Amor Combate - Um poema de JOAQUIM PESSOA




Litexa, 1985. In-8.º de 387-X págs.  [Amor Combate é a reedição integral da poesia de Joaquim Pessoa desde "O Pássaro no Espelho" (1975) até "Os Dias da Serpente" (1981) incluindo agora "A Morte Absoluta"].

Um dia, nos anos 80, entrei numa feira do livro em 2ª mão, em Coimbra, e numa pilha de livros que crescia do chão sujo encontrei este livro, Amor Combate: "Nos olhos de Isa a chuva grita e a noite Acende fogueiras."
Li-o de pé, todo. Foi assim que descobri e me apaixonei pela poesia. Depois deste, muitos, muitos outros, mas este foi o primeiro, sempre teve um lugar especial na minha estante.
"A morte é a forma mais silenciosa de comemorar uma vida inteira". Aqui deixo a minha gratidão sem fim e homenagem ao poeta Joaquim Pessoa, falecido ontem.

Amor Combate - Um poema de JOAQUIM PESSOA

Meu amor que eu não sei. Amor que eu canto. Amor que eu digo.
Teus braços são a flor do aloendro.
Meu amor por quem parto. Por quem fico. Por quem vivo.
Teus olhos são da cor do sofrimento.
Amor-país.
Quero cantar-te. Como quem diz:
O nosso amor é sangue. É seiva. É sol. É Primavera.
Amor intenso. amor imenso. amor instante.
O nosso amor é uma arma. É uma espera.
O nosso amor é um cavalo alucinante.
O nosso amor é pássaro voando. Mas à toa.
Rasgando o céu azul-coragem de Lisboa.
Amor partindo. Amor sorrindo. Amor doendo.
O nosso amor é como a flor do aloendro.
Deixa-me soltar estas palavras amarradas
para escrever com sangue o nome que inventei.
Romper. Ganhar a voz duma assentada.
Dizer de ti as coisas que eu não sei.
Amor. Amor. Amor. Amor de tudo ou nada.
Amor-verdade. Amor-cidade.
Amor-combate. Amor-abril.
Este amor de liberdade.


“A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções.
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas.”

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'



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