Papel higiénico verde e ecológico




Como disse Ghandi, "Be the change you want to see in the world." Robin Greenfield levou este mandamento a sério e alterou o seu modo de vida radicalmente. Não tem contas bancárias, não tem telemóvel, nem automóvel. Aprendeu a cultivar e a colher a sua comida, entre muitas outras aventuras. Embora as suas eco-escolhas não estejam ao alcance de qualquer um, não deixa de ser um exemplo de vida alternativa que merece a nossa atenção. Podemos questionar se vale a pena mudar a vida desta maneira radical, é algo que não está ao alcance de todos. Mas, sem dúvida, podemos tentar aprender alguma coisa com ele, e, quem sabe, adoptar alguma das suas ideias. Um pequeno esforço individual multiplicado por muitos indivíduos pode ter um enorme impacto colectivo. Todavia, eu aconselho sempre a examinar bem qualquer proposta deste género, por muito inspiradora, ou atractiva que surja aos nossos olhos. Transformar água em vinho só acontece por milagre e há coisas que, por melhores que sejam as nossas intenções, não conseguimos mudar.

O site de Robin Greenfield está repleto de informação e um dos projectos que captou a minha atenção foi o do papel higiénico verde. Robin Greenfield pretende que as pessoas, em especial os americanos, que são grandes consumidores do papel,  abandonem o uso de papel higiénico tradicional e passem a utilizar as folhas de uma planta. Neste vídeo - Grow your own toilet paper! - ele fala um pouco acerca da sua ideia.

Quem não se recorda dos vídeos da corrida às lojas para comprar papel higiénico - e até de alguns confrontos entre compradores! - no início da pandemia? O papel higiénico tem um importante papel no nosso quotidiano. É das tais necessidades transversais a todas as idades e estratos sociais. O papel higiénico é indispensável para uma vasta maioria mas muitos habitantes do planeta não o usam. A alternativa mais corrente ao uso do papel higiénico é a água e uso de um bidé, ou de um recipiente com água, para vazar.

Ao longo da história é fácil imaginar que, consoante a geografia, e, por exemplo, as posses, variadas coisas terão sido usadas antes da chegada das macias folhas de papel em camadas, recicladas e não recicladas, brancas, pardas, perfumadas e/ ou decoradas. Há uma história relatada por Séneca acerca de uma esponja sanitária, uma esponja enfiada na ponta de um pau, com que um gladiador se matou para não ter de ir para a arena. No tempo dos Romanos, a esponja comunitária, lavada em vinagre ou água salgada, devia ser passada de mão em mão, nas latrinas comunitárias, mas não há certeza se para limpar o rabo ou apenas a latrina. O que se usava com toda a certeza eram restos de cerâmica quebrada, bem polida, ou seixos, que eram macios. Não é difícil imaginar que pedras, conchas, paus, carolos de milho, folhas de plantas variadas, musgo, - o preferido dos vikings - feno, lã e depois pano, tenham sido usados para o efeito. Valia tudo o que funcionasse! Parece lógico que os chineses - que o inventaram - terão sido os primeiros a usar o papel, mas num primeiro momento apenas a família imperial pode beneficiar do prático e perfumado papel feito de arroz para a higiene dos traseiros imperiais.

Os marinheiros terão usado corda grossa desgastada, ou fibras de cordame abundante nos navios, agrupadas, em forma de pincel. Quando visitei uma nau, disseram-me  que a corda ficava pendurada no navio, mergulhada na água salgada. À frente do navio existiam uma espécie de latrinas, duas caixas com buracos, colocadas opostamente, que escoavam no mar. O vento, vindo da ré, afastaria os maus odores do alcance das narinas dos marujos. No século XVI o papel generalizou-se na Europa, pelo que a população começou a reciclar - sim, não lhe chamavam assim, mas era o que faziam! -  jornais velhos e mesmo alguns livros, para limpar o rabiote. Nos Estados Unidos, por volta do século XIX os catálogos tornaram-se populares na "casinha" porque eram impressos em papel macio e entregues gratuitamente. E até vinham com um furo no canto para ajudar a pendurar no local de alívio.

O papel higiénico de fabrico industrial, acessível a muitos, só surgiu, na Europa, no séc. XIX. Em 1857, Joseph Gayetty criou um produto feito de folhas de cânhamo com infusão de aloé. Era vendido em caixas e  destinado a tratar as  hemorroidas. Posteriormente, o produto deverá ter sido aperfeiçoado para ser macio e forte, características que, agora, Greenfield, também destaca como atributos chave das folhas da planta papel higiénico, como ele lhe chama.

Esta introdução serve para demonstrar que mesmo que a maioria possa torcer o nariz a esta ideia, o método "natural" que Greenfield defende com tanto entusiasmo é uma espécie de regresso ao passado, não é uma novidade. É, de facto, uma proposta ecológica, uma forma de gastar menos papel, de diminuir os resíduos e de poupar dinheiro,. Será, que, no futuro, todos os WC virão equipados com uma estufa e um vaso destinados ao boldo?

A iniciativa Grow Your Own Toilet Paper tem por missão apoiar milhares de americanos na mudança para papel higiénico caseiro em 2023. Fornecem mudas de planta ( Plectranthus barbatus / flor esporão azul / boldo) ou sementes de verbasco - adequadas a regiões frias - pelo correio para plantar em casa.

Greenfield já tem experiência no assunto pois, diz ele, tudo começou quando se mudou para Orlando, Flórida, em 2018. Ele plantou duas mudas da planta dadas por um amigo e no espaço de um ano tinha um arbusto  suficiente para sustentar uma família de cinco pessoas, além de mudas para compartilhar com centenas de amigos.

As razões que Greenfield invoca para promover o uso de plantas, em especial destas folhas grandes, macias e felpudas, em vez de papel higiénico são as seguintes:

  • A planta é fácil de cultivar, óptima para cultivadores iniciantes ou até mesmo como primeira planta.
  • Pode ser cultivada no solo ou em vasos.
  • A plante cresce e prospera facilmente.
  • Já não é preciso ter espaço para guardar aquele pack de papel higiénico.
  • Poupa-se bastante dinheiro ao usar a planta.
  • As folhas são mais macias que muitos papéis higiênicos no mercado.
  • As folhas são fortes, não vão quebrar no uso.
  • As folhas geralmente crescem do mesmo tamanho que um pedaço de papel higiénico.
  • Nas manhãs de orvalho, essas folhas peludas retêm a humidade. 
  • É da família das mentas (Lamiaceae), por isso tem um cheiro a menta!
  • Produz uma linda flor roxa.
  • As flores atraem beija-flores!
  • As folhas são usadas para diversos fins em chás.
  • As folhas podem ser colhidas e colocadas no banheiro e duram! (Greenfield diz que colheu folhas até três semanas antes de usá-las e elas mantiveram sua maciez, durabilidade e resistência. E que as levou consigo para o campismo, tendo guardado a folhas numa bolsa por mais de uma semana.)

Ele também sugere outra planta, o Verbasco, ( Verbascum thapsus), que tem sido usado como papel higiênico por muitas pessoas por centenas de anos. Dá-se bem em zonas frias, não nos trópicos.  Cresce bem  a partir de sementes. Prospera em pleno sol e é resistente à seca. 

E contras? Bom, Greenfield refere que algumas pessoas relataram uma erupção cutânea por usar Plectranthus barbatus em suas nádegas. Ele sugere esfregá-lo no pulso para ver se surge uma reação primeiro. As erupções duraram curtos períodos de tempo.  Também há a indicação de que a planta pode ser considerada invasiva em alguns locais e Greenfield não ficou muito preocupado com isso, bom, nem com isso nem com as comichões nadegueiras, aliás. Mas o melhor é lerem e não tomarem as minha palavras pelas dele.


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