Shibuya e as centenas de pessoas a atravessar as suas passadeiras. Ora, Roppongi fica longe dali, e por isso fiquei algo confusa quanto às colagem das duas fotografias. Não é impossível que existiam escadas rolantes em Mori mas os vídeos filmados em Shibuya é que mostram as escadas panorâmicas com muito destaque e é, realmente, uma vista fantástica. Vídeo, aqui.
"Fui ao observatório (Shibuya Sky) no telhado da Shibuya Scramble Square. Um novo local em Shibuya que acaba de abrir em 1º de novembro de 2019! O observatório na cobertura é cercado por vidro temperado, sem paredes ou cercas bloqueando a vista. O espaço que se espalha a partir dos seus pés é o melhor! Você também pode ignorar a travessia de Shibuya. Você também pode ver a Torre de Tóquio e a Sky Tree. O efeito das luzes de cruzamento (search lights) após o pôr do sol foi fantástico e bonito. Parece que um OVNI está prestes a aparecer. Há sofás e redes na espaçosa cobertura, para que você possa curtir a paisagem com calma. Você pode! (Se não estiver lotado...) São 213 lojas e restaurantes no complexo comercial do 2º ao 14º andar.Vídeo, aqui.
Após esta constatção fiz um scroll e apercebi-me de mais situações dignas de alguns reparos até que parei num par de fotografias da nossa instagramável praia do Camilo, para, mais uma vez me aperceber de que a autora em vez de ajudar os leitores a clarificar a situação apenas estava a contribuir para a criação de novos equívocos. Em suma, um texto enorme, repleto de print screens, sem links clicáveis para as fontes dessas fotos, muitas imprecisões, mal escrito, uma coisa muito mal amanhada, provavelmente para caçar visualizações e ganhar dinheiro com a publicidade. É um exemplo perfeito de uma praga que mais e mais me aborrece na Internet, onde até sites que se afirmam como de informação apresentam relatos sem qualquer rigor para manter o leitor preso ali, enquanto bombeiam publicidade.
Então escrevi para o site, porque, evidentemente, não tenho mais que fazer, a não ser escrever para um antro de desinformação onde ninguém irá sequer importar-se com o que escrevei e muito menos responder! Deu-me para isto: era a silly season, pois então! (Sim, esqueci-me desta postagem nos rascunhos e só hoje dei com ela! ) E ainda há quem critique o ChatGTP e as imagens geradas com AI! Venham os robots, pode ser que consigam meter ordem na internet, há muito transaformada em terra sem lei...! Este tipo de coisas - textos de m, vídeos de m...- dá-me saudades do tempo em que só existiam livros! Isso não quer dizer que os livros apenas contivessem verdades mas grande parte da internet é hoje um poço de muita invenção de conteúdos escritos ou filmados à força só para efeitos de monetização ou venda de alguma coisa.
Sim, - escrevi eu - o vosso artigo ( nem sei o que lhe hei-de chamar!) adverte sobre ser cauteloso com os locais Instaworthy e concordo que se deve ter cuidado. Mas se querem ser levados a sério, devem levar a sério o que publicam. Sou portuguesa, por isso vou apontar o que encontrei sobre um local português mencionado neste artigo. Duas fotos da Praia do Camilo, uma praia do Algarve, Portugal, são colocadas lado a lado. É uma praia muito pequena e durante o verão estará sempre cheia. Em maio ou setembro ou outubro será óptimo. São 200 degraus para descer, mas é um belo local.
As duas fotos fazem parecer que a influencer a exibe vazia durante o verão, quando uma das fotos provavelmente foi tirada durante o inverno, provavelmente, ou muito, muito cedo pela manhã. Portanto, esta situação refere-se ao tempo de visita a esse local. Depende do tempo de visita. Não é impossível encontrá-lo vazio. Quando é que a influencer tirou a foto original? Essa é a questão. Não é como apresentar uma foto editada do Picadilly Circus como um cruzamento sempre vazio aos olhos do público. Vocês nem mencionam onde fica essa praia. O Algarve não está no Mar Mediterrâneo, nem nas Caraíbas, nem nas Filipinas. Em todos esses locais, e também no Algarve, encontram-se praias que são boas para relaxar e outras que não o são. A Praia do Camilo é uma praia pequena e não é boa para relaxar porque estará sempre lotada a não ser de madrugada ou na baixa temporada. Então, talvez a influenciadora do Instagram, Kelly Gonzalez, - será que a Kelly existe mesmo? - não tenha sido precisa, mas o vosso texto deixa o público com uma ideia errada também, escrevi. Ela disse que o local era bom para relaxar? Durante o verão?! Ela estava mesmo lá? Ou ela apenas visitou e tirou uma foto? Muitos só visitam porque, ao chegar verificam que está lotado.
E depois conclui dizendo que, no meu entender, uma postagem mais curta sobre o tema, com fotos precisas, seria mais informativa e útil. Um texto grande como aquele parecia ser mais um texto para obter visualizações, assim como as fotos que os influencers sobem no Instagram. A ideia principal estava 100% certa. Mas a postagem levantava questões que iriam enfraquecer o ponto de vista. Nem era necessário invocar tantas situações para alertar as pessoas. Bastava apresentar situações à prova de qualquer crítica, ou seja, escrever um texto honesto.
Escusado será dizer que não houve resposta!
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