O vasto areal da Figueira da Foz foi colonizado por várias espécies de aves

Print Facebook- Fotografias de José Luis

Borrelho ruivo, Escrevedeira das neves, Tarambola dourada, Milherango ou Maçarico de bico direito, Pintassilgo, Cartaxo nortenho, Chaco cinzento, Papa moscas cinzento, Cotovia de poupa, Felosa musical, Verdilhão, Pilrito de peito preto, Pintarroxo, Poupa, Peneireiro de dorso malhado, Felosinha, Laverca, Petinha dos prados, Alvéola branca, Chaco cinzento, Rabirruivo, Alvéola amarela, Melro preto, Estorninho preto, Papa moscas preto, Chasco cinzento, Calhandrinha, Picanço barreteiro, Borrelho grande de coleira. O Luis Silva fotografou exemplares de todas estas espécies no areal da Figueira da Foz. As aves chegaram porque em 2009 se interrompeu a limpeza de vegetação no areal. Agora, uma parte dos munícipes quer que a vegetação seja limpa; outra, quer que fique. Mas o problema maior é que na Figueira há muita areia para a camionete de quase todos. 

No site da autarquia podem ler-se algumas linhas sobre o "ecossistema dunar": "As dunas são sistemas arenosos muito dinâmicos e frágeis que estão expostos à ação do vento, ondas, marés, e precipitação.A destruição do coberto vegetal nas dunas provoca o seu desnudamento. Solo “nu” é solo erodido, exposto aos agentes atmosféricos, físicos e químicos. A formação das dunas só é possível se existirem plantas costeiras (“Psamófitas”). Estas plantas têm características específicas que permitem a sua sobrevivência num meio hostil e condições “agrestes” típicas do litoral." E ainda: "Alguns Fatores que Provocam Destruição das Dunas: Pisoteio por pessoas; Pisoteio por viaturas diversas; Construções fixas sobre as dunas; Construções que conduzem ao aplanamento das dunas. "

Também se encontra online uma Petição que apela à conservação da vegetação dunar com este conteúdo:

Dr. Pedro Santana Lopes,

"Os signatários, munícipes, visitantes, amantes da Figueira da Foz, vêm solicitar a reversão da decisão de remoção do coberto vegetal anunciada por V. Ex.a e entretanto suspensa. Sabemos que existe pressão de munícipes no sentido de efectuar essa remoção, atribuindo a presença da vegetação a desleixo e a impacto visual negativo na paisagem. Parte dessa pressão radicará na memória de quando a praia tinha menor profundidade, quando o mar estava perto da muralha da avenida. Nessa altura a praia não tinha espaço para a natural fixação de vegetação. Parte será porque, com o aumento da profundidade da praia por acumulação das areias, se realizava a remoção activa da vegetação. Grande parte dessa pressão, acreditamos, advém de falta de informação, de desconhecimento da diversidade de plantas existente, da sua relevância como habitat para aves e polinizadores. Consideramos que a vegetação dunar na praia da Figueira da Foz constitui uma mais valia para a paisagem da Figueira da Foz e da sua praia urbana. Não há outra cidade que tenha a potencialidade de ter, na sua frente, uma praia e um jardim dunar. Este executivo tem demonstrado ser sensível às questões ambientais inclusivamente permitindo um jardim polinizador no Parque das Abadias, promovendo assim a biodiversidade. Como não aproveitar, assim, esta magnífica oportunidade de «criar», sem custos, um imenso jardim polinizador de 50, diferenciador da própria cidade? Possibilitando um verdadeiro espaço de usufruto dessa biodiversidade. Aproveitando para informar, para criar percursos, para valorizar a cidade. Quantas cidades gostariam de ter este privilégio? A manutenção da vegetação ameniza a travessia, promove a biodiversidade, fixa as areias. Não diminui a paisagem, valoriza-a! A sua remoção, além dos custos para a efectuar, promoverá um deserto de vida, uma monotonia visual, para além de facilitar o levantamento das areias que afectavam e voltarão a afectar a avenida e a frente urbana. Demorou uma década para a vegetação atingir este estado de diversidade de vida, de cores, de sons, de aromas. A sua remoção pode ser feita de um dia para o outro. Deve, por isso, ser muito bem ponderada, analisando o que se perde e o que se ganha. Por uma praia viva, pela paisagem, pela diversidade, pela Figueira da Foz, não removam a vegetação.Estamos disponíveis para apoiar essa valorização."

Em 2022, um munícipe  apelou à “a urgente necessidade de limpeza na Praia da Claridade”. Para Miguel Amaral, a vegetação rasteira e seca, não dignifica a paisagem. Em 2015 foi realizado um abaixo assinado para limpeza da praia, que reuniu 4000 assinaturas. Constata-se que não está só no seu desagrado, embora também não esteja muito acompanhado, verdade seja dita. Chamou a atenção para “a urgente necessidade de limpeza na Praia da Claridade”, - a remoção de plantas na praia terminou em 2009, - numa intervenção na reunião da Câmara, no período destinado ao público. Na opinião deste Miguel, que não sei quem seja, o que ficava lá mesmo bem era “a construção de uma segunda avenida paralela à avenida 25 de Abril, passando esta a regime pedonal, e trânsito local”. Ao ler isto não consegui deixar de me rir. A actual avenida anima-se um pouco ao fim de semana, em especial com o passeio domingueiro dos coimbrinhas e outros residentes das redondezas que vêm ver o mar ou fazer compras nos super. Mas durante a semana chega e sobra para os circuitos dos habituais; quando chega o verão, também é suficiente para o trânsito que ali circula, e a não ser que toda a gente este ano decida trocar a sua praia pela Figueira, deve continuar a ser assim. O passeio marginal também serve perfeitamente a necessidade das pessoas que ali esticam as pernas, correm, passeiam cães. Mas o Miguel quer outra avenida para os veículos e quer dar mais espaço pedonal a peões que ainda não nasceram.

Além disso, o plano do Miguel pondera ainda que “no meio das duas avenidas, sejam criados parques de estacionamento, zona de restauração e de lazer”. Imagino que tudo isto para alimentar o breve movimento da época alta, gente que viria com os seus automóveis de amanhã cedo e que parte ao final do dia, - como hoje acontece - e que tem de estacionar os calhambeques em algum lugar. Sem dúvida uma visão maravilhosa, da Esplanada Silva Guimarães, filas de estacionamentos, em vez das ervas selvagens. Do que recordo, a época alta é cada vez mais curta, e ainda não li que tivesse havido qualquer acréscimo populacional significativo no concelho. A única coisa que vi multiplicar-se foi supermercados. (E, depois de ler a publicação do Luis Silva, no Facebook, sei que as aves também se multiplicaram!) O Miguel acha que se este plano for avante é assim que se vai resolver o abandono da praia da Figueira por parte de pessoas de idade e de crianças. Agora são 1000 metros de extensão que nem as pernas frágeis dos miúdos estão preparadas para fazer nem as as cansadas dos idosos. São estas as condições que ele imagina suficientes para dar dignidade ao espaço e, sobretudo, para atrair "gente" disposta a ir a banhos. Parece-me muito razoável ter dúvidas quanto a estas previsões e pergunto-me se na Figueira não haverá mais ideias como pés para andar ou asas para voar.

Mais asfalto e cimento, no meu entender, não vão trazer mais dignidade ao espaço, sobretudo porque as pessoas não vão povoar essas estruturas nem ao volante nem apeadas. Não há pessoas. Primeiro a Figueira tem de aprender a fixar pessoas, tal como na areia  se fixaram aquelas plantas, sim, rasteiras e secas, mas são as próprias daquele habitat: o estorno, o cardo-maritimo, etc, pessoas que não apenas banhistas, essas criaturas que são meras aves de arribação. Depois de se fixarem as pessoas, então a Figueira poderá pensar em oferecer mais estruturas de lazer às pessoas para elas usarem e se recrearem, às que vivem na cidade e às que a visitem. De momento, as estruturas que existem chegam e sobram durante a maior parte do ano.

A Figueira é um deserto, a cidade, - não o seu areal pois descobri que este já foi capaz de atrair e de fixar novos habitantes de penas - durante a maior parte dos 365 dias do ano. É um dó ir de visita e calcorrear ruas onde outrora floresciam lojas cheias de comércio e passeios de gente em corropio, actualmente desertas, casas comerciais e habitacionais fechadas. Quantas pessoas deixaram a cidade? E, também, quantas vezes, vejo alguns passeios cobertos de ervas e matagal que, esse sim, devia ser aparado com regularidade. E o que acontecerá nas outras freguesias, vilas e lugares, que não visito? Não haverá por lá coisas pouco dignificantes a merecerem atenção do edil e de todos os figueirenses? E qual é o plano do Miguel? Que abram mais restaurantes na marginal e arruinem os do centro? Ou convidar os do centro para fecharem no centro fantasma e deslocarem-se para a marginal? Que se abram mais vias para as pessoas chegarem para visita e partirem?

Temos, então, duas polémicas em discussão na Praia da Claridade. Ou até três, ou muitas mais. mas a do momento é a da vegetação no areal, e outra, mais antiga, é a da areia acumulada na praia da Figueira da Foz. Fui viver para a Figueira nos anos 80 e desde então o areal não parou de crescer. Há um lamento contínuo que evoca a velha glória da Rainha das Praias, esse saudosimo tem paralelo em muitos outros lugares do país onde os habitantes mais velhos já não se reveem no lugar que habitam. Mas esse é um tempo que não voltará. A glória, uma outra glória, certamente, essa sim, poderá regressar se houver visão, algum arrojo e dinheiro. Dizem que o areal cresceu mais depressa depois do acrescento de 400 metros do molhe norte do porto comercial, é o que dizem, - universidades, estudiosos, surfistas, etc, - e eu, acredito. E o outro problema que tem atormentado, e muito, os moradores das praias a sul, é o da erosão costeira. Portanto, se eu fosse o munícipe em causa, eu deixaria a vegetação em paz, mais os planos de construção no areal pois a tragédia que importa resolver primeiro é esta: erosão e acumulo desmesurado de areias. Essa é a causa que tem de unir os figueirenses.  Uma causa urgente. 

A praia da Figueira da Foz tem o maior areal urbano da Europa e isso é que é trágico, indigno da cidade e da Natureza. Este é que é o crime ambiental ou paisagístico que deve indignar, não o acumulo de vegetação inestética, espontânea, própria das areias. O que é indigno é o lixo que as pessoas deixam na praia, os dejectos caninos que não recolhem das areias. A vastidão de areia é fruto da intervenção humana, a erosão a sul uma consequência. Não sei como é que foi possível tamanho erro, especulo que talvez porque não se ouviram as pessoas certas sobre as intervenções a realizar?

Os desastres acontecem, como este, que o José Luis veio colocar em evidência: a destruição de ninhos. Na praia com o areal mais vasto da Europa parece não haver espaço para aves e humanos coexistirem. Este fotógrafo é outro munícipe que eu também não conheço pessoalmente. Veio alertar as pessoas em geral através de uma oportuna publicação nas redes sociais para a necessidade de proteger a vegetação porque ela fixou uma população de aves de várias espécies, que, ao longo de todo o ano, povoam, ou ali se abrigam de passagem, dando vida ao vasto areal que as pessoas desprezam. Não só escreveu como juntou prova fotográfica. Concordo com ele quando diz que a vegetação não pode ser removida por capricho ou inclinação estética de alguns. Não podem essas ser razões invocadas para voltar a destruir o que a Natureza reparou. "Com a eliminação da vegetação será destruído o habitat de reprodução e descanso para muitas espécies de aves.", refere o fotógrafo. Preocupante o que ele afirma, mas parece não ser nada de novo. Os atentos, que não têm poder de decisão, dão o alerta e os que não sabem ou que não querem saber, mas que podem decidir, ignoram em virtude de agendas maiores: "a câmara da Figueira já demonstrou anteriormente não ter qualquer conhecimento em relação à biodiversidade da zona pois o ano passado autorizou a limpeza de uma área da praia com tractores onde se encontravam a nidificar os borrelhos de coleira interrompida e este ano também autorizou uma prova de enduro em plena época de reprodução das aves lá na praia passando mesmo por cima dos ninhos dos bichos." O Luis diz, e muito bem, que " é proibido em Portugal perturbar ou destruir ninhos de aves selvagens." Mas se quem manda ou não conhece a lei ou faz de conta não conhecer, como podemos confiar em quem nos governa? Um areal tão vasto e a ninguém lembrou antes de assinar despachos que era importante poupar os ninhos? Ou nem sequer sabiam que estavam lá? Por outro lado, o que faz, no site da Câmara Municipal, a informação sobre as plantas dunares? É apenas para ficar bonito no postal?

O homem buliu com o natural equilíbrio da Natureza e descaracterizou a costa figueirense com prejuizo notório que se agrava a cada ano, e agora é imperioso voltar a repôr esse equilíbrio. Isso é que é urgente e não remover a vegetação de um areal que ninguém frequentará, com ou sem vegetação. Ninguém, a não ser as aves, muitas, que não precisam de caminhar 1000 m para ver a rebentação. Remover vegetação na área onde os banhistas circulam, se for necessário, limpar lixos acumulados, é razoável. Limpar o vasto areal, é agora desperdício de tempo, de dinheiro, traduz-se em acréscimo de poluição e de eliminação de uma potencial fonte de riqueza: imaginem que uma areal de camarinehrias, por exemplo. Imaginem a distração visual que proporciona a quem percorre os passadiços, a vida que ali se instalou. Se arranjarem forma de devolver o mar à cidade, o falado bypass, metade do problema fica resolvido. Lentamente o hábito antigo de fazer praia junto à torre do relógio regressará à rotina dos banhistas. Não faltará espaço para construção, em sintonia com a Natureza, nem para a vegetação capaz de suster as areias, de as impedir de assolarem a cidade, além de permitir a presença de aves e insectos polinizadores. Ainda assim, terão também de ser equacionadas muitas outras vias para atrair habitantes e criar riqueza no concelho que não o mero turismo.

Há muita gente interessada na observação de aves (Birdwatching) e em bioblitz, (período intenso de levantamento biológico na tentativa de registrar todas as espécies vivas dentro de uma área designada) mas isso não deve ter passado pela cabeça do sr. Miguel Amaral ou poderia, por exempo, ter apelado à construção de abrigos para a sua observação, à criação de uma área privilegiada para o efeito, à criação de sinalética com imagens das aves que ali se podem observar, digo painéis interpretativos, à criação de um roteiro para observação de aves que se estenda da Morraceira à foz do Mondego, atraindo as pessoas ao centro da Figueira da Foz, etc. 

Aqui ficam meus "dois centavos" num mar de opiniões.

Comentários