Francis Smith pintou a alma portuguesa
Descendente de família inglesa, nasce em Portugal e estuda em Paris onde convive com Eduardo Viana, Emérico Nunes e Amadeo de Souza-Cardoso. Naturaliza-se francês, casa com a escultora francesa Yvonne Mortier e, a partir de 1907, vive nesta cidade com o apoio de uma pensão paterna. Dedica-se a uma pintura de memórias de Lisboa, em enquadramentos seriais de bairros típicos, expressivamente modernista. As suas crónicas de recantos lisboetas e cenas populares, repetidamente descritas e obsessivamente lembradas, contrariando a permanente ausência do seu país, transmitem sentimentos de saudade e inocência, em imagens de uma cidade idílica que atravessa tranquilamente um período agitado de crises sociais e políticas europeias. Nas suas representações de Lisboa, nas escadarias, parques, jardins, surge frequentemente uma figura masculina, recordação emotiva do pai, procurando uma ingénua qualidade cénica na visão lírica dos seus apontamentos, perdidos no tempo e num espaço sentimental. Amigo de Marcel Proust, afirma-se na Exposição Livre, de 1911, marco do Modernismo português. Espírito independente, saudoso de vivências bairristas lisboetas, revela referências francesas e um universo íntimo numa linguagem modernista e nacional. Expõe pouco e, a partir da década de 30, introduz as suas obras nos Salons: Peintres Témoins de leur Temps; des Indépendants; d’Automne; des Tuilleries; de la Peinture à l’Eau et du Dessin; des Comparaisons d’Asnières; des Grands et les Jeunes d’Aujourd’hui. Em 1963, a Association des amis de Francis Smith, formada no ano anterior, organiza uma exposição retrospectiva da sua obra no Musée Galliéra e atribui, anualmente, um prémio Smith.
Maria Aires Silveira
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