Ice Merchants, de João Gonzalez, é uma joia do cinema português
Numa iniciativa da distribuidora Cinemundo, o filme estreou em 33 salas de cinema espalhadas por todo o território, Continente e Ilhas. Está actualmente em exibição, em pleno fim de semana do Carnaval. Podem espreitar o seu trailer aqui, no canal da Cola Animation. Esta animação de João Gonzalez vai poder ser vista a preços acessíveis, o que possibilitará que muitas pessoas possam ir vê-la no grande ecrã. Envolvendo Portugal, França, Reino Unido, Ice Merchants é uma produção da Cola Animation com co-produção da Wild Stream.
O filme foi escrito, desenhado, animado, montado e musicado por João Gonzalez e produzido por Bruno Caetano e conta-nos a história de um pai e de um filho pequeno que todos os dias saltam de paraquedas, da sua casa no alto de um precipício, para alcançarem a aldeia que se situa abaixo, na planície, para vender o gelo que produziram durante a noite. Um dia a temperatura sobe e um desastre acontece. A história contada sem palavras aborda a solidão, a monoparentalidade ou a sustentabilidade do planeta. É o que tenho lido, esta segunda-feira espero descobrir o resto da história.
Surgem agora fotografias do jovem realizador ao lado de Guillermo del Toro, que este ano também está no certame com uma longa metragem de animação em stop-motion, "Pinóquio", nomeada para Melhor Filme da categoria, e, quanto a mim, a provável vencedora. E muitas apreciações como esta, publicada na Indiewire, sobre a curta de animação, são publicadas, enchendo-nos de orgulho, claro: "O filme mais visualmente impressionante dos indicados, o assombrosamente belo “Ice Merchants” é um conto familiar elegíaco ambientado na encosta de um penhasco. Aliás, também vem do cineasta mais jovem do grupo, o cineasta português João Gonzalez, de 27 anos, tornando “Ice Merchants” o primeiro filme português a receber uma indicação ao Oscar. Ilustrador e também pianista com formação clássica, ele compôs a comovente trilha sonora do filme. Reminiscente da ilustração tradicional japonesa, o estilo distinto de Gonzalez usa uma paleta limitada de cinzas, vermelhos e azuis, alternando o brilho para o sombreamento. Ele também joga brilhantemente com a perspectiva, transmitindo uma escala vertiginosa do cenário dramático do filme. A história sem palavras segue um pai e filho que vivem em uma cabana fria à beira de um penhasco com centenas de metros de altura, sustentada por um sistema de polias simples e cravada em uma enorme camada de gelo. Todos os dias, o pai amarra o filho no peito antes que a dupla salte de pára-quedas até a aldeia local. Quando a camada de gelo começa a derreter, eles devem fazer sua fuga ousada. Bonito de assistir e visualmente inventivo, “Ice Merchants” define o padrão para o futuro da animação."
É-me impossível dar qualquer palpite sobre quem vencerá nesta categoria onde pontuam os independentes, a ousadia, os grandes estúdios não assinam nenhum dos filmes a concurso. Não vi ainda nenhum dos filmes, e, possivelmente, não terei onde vê-los. Pode ser que Ice Merchants consiga cativar o público para a animação e que surjam oportunidades, mais oportunidades, de mostra para curtas em território nacional, além de festivais e pequenas iniciativas muito localizadas. Os anos passam e continuo a ter de explicar aos meu amigos e conhecidos que o cinema de animação não é um género menor e antes um géneros adulto e fascinante, onde tudo é possível fazer-se, sem limites à imaginação e ao experimentalismo. Sempre colho sorrisos de quem, no seu íntimo, me julga perenemente infantil, já me habituei. Sempre ouço "ah, não gosto", por mais que tente demonstrar com mil argumentos que vale a pena ver cinema de animação. O "ah, não gosto", entristece-me, sobretudo, quando vem de pessoas que não sabem o que estão a dizer pela razão simples de apenas conheceram o cinema que viram quando acompanharam os filhos pequenos ao cinema ou lhes organizaram matinés caseiras de pipocas e DVD. Depois disso os miúdos cresceram e elas cresceram disso também, arrumando o hábito como um casaco que deixou de servir! É pena, mas não ajuda o facto deste cinema de animação não ser mostrado com regularidade, nem nos Multiplex, nem na TV. Quem gosta, procura e acaba por encontrar. Onde? Na internet, claro. Mas não com as condições que me aguardam, na próxima segunda-feira. Mal posso esperar. Aproveito para referir também uma outra curta que tem feito um percurso de sucesso em vários festivais - mais de 20 prémios - e que venceu a Competição Internacional da 45.ª edição do Festival de Curtas-Metragens de Clermont-Ferrand, que decorreu de 27 de janeiro a 4 de fevereiro. Trata-se de O homem do lixo, filme realizado por Laura Gonçalves.
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