Séries no Netflix: vi The Haunting of Bly Manor

 

Não vi The Haunting of Hill Manor e assim não  posso fazer comparações entre essa e The Haunting of Bly Manor. O facto de Mike Flanagan as ter  realizado e de ter um vasto historial de filmes do género, Doctor Sleep, creio ter sido o último,  era um ponto a favor da mesma. Também por ter na sua origem um famoso livro de Henry Thomas, já várias vezes adaptado, dei-lhe uma hipótese, mesmo se não tenho grande interesse em "histórias de fantasmas". 

Embora o Netflix permita saltar a introdução, no caso desta série convém não o fazer pelo menos uma vez. Pinturas de pessoas foram emolduradas e penduradas na parede, os seus rostos desfiguram-se ao som de O Willow Waly, uma canção sobre um amor perdido criada originalmente para o filme Os inocentes. Pelo menos uma vez há que assistir pois, tal como em Kingdom, (série sul-coreana) ali está condensada muita história.  Ao fim de três episódios eu estava algo relutante em continuar a ver  The hauting of Hill Manor embora estivesse a ser um exercício relaxante. Relaxante? Ora, algo não estava a correr bem. Então onde estavam os sustos? Catalogar a série como série de horror parecia-me um pouco excessivo. Só que o horror tem muitas manifestações e muitos graus, até na vida real. E em Bly, o horror tem muitas faces. Continuei a ver. Embora algumas vezes me tenha sentido confusa, também porque a vi meio distraída e a série é feita de subtilezas, que importam, acabei por ser esclarecida, e até apreciar. Aqui deixo as minhas impressões, que poderão talvez ser úteis aos hesitantes. Ah! Fiz uma busca para saber onde ficava a mansão Bly e descobri que se trata de um castelo, o castelo de Thornewood, erigido na costa Oeste dos EUA, no princípio do séc. XX, mas que nada do que vemos na série foi filmado no seu interior. Pode-se pernoitar e até casar no local. Interessados? Quanto ao lago, ele especialmente construido para as filmagens e depois destruido, por isso, nada a temer... ;)

The Haunting of Bly Manor conta com um trunfo inquestionável na narração expressiva e por vezes até hipnótica de uma senhora misteriosa. É assim que a série começa. Em 2007, na Califórnia, uma convidada de um casamento conta a um pequeno grupo -  incluindo os noivos - a história da professora Dani Clayton, uma americana que viajou para Inglaterra nos anos 80, para ser au pair . De certa forma, com esta escolha, The Haunting of Bly Manor segue o formato de Henry James, fazendo-nos saber que ali vamos conhecer uma história de fantasmas. Esta afirmação faz-nos olhar para as coisas como sobrenaturais mesmo que o não sejam. A existência de uma narradora celebra ainda a tradição de contar histórias, o que também é visível na "noite das histórias", um momento em que as crianças Wingrave, Flora - uma menina doce e adorável - e Miles, - um menino estranho que parece demasiado crescido para a idade que tem - dramatizam uma história para a sua pequena audiência. Mas é mais do que isso: contar histórias é uma forma de manter as memórias vivas, de passar heranças de aprendizagens. O que a narradora faz ao contar esta história é também uma declaração de amor, o que só será entendido no último episódio. 

To truly love another person is to accept that the work 
of loving them is worth the pain of losing them.

As personagens de Bly são todas bastante cativantes, quer as crianças, - Flora e Miles - quer os adultos, - Grose, a governanta que parece sonhar acordada, Owen, o cozinheiro afável e bem humorado, Jamy, a jardineira, directa, com os pés na terra em mais de um sentido, leal, Henry Wingrave, o tio ausente e atormentado, Jessel, inteligente e ingénua, Quint, manipulador e cínico - não apenas pela forma como se comportam no presente mas também pelo passado atormentado que todos carregam consigo e que gradualmente nos será desvendado, por vezes num episódio centrado numa personagem em particular, o que faz atrasar substancialmente o desenvolvimento da narrativa. Merece destaque a revelação sobre Grose, totalmente imprevista, num episódio particularmente desafiante para o espectador. 

A mansão de Bly é-nos apresentada como um lugar sinistro ainda que grandioso e bom, luxuoso e confortável,  rodeado de jardins bem cuidados e estátuas, e um pequeno lago, no rural  Essex, em Inglaterra. Essa qualidade deve-se à força poderosa e malévola de uma entidade que tem aprisionado as almas naquele espaço desde há 300 anos. Impedidas de sair dali, elas vagueiam eternamente até se esquecerem de si, quem foram, o que fizeram, quem são, assim perdendo a sua fisionomia, logo a identidade, mais se assemelhando a fantoches ou bonecos. Uma certa fantasma nem consegue perceber que já está morta, ela anda por ali, consegue tocar e sentir, fazer o que sempre fez,  ignorando ou negando o seu destino. É preciso que outro fantasma lhe mostre, cruelmente, o corpo no fundo de um poço, para ela se convencer disso. Esse fantasma, que percebeu a sua condição de prisioneiro, um não vivo que também não está morto, vai aliciar, manipular, mentir, matar e até planear possuir corpos infantis para conseguir sair daquele degredo e regressar à vida. Mas esta é apenas um pequena parte da história!

Mais intensa que a trama sobrenatural, é a exploração que Flanagan faz das relações que se estabelecem entre as pessoas que habitam, ou habitaram a mansão, propondo-nos uma reflexão sobre o amor, platónico ou real, hetero e não hetero, maternal, filial, a infidelidade, e a perda, aliás, vários tipos de perda, e como as pessoas lidam com ela.  The haunting of Bly Manor é uma história sobre o amor  como força capaz de assombrar a vida das pessoas: um amor perdido, de forma trágica, a sua memória, pode transformar-se numa presença fantasmagórica tal como um  fantasma pode velar por uma pessoa amada que perdeu.

Virginia Woolf escreveu três ensaios onde releva a mestria de Henry James na escrita de histórias fantasmagóricas e o tipo particular de fantasmas que lhe importam: fantasmas que têm origem dentro das pessoas. Mike Flanagan adaptou a enigmática obra de Henry James, escritor norte-americano naturalizado britânico, escrita em 1898, Turn of the Screw, que foi inicialmente publicada em doze partes, em formato de folhetim em edições do jornal literário Collier’s Weekly: An Illustrated Journal entre 27 de janeiro e 16 de abril de 1898 e em formato de livro pela William Heinemann, casa editorial de Londres, em 13 de outubro de 1898. A expressão "give the screw another turn" significa uma acção somada a outra que vem tornar tudo o que já estava mal, pior, em especial forçar alguém a fazer algo  quando alguém já se encontra desconfortável, prestes a ceder, física ou mentalmente. 

O livro de Henry James já foi adaptado ao cinema e também para a televisão em 1999: The Turn of the Screw, realizado por Ben Bolt, com Colin Firth como o guardião das crianças. Em 2001, foi a vez de The Others, um filme de Alejandro Amenábar, com Nicole Kidman como protagonista, que eu vi mas já mal recordo. Em 2006, foi a vez do filme In a Dark Place, de Renato Dotunno, em 2015 uma versão brasileira , Através da Sombra, de Walter Lima Jr., e, em 2020, The turning, de Flora Sigismondi, localizando a acção não na Inglaterra Vitoriana mas nos Estados Unidos dos Anos 90. O filme Os Inocentes, dirigido por Jack Clayton, lançado em 1961, com argumento escrito por William Archibald, John Mortimer e Truman Capote. O interesse pela obra tem vencido a passagem do tempo.

Em 2020, foi a vez de Flanagan criar a sua versão do romance a que junta novas personagens e até outras histórias de Henry James, cada um dos episódios tomando o nome dessas histórias: The way it came, The two faces, The Great good place, etc. Talvez à maneira de Henry James, cuja escrita tem um ritmo lento em The turn of the screw, a série desenvolve-se lentamente, - está permeada por flashbacks, - e também dependemos da narração, pois é da perspectiva da narradora que se desenrola a história, e de idêntica forma, não é uma típica história de fantasmas. Tal como ali, Flanagan trabalha com a ambiguidade e a incerteza, mas, ao contrário de Henry James, cujo livro deixou os leitores na dúvida, acaba por nos dar uma solução. O que Flanagan nos propõe é uma imersão numa atmosfera de medo mais do que que sermos amedrontados, baralhando a nossa percepção sobre o que é realidade e ficção através de indícios e sugestões, que eventualmente culminam num desfecho esclarecedor. Ao longo da série encontramos monólogos e reflexões sobre grandes questões da existência humana, os mistérios da vida e da morte, e do amor.

O romance gótico surgiu na Inglaterra em meados do séc. XVIII, combinando elementos do horror e o Romantismo. Neste tipo de romance é difícil perceber o que é real e o que não é real. Existe uma atmosfera de tensão psicológica e mistério criada usualmente através de manifestações monstruosas ou fantasmagóricas, capazes de ameaçar a integridade física e psicológica das personagens. Estas podem ser consumidas por segredos ou obsessões, aparentarem ser uma coisa quando, no fundo, são outra. As emoções e sentimentos das personagens são bem exploradas, a sua consciência manifesta-se por via de reflexões que nos permitem conhecer a agonia em que se encontram. 

A galeria de personagens: 
Dani Clayton, Jamie, Hannah Grose, Miles Wingrave, Flora Wingrave, Rebecca Jessel, 
Owen, Peter Quint, Henry Wingrave...

Spoilers! A seguir, um resumo dos episódios da série.

Dani Clayton, uma jovem americana bastante decidida e desembaraçada, aceita uma posição de professora/governanta de duas crianças orfãs numa mansão inglesa, Bly. Ela quer fazer a diferença na vida delas. Flora e Miles perderam os pais vitimados por um acidente e a anterior professora suicidou-se logo após. O seu tio, Henry Wingrave, contrata-a, ainda que relutantemente, dizendo-lhe para o contactar apenas em caso de urgência. Pela sua conversa, logo ficamos a desconfiar que ambos têm segredos ou talvez sejam acossados por memórias de eventos passados. A ambos já morreram pessoas queridas e cada um carrega essas perdas, saudade, remorsos, e culpa. 

We lay my love and I beneath the weeping willow
But now alone I lie and weep beside the tree

Singing "Oh willow waly" by the tree that weeps with me
Singing "Oh willow waly" till my lover return to me

We lay my love and I beneath the weeping willow
A broken heart have I. Oh willow I die, oh willow I die

("O Willow Waly,",  apareceu numa adaptação de 1961 
the The Turn of the Screw, chamada The Innocents)

Flora faz a visita guiada a Dani, tal como fizera à anteriror professora, Jessel, assim que esta chega e se encontram junto do lago: tudo ali é esplendido, com excepção da ala onde ficavam os aposentos dos pais, proibida, não é "perfeitamente explendida"! Os miúdos estão contentes por terem de novo uma "Poppins". A senhora Grose, a governante, não come nada embora o cozinheiro Owen, que já foi chef, confecione delícias. Flora avisa Dani para não sair do seu quarto durante a noite e já sabemos que ela não irá obedecer. Há muitas chamadas telefónicas para a mansão mas quando atendem ninguém responde. 

Flora tem uma casa de bonecas enorme que é a réplica da mansão e lá dentro estão representadas as pessoas que a habitam e muitas outras, produto da sua  imaginação. No seu esplendido quarto, debaixo da cómoda, está uma boneca de longo vestido cinza, sem rosto e de cabelos desgrenhados. Quando Miles, o irmão oferece um gancho de cabelo a Dani esta fica a saber por Flora, aborrecida, que pertenceu à anterior professora. Flora parece olhar por cima do ombro dela e ver e até receber sinais de alguém "invisível". As coisas começam a tornar-se mais estranhas quando Dani vê, a partir do jardim, um homem através da janela. Mas só ela o viu e quando o procura na varanda onde apareceu apenas encontra um boneco de ervas, um talismã, que Flora faz para proteger todos. 

As crianças fecham Dani num guarda-roupa e esta fica apavorada e furiosa, e volta a ver uma figura humana indistinta, que usa óculos brilhantes de aros redondos, refletida no espelho, figura que já tinha visto numa vidraça de um carro, em Londres. Os catraios acabam por lhe abrir a porta, desculpando-se, foi tudo um acidente, e ela manda-os para a cama, apesar de no corredor estarem pegadas de lama, que ela pensa serem deles. No dia seguinte estão de castigo, a fazer limpezas e arrumações. E Flora encontra uns óculos redondos no quarto de Dani, que a figura do espelho parecia usar. Este achado deixa Dani muito enervada, o que a leva até ao jardim, onde a encontra a jardineira, Jamie, que a tranquiliza. A boneca sem cara é atirada por Miles para a conduta da roupa e Dani vai à cave buscá-la. Lá está ela, de pé, no meio do chão, e num canto uma montanha de bonecas esquisitas: uma delas senta-se! Não tem rosto. Flora também não achava a cave esplendida, e tinha razão.

Após a morte da anterior professora, Miles foi admitido num colégio interno. Na aula, o padre fala de como Jesus expulsou os demónios de um homem para dentro de porcos. O rapaz quer saber se os demónios precisam de permissão para entrar nos porcos, ou para entrar no homem. O Padre diz que os homens é que fazem as suas escolhas. Miles tenta asfixiar um colega, sem qualquer razão, e quase é expulso. E é isso que ele quer, - ou alguém quer -  voltar para casa, para a irmã. Com mais alguns comportamentos bizarros e atrocidades, consegue.

A jogar às escondidas com as crianças na mansão, Dani acaba por entrar na ala proibida e ali encontra uma caixa de música no quarto dos pais delas que toca "O Willow Waly." No sotão, Flora também canta a melodia, além de uma outra criatura, mas Flora não tem medo. Na caixa de jóias está uma foto do homem que Dani viu na janela, com a professora anterior, Jessel. Miles encontra-a e quase a sufoca, colocando os braços à volta do pescoço, como fez ao amigo. Dani persegue-o mas acaba por ver o tal homem a rondar a casa e vai para o exterior, cruzando-se com Owen. Este vive na aldeia, com a mãe idosa, a quem presta cuidados: ela tem demência. Miles sente-se mal e desmaia, e isto aconteceu porque tinha sido "possuido": se não fosse isso não teria apertado pescoço a Dani. A anterior governanta, Jessel, tinha-se apaixonado pelo homem da fotografia, Quint, controlador e abusivo. Quint, que trabalhava para o tio Wingrave até ter desparecido, rondava a casa e de vez em quando possuia Miles. 

O tio Wingrave passava os dias no escritório e começava os dias a beber para lidar com tudo o que passara, mas nós ainda não sabíamos o quê. Grose, a governanta, anda sempre atarefada, ou a acender velas na capela, e vê rachas na parede. É Quint quem leva Jessel de carro para Bly, após ter sido contratada por Wingrave. De imediato se sente atraído por ela, que é inteligente, ambiciosa e bonita. Para Quint as pessoas são como quartos fechados e é preciso encontrar a chave para as abrir. Jessel fica sob o feitiço de Quint que se virá a revelar possessivo. Ele, hábil, encontra forma de pernoitar em Bly para passar algumas noites com ela e no entretanto faz uso daquela casa como se fosse sua, pelo que é repreendido por Grose, a governanta, que procura intimidar.  Mais tarde, enciumado por Owen, e depois de uma cena, Quint abandonará Jessel e foge.  Quint é um ladrão, que além de jóias terá roubado dinheiro ao patrão. Suspeitando que Quint voltou, Owen e Jamie, passam a noite na mansão. Jamie trata Dani com carinho, e chama-lhe Poppins. Dani sente-se atraída por ela. Perante a pequena audiência, os miúdos fazem teatro nas escadas da mansão e Miles fala de fantoches que se esqueceram que tinham fios, evidentemente que está possuido por Quint, que morreu e é um fantasma!

A mãe de Owen, a quem este cuidava, morre com demência. Dani não vai ao funeral, não consegue pois isso envolve lidar com memórias dolorosas e ainda recentes. Ela quebrara o noivado e logo a seguir Edmund, o noivo, que era apaixonado por ela desde criança, e que usava uns óculos redondos, tinha sido atropelado e morrera. Owen e Grose estão apaixonados há anos, mas o romance não se materialisa. Grose anda alheada de tudo e fala disso, quando se juntam, à noite, no exterior, em volta de uma fogueira e falam do que é uma bonfire ( a fire of burning bones) e das suas perdas. Mas Dani só revela a sua história  e  a culpa que sente, a Jamie, que a ampara. Dani vai buscar os óculos de Edmund para deitar na fogueira e Flora vê na casa de bonecas que ela não está na cama e que a boneca sem cara também está ausente o que significa perigo. A boneca é o fantasma que pode causar mal a Dani. Flora e Miles distraem Dani para a protegerem daquela ameaça, enquanto o fantasm circula pela casa e deixa as pegadas de lama.

We can’t count on the past … We think we have it trapped in our memories, 
but memories fade and they’re wrong. 
Any of us could die at any moment, 
or we could forget our entire lives, which is kind of like dying.

Grose sempre tinha parecido estranha, alheada, perdida nos seus pensamentos. No seu estado inicial, os fantasmas andam confusos e em estado de negação. Ela consegue enganar  os outros e até ela mesma pareceno que ainda está viva. Ficamos a saber que o marido também a tinha deixado. Mas ela acredita que ele há-de voltar para ela. Ela conta isto à mãe de Flora que a convida a viver na Mansão. Assim que vê Quint, Grose pressente de imediato que o homem não é coisa boa. Não aparenat ser diligente, como ela. Aliás, ele ressente ter de servir os outros enquanto ela esta feliz por poder ser útil aos outros e considera aquela a sua casa.

A governanta entrevista Owen que se vai candidatar ao lugar de cozinheiro. Deambula pelas suas memórias, que se baralham. De repente a entrevista recomeça. Ela precisa acreditar que há algo errado com Miles, mas não consegue, e Owen (que agora é a voz da sua consciência) tenta avisá-la. Grose percorre as memórias dos outros e sabemos que Miles está possuido por Quint de vez em quando. Ela está no quarto com ele e Jessel e ouve o seu plano de ida para os EUA. Depois Jessel avisa-a de que vai acontecer algo de seguida e que ela nunca consegue ver. Cá fora, no corredor, o fantasma, a Senhora do Lago, aparece e leva Quint! Mas ele regressa quase de imediato, regressa como fantasma. As crianças, assistem, estão horrorizadas, sabem o que lhe aconteceu, mas ele ainda não percebeu que morreu até que vê o fantasma levar o seu corpo para o lago. Coloca a mão em Miles e ele começa a dizer à mulher para parar, encarnando Quint. É Quint que o controla quando ele fuma. É assim que Quint vai matar Grose: Miles age por ele quando a empurra para o poço e ela morre: a última coisa que vê são as rachas na parede do poço. Como morre em Bly, ela fica presa naquele espaço e não pode deixar Bly. Está presa na sua mente,  que negou tantas verdades - o marido que não voltava, ela estar morta - e procura proteger as crianças, cumprir as suas tarefas diárias, embora cada vez seja menos vista por ali.

Humans are organic. It’s a fact that we’re meant to die,
 it’s natural, beautiful. And it all breaks back down and rises back up
 … and we leave more life behind.
 
Em vez de irem até ao pub, como Dani tinha sugerido, Jamie leva Dani a ver umas plantas especiais que precisam de um ano de cuidados para desabrocharem e morrem numa noite só: as ipomeas. Assim é com a maioria das pessoas a quem Jamie se dedicou: muito trabalho, pouco fruto. Mas com Dani poderá ser diferente, ela poderá valer todo o trabalho. Jamie desvenda-lhe o seu passado cheio de amarguras. E é a vez de Dani lhe dar apoio.

Dominique e Charlotte Wingrave morreram numa viagem à India para refazer o seu casamento. É tempo de mais uma revelação: Flora é filha de Henry. Dominique, o pai,  fez as contas e chegou à conclusão que a mulher tinha passado demasaido tempo só e que a filha não pode ser dele. Considera que o irmão é um monstro e bane-o da sua vida e de Bly. Mais tarde o monstro revela-se e passamos a ver dois Henry, o atormentado e o monstro que o atormenta. Henry é o culpado da morte do casal e era ele que fazia as chamadas para ouvir a voz da Flora. Henry é dois em um, consumido pelo desgosto mas também cruel. Mas quando ele percebe que o telefone está desligado, ele parte para a mansão que fica a três horas de viagem. 

Flora adormece e também anda a passear pelas suas memórias: são memórias da mãe, do tio, de um rapaz sem cara. Isso parece acontecer sempre que Jessel se apossa do seu corpo. Então ela, a sua mente, recolhe-se às suas memórias para haver espaço para Jessel. E o seu corpo é de Jessel. Quando ela acorda não sabe o que aconteceu. O médico é chamado porque ela parece ser sonâmbula. Flora parece ter  consentido nisto, neste "jogo", mas agora já não está a gostar. Ela diz isto ao fantasma Jessel e Dani fica atemorizada quando as vê a conversar e arrasta Flora consigo. Jessel toca no ombro de Flora e entra nela. Dani é apanhada por Miles que lhe bate e a deixa inconsciente.

It's you. It's me. It's us.

Peter Quint tem uma memória onde a mãe quer fazer chantagem com ele e ele recorda que foi um miúdo abusado e que ela nada fez, nem por ele nem pelos outros, para o defender do pai. Ele vem sempre ter a esta memória infernal ao contrário dos outros fantasmas, que tinham direito a memórias agradáveis. Ele então quer arranjar uma forma de se livrar disto e também da eternidade do esquecimento. 

Jesse dedicara parte das suas meditações a perceber a razão da fuga de Quint. Ele então regressa mas como fantasma. Desta forma, eles podem ver-se mas não tocar-se. Ele diz-lhe que os fantasmas não conseguem deixar Bly. Então ele convence-a a deixá-lo tomar o seu corpo para ficarem juntos para sempre, ela ficaria nas suas memórias, ele no seu corpo, dizendo certas palavras, que ele terá aprendido a demabular pela mansão com os outros, que permitem convidar o espírito a entrar, mas ela está hesitante. Ele acaba por matá-la, assim que  o seu espírito entra nela, afogando-a no lago,  que percebe então o que lhe sucedeu, revoltando-se. 

Quando Dani, que estava inconsciente, acorda, Quint está a convencer as crianças que precisam de fazer o tal jogo: elas fazem o ocnvite e eles vão para as memórias boas onde podem ficar com os pais para sempre e ele e Jessel tomam conta dos seus corpos. Jesssel não está totalmente de acordo mas o plano segue. Escutam Grose que anda à procura das crianças pelo têm de acabar com a vida de Dani rapidamente. Mas Flora liberta Dani, pois Jessel instruira Flora para fingir e assim salvar-se. Dani foge com Flora mas é apanhada pelo fantasma da  Senhora do Lago.

She would sleep. She would wake. She would walk.

Estamos no séc. XVII  e agora vamos conhecer a história de duas irmãs, Viola, a mais velha, e Perdita, que à morte do pai, procuram manter a mansão, em especial Viola, que tem ideias fixas sobre quem é e o que deseja. Casa com um primo distante e vive um romance a sério, tem uma filha, Isabel. Viola adoece talvez com tuberculose e depois da visita do médico que anuncia meses de vida, vem o padre para lhe dar os sacaramentos. Só que ela não aceita morrer e continua viva. Mais tarde, ciumes levam-na a voltar-se contra a irmã que a cuidara e à filha por seis anos, mas que se envolvera com Harry. À semelhança do que vai suceder no seio da família Wingrave, anos mais tarde, a infidelidade acaba em tragédia. Perdita, cansada dos insultos, mata a irmã, asfixiando-a. Mas antes disso Viola guardou num baú as suas riquezas, que caberiam a Isabel, na maioridade, e fizera o marido jurar que assim seria. O tempo passa e vida na mansão muda para pior. Perdida a riqueza,  Perdita quer abrir o cofre para manter a mansão, ainda que contrariando o marido. E é o que faz. Mas Viola nunca quisera abandonar Bly. E assim estava "dentro do baú", um quarto trancado, com as suas jóias, vestidos e luxos, e ali dormia, acordava, caminhava, e esperava o dia em que Isabel o abriria. Este estado desgasta e cansa as almas, que se vão erodindo.Quando Perdita o abre, é morta por Viola. O marido encontra este cenário, convence-se que o baú está amladiçoado, e decide que este não o acompanhará na viagem para fora dali. Deita-o no lago. Viola fica desesperada quando percebe que a família a abandonou. Daí em diante o seu fantasma sai do lago para ir à procurar a filha no seu quarto, na mansão, e mata quem se atravessar no caminho. As almas ficam cativas da sua vontade de não deixar Bly, uma força gravitacional. A memória da sua vida desvanece-se com a passagem do tempo e assim as feições desaparecem do rosto. E Bly degrada-se, tornando-se um albergue para as vítimas da peste.

- You said it was a ghost story…it isn’t. It’s a love story.
- Same thing, really.

Após este interlúdio, filmado a preto e branco, regressamos ao presente. Dani atravessou-se no caminho de Viola e é apanhada. Mas quando a Senhora do Lago vê Flora, pensa que é a filha, Isabel, e larga Dani. Henry chega a Bly naquele momento e tenta socorrer Flora e parar o fantasma Viola, mas sem êxito, acabando no chão, a ser socorrido por Owen, que também acabara de chegar com Jamie à propriedade. Enquanto está inconsciente encontra Grose que lhe pede para dizer a Owne que sempre o amou. Jessel também tentou parar Viola, sem sucesso. É Dani quem vai ser bem sucedida, dizendo as palavras certas, - sou eu, és tu, somos nós -  as que tinham sido ditas por Viola à filha bebé, há muitos anos. Assim ela convida Viola a entrar em si e todos as almas cativas ficam livres: a maldição de Bly tinha chegado ao fim.

Flora e Miles deixam Bly com o tio. Dani vai com Jamie para os EUA, onde viverão o seu amor por uma dezena de anos sem instrusões fantasmagóricas. Viola é agora apenas uma presença ténue mas Dani sabe que com o tempo ela ficará mais forte. Owen abriu um restaurante, a memória de Grose continua viva ali, há um retrato dela na parede. E por ali passaram os Wingrave e até o namorado de Flora. Ninguém se lembrava do que tinha acontecido em Bly, o que causa um certo espanto a Jamie e Dani quando visitam Owen. Mas um dia, após muitos anos de felicidade ao lado de Jamie, ela volta a ver a face desfigurada da Senhora do Lago. Quando Dani percebe que se tornou uma ameaça para Jamie, sabe que tem de voltar a Bly e ali acabar com Viola. É assim que Dani se sacrifica e  acaba afogada no fundo do lago. Quando Jamie mergulha e diz as palavras de permissão, Dani não a toma. Dani é diferente de Viola: ela é um espírito benigno. Ela vai perder as memórias de Jamie, como todos antes dela, e passará somente a viver na memória desta. Dani vive e é por isso que Jamie conta a sua história. 

Jamie, no hotel onde se encontra quando vai ao casamento, deixa a porta entreaberta e enche a banheira e o lavatório de água mas nunca vê a cara de Dani ali refletida. Nada acontece. Todavia, a presença de Dani está ali, a sua mão repousa no seu ombro quando ela adormece. No dia seguinte, acontece o casamento, e, surpresa, ou não, o nome do meio da noiva é Flora. 

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