Madonna e a Celebration Tour passam por Lisboa



11/08/2022 Madonna no The Tonight Show, print screen

Em 2008 a Madonna mostrou o que valia com a enérgica Sticky and Sweet Tour. A 8ª digressão da sua carreira é apontada como a 11ª mais lucrativa de sempre. Foram 85 espectáculos. Em apenas 4 dias foram vendidos 65 mil bilhetes a 60 euros cada, para o concerto em Portugal, que teve lugar no Parque da Bela Vista. 75.000 pessoas estiveram presentes. A Madonna tinha 50 anos e com essa idade já muitos lhe chamavam demasiado velha para ser Madonna. Hoje tem 65 e os bilhetes para a Celebration Tour, a 12ª da sua carreira, acabam de ser postos à venda. A tour começa no Canadá, em Julho, dá umas voltas pelos EUA e depois continua na Europa, onde termina, no Outono. Ao todo serão 35 espectáculos onde ela se propõe revisitar o percurso artístico de 40 anos e homenagear a cidade de Nova Iorque onde começou a sua aventura. Em Lisboa, a festa está marcada para o dia 6 de Novembro. Os fãs estão eufóricos, os hatters, afiados.
 
Tal como aconteceu com as entradas para os Coldplay, - os mais baratos custaram entre 65 e 150 euros, - o preço dos bilhetes tem sido debatido com sanha. Os da tour de Madame X, em 2020, no Coliseu de Lisboa, oscilavam entre 75 e 400 euros. Para a presente tour custam entre 40 euros e 300 euros, de acordo com o site Meo Blue Ticket. Depois há pacotes VIP entre os 250 e os 1037 euros. Quem lança a notícia salienta que até o promotor ficou boquiaberto com os números: como é que os portugueses iam pagar aquilo? Ó amigo! Em dinheiro, claro, como os outros. Mas que raio de questão é esta? Ora, o promotor não viu o filme The shining. Se tivesse visto saberia que se deve levar o divertimento muito a sério: All work and no play makes Jack a dull boy. Além disso, basta dar uma volta pelas montras de qualquer shopping da capital - ou por lojas online- para provar que quem diz estas coisas não está a levar o pop a sério. Uma simples tshirt preta com um logo de uma marca XPTO pode custar 300 euros. Há quem compre? Há. Compra quem gosta e quem pode. Quem não gosta e quem não pode vê na montra e chama otário a quem comprou. Outros que gostam e não podem, mas querem, fazem das tripas coraçao, poupanças, contorções orçamentais e lá acabam por adquirir também a tshirt preferida. E há ainda quem compre a tshirt preta na feira e não se fala mais nisso. Entendo que seja bastante dinheiro mas eu, que não sou rica, paguei 80 euros para ver os Muse em 2012. Fiz contorções, está visto. Os concertos são caros. Não há aqui qualquer novidade. O país tem problemas. Também não é novo. O que há é uma enorme vontade de dizer que não se vai ver a Madonna porque ela é uma carcaça velha, isso sim. E este é um bom pretexto.

Cartaz da Madame X Tour

Já agora, se bem se recordam, a Madonna mudou-se para Lisboa em 2017 porque Portugal tinha uma energia muito particular que a fazia sentir viva. Mas também se lia pela net que a mãe veio por causa do filho que queria ser jogador de futebol profissional. O rapaz inscreveu-se na academia do Sport Lisboa e Benfica. Não sei em que deram os chutos na bola, em águas de bacalhau, talvez. O que sei é que depois de absorver a boa energia alfacinha durante três anos a Madonna Cicconi meteu uns pastéis de bacalhau no nécessaire e disse arrivederci a Lisboa. Agora soubemos que vai voltar em Novembro para trincar mais uns pastelinhos e provocar os mais conservadores e os amantes de verdadeira música, que isto do pop não vale nada. A Madonna antes de cruzar o Atlântico ainda concebeu um disco com uma pitada de influência portuguesa, para não parecer que nem tinha cá vivido, filmou uns vídeos polémicos por aí e fez uma tour com um poster cheio de azulejos e uma guitarra portuguesa. Também foi muito comentada aquela vez em que foi apoiar o Benfica ao estádio do Estrela da Amadora. Já agora, voltando a preços, alguém me diga quanto é que custa um lugar anual nos estádios dos nossos maiores, isso, mais as quotas de sócio, mais as deslocações até lá e comes e bebes durante uma época, pois no caso de vitórias suadas da equipa do coração, a desidratação é de acautelar e o fanico por falta de açucar no sangue também. Sem farnel não se aguenta. É que ainda não li em parte alguma que fosse pecado económico gastar dinheiro na bola, só com a pop. Se o pessoal quer estoirar uma dinheirama num espectáculo da Madonna ou se prefere usá-lo para vários, sejam eles música, teatro, cinema ou o desporto, para mim vai dar ao mesmo.

Alguns números, em 2019

Madonna começou na dança e acabou transformada numa mulher de negócios de sucesso, uma material girl com bens de valor expressivo, avaliados em muitos números. Ela é também a rainha das influencers, sendo reconhecida nas mais variadas áreas sociais, culturais, etc, como alguém que gerou um impacto decisivo. Não sou a dizer, está escrito por quem se dedica a dissecar essas coisas. Conquistou tudo o que tem a pulso, num meio altamente competitivo. Porque continua? Não o fará por dinheiro, fá-lo-á talvez porque levantar-se da cama e fazer a sua cena é o que a mantém viva. Madonna não precisa de Portugal para se sentir viva, precisa de palco. Em 1983 ela cantava Everybody get up and do your thing/ Everybody come on, dance and sing. E é isto. A Madonna também não é a Madonna se não estrear aqui e ali algumas polémicas para alimentar a lenda, como a sessão de fotografias que acaba de fazer para a Vogue. Madonna vai ser a capa do mês de fevereiro nas revistas Vanity Fair Itália e Espanha. Nessas páginas a rainha do pop transforma-se em Frida Kahlo, na Virgem, e em Jesus Cristo, na Santa Ceia. Vai ser um prato difícil de digerir para muitos e quem sabe se não será de novo excomungada pelo Vaticano.

Capa da revista Vanity Fair
 
Madonna mia! Se não é o que diz é o que faz, o que veste ou o seu aspecto físico. Tudo dentro da normalidade a que nos habituou, desde que cantava Like a virgin não é verdade? Na opinião do controverso apresentador Piers Morgan, Madonna, ao pretender ser uma boneca sexual aos 60 anos - e mais uma vez os números! - tornou-se a figura mais grotesca e embaraçosa da história do entretenimento mundial. (Sim, Piers, tu gostas mesmo é dos abdominais do Cristiano Ronaldo, a gente viu o twitt.) Para muitos Piers Morgans, de todos os sexos, é uma vergonha que uma mulher com idade para ser avó possa ser assim tão abertamente despudorada. A Madonna devia era ocupar-se de mudar fraldas aos filhos da Louise e deixar-se de exibições tristes. Esta recusa militante em tapar o corpo com um capote alentejano, em fechar as pernas, a boca; esta recusa em envelhecer longe da ribalta, de forma graciosa, sem faca nem botox, veneno de abelha, baba de caracol ou minerais do Mar Morto até a sua cara ficar reduzida a uma fralda descartável e engelhada; esta recusa em continuar a mostrar braços com asas de morcego...é tudo uma afronta à comum dignidade humana! Quem nos salva desta mulher, não é Piers? Para que canto chutou Madonna o decoro, o pudor, a respeitabilidade? Ninguém é obrigado a ver na Madonna a rainha da beleza, com certeza, mas é fácil perceber que o que mais incomoda Piers não é o resultado do seu último peeling químico.

Enquanto aguardo que o apresentador Piers se pronuncie negativamente sobre a ousadia do Mick Jagger que, aos 79, acaba de inaugurar uma conta no TikTok, deixem-me dizer-vos que bem gostava de aos 60 ter a vitalidade obscena de Madonna. Há um par de semanas tinha enfiado na mala do computador tudo e o mais que pude e, de pasta numa mão e mochila pesada na outra, ia perdendo o equilíbrio ao subir para o autocarro. A gentileza do motorista, que me auxiliou, soube-me a doce, mas daquele de laranja, com travo ácido. Afastei-o como se ele tivesse inventado a minha debilidade. Se estivesse mais em forma não tinha vacilado. Teria mais força, melhor equilíbrio. Só que isso dá trabalho. Quando a Madonna sobe ao palco, vê-se que ela fez o trabalho todo. Não inventou desculpas, não ludibriou a disciplina, não se esquivou às dificuldades. Foi assim que perdurou por décadas no panorama mundial do entretenimento. E eu tento respeitar isso mesmo que o resultado final de todo o seu empenho nem sempre me agrade.
 
Percebi que a Celebration Tour é uma tour de retrospectiva e ao sê-lo parece conter um certo agoiro de uma eventual despedida da rainha da pop aos palcos. E já estou a ouvir alguém dizer: faz por cá tanta falta como viola num enterro! Podemos certamente discutir se é ou não a GOAT da pop ou a artista feminina mais influente de todos os tempos. Mas além das opiniões existem os números muito expressivos que traduzem o seu universo. Talvez também aí se possam incluir os elevados preços dos bilhetes. Não tenho qualquer predilecção especial pela icónica cantora, actriz, empresária, performer, embora também não consiga ser-lhe indiferente. Admiro, sim, a capacidade que tem demonstrado de conduzir o seu destino pessoal, criativo, profissional ao longo de quatro décadas com mão firme, de forma independente, rebelde, desafiadora e até chocante, sim. Para Madonna tudo é sagrado e nada é sagrado. Eu gosto da Madonna mesmo quando não gosto. Não duvido que esta tour celebratória e cheia de ambição, - e talvez loura?! - irá marcar a actualidade musical do verão. Carrega, Madonna!


👀"Lindos abdominais!" Piers Morgan 👀

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