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O acontecimento", é a história de Anne, uma jovem que decide fazer um aborto clandestino ,11 anos antes da despenalização, para poder prosseguir seus estudos e fugir ao destino social da sua família. A história passa-se em França, em 1963, e mostra uma sociedade que condena o desejo das mulheres e o sexo em geral. É um filme simples mas ao mesmo tempo difícil, uma história de uma jovem inteligente que tem de refazer a sua vida remando contra a sociedade e a lei, sozinha, no segredo, pressionada pelo tempo, os exames que determinarão o seu futuro a aproximar-se e o ventre, cada vez mais saliente, mais pesando nos seus dias e no seu destino. O filme de Audrey Diwan, realizadora, foi premiado com o Leão de Ouro em Veneza. A actriz AnaMaria Vortolomei é uma Anne inesquecível. Antes de ter visto este filme nunca tinha ouvido falar desta escritora francesa conhecida por ter dado um novo fôlego à autoficção, agora galardoada com o Nobel da literatura. Digamos que, ao contrário do que sucedeu quando vi Silêncio, adaptação da obra do escritor japonês Shusaku Endo, não me senti atraída pela leitura deste livro semi-autobiográfico e, talvez por isso, que não é muito, foi uma surpresa hoje ter reconhecido o nome de Annie Ernaux nas notícias. Servem estas linhas, além de confissão sobre a minha ignorância sobre o peso desta escritora na literatura, como chamada de atenção para este filme, O acontecimento, uma janela para a sua vida, e mesmo para as suas motivações pessoais como escritora, além de uma peça quase documental sobre uma história que se repete no tempo e no mundo de muitas mulheres, ainda hoje.
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