O porco do Morin, por Guy de Maupassant (1/4)


Desde que se começou a falar  sobre o que é o assédio sexual, e a sua distinção da sedução, que me lembrei deste conto de Guy de Maupassant: O porco do Morin.  Deixo-vos aqui uns prints (4) a que talvez queiram dar uma vista de olhos. Não é o ideal,  mas se eu vos desse o resumo, feito pelo meu punho, ainda seria menos ideal. 

Tenho a sensação de ler alguns autores que quase ninguém lê. É o caso de Guy de Maupassant. Há uns anitos, andava eu a ler os contos traduzidos pelo Pedro Tamen, quando um conhecido que me encontra de livro na mão na estação, me diz assi:, "Mas quem é que ainda lê Maupassant?! A sua expressão era de quem parecia receoso de que eu lhe pegasse a sífilis de que o contista sofria. Ignorei a provocação.  Não, não tinha parado no tempo só porque não andava a ler um livro dos autores da moda. O mundo que  Maupassant descreveu nas suas obras mudou à superfície, mas por dentro está igual. Quando os autocarros chegaram seguimos em sentidos contrários.

Maupassant aos 20 anos era voluntário na guerra, aos 40 já estava morto. Escreveu, em pouco tempo, variadas obras, poemas, peças de teatro, narrativas de viagem, romances. E muitos contos: não li nem metade, apesar de concisos. São irónicos, pessimistas, cómicos, realistas, fantásticos. Preconceito, intolerância, ganância, falso moralismo, futilidade, sedução, corrupção, poder. O rústico e o chique parisiense, o campo e a cidade. A Maupassant não escapou nada. Escrevia para os leitores de jornais que abundavam na época. Nem uma palavra a mais, nem uma  a menos. São relatos aparentemente simples, mas de uma perspicácia fina. Isentos de julgamentos sobre o seu tempo, um retrato da sua época. 

Ainda na adolescência li Bel-Ami , um dos seus romances mais conhecidos, uma obra que tem todos os conteúdos para ser o próximo sucesso da HBO: por que esperam? Em 2012  filmou-se mais uma adaptação da história do arrivista Duroy. Fui ver: uma decepção. É de evitar a todo o custo. Quem quiser experimentar um pouco de Maupassant no cinema terá sempre Max Ophüls, e o seu Le plaisir , que adapta três contos:   Le Masque, La Maison Tellier e Le Modèle . Podem o filme ver no Filmin, por 2, 95 euros: 

"Um tríptico onde a perfeição formal Max Ophüls é posta ao serviço da prosa de Guy de Maupassant, numa investigação fílmica dos limites do prazer físico, sentimental e espiritual. Nesta antologia, o mestre Alemão adapta três contos do celebrado autor em que há homens que escondem atrás de máscaras as suas vulnerabilidades, prostitutas cuja nobreza de carácter envergonha qualquer puritano e parábolas de reconciliação entre a atração física e o amor idealizado." 

Num debate na TV sobre o assédio sexual, um indivíduo cujo nome desconheço pois só vi o pequeno excerto, ou resumo, na internet, apelava à retirada de horas a matemática e português das escolas em detrimento do desenvolvimento da inteligência emocional. (!) Mas não é a literatura uma forma de desenvolver a nossa inteligência emocional? Cortar na aprendizagem e contacto com a língua, e até com obras que não se leem a não ser nos bancos da escola, quando a leitura é uma das estratégias mais simples que a escola pode apoiar e promover? Até há um estudo sobre o Harry Potter sobre essa relação! Lembro-me porque brinquei com isso, - "Aumenta o teu Q.E. como que por magia!, dizia eu. Não vou contestar nem afirmar o valor desses estudos, acho que nem precisamos deles para afirmar o valor da literatura no desenvolvimento das nossas ferramentas emocionais desde crianças. 

A inteligência emocional é um tipo de inteligência social que permite às pessoas lidar com suas próprias emoções e as dos outros, orientando a sua conduta. Tem a ver com o como e quanto se percebe, processa, compreende emoções e também com o ter habilidade para gerir emoções. Quem lê sabe que cria ligações fortes com as personagens  das histórias à medida que a leitura progride e se fica a conhecê-las. O escritor faz com que reconheçamos as suas emoções e as razões das suas atitudes e comportamentos. O seu ponto de vista é-nos acessível. Desenvolvemos empatia, seja festejando quando elas alcançam o sucesso ou sentido pena pelo seu fracasso. Ou seja:  Com as pessoas com quem nos cruzamos não se pode fazer isto, em regra, elas não são um livro aberto. Tendemos a julgá-las a partir do nosso ponto de vista.  A leitura de histórias de ficção  desperta-nos para outras realidades, ampliando a nossa capacidade de "leitura" dos outros. Através da literatura podemos ganhar consciência das nossas emoções, compreender e gerir as nossas reações e desenvolver a nossa capacidade de entender os outros, de sentir empatia.

Há quem nunca tenha lido uma linha de Maupassant. Se é esse o caso, a minha sugestão é o livro Contos Escolhidos, tradução de Pedro Tamen. Saiu em 2011, na D. Quixote. "

Livro recomendado para a Formação de Adultos, como sugestão de leitura. Na presente edição reúne-se uma selecção de contos daquele que é considerado o grande mestre do conto francês, e um dos seus maiores expoentes na história da literatura: Guy de Maupassant.A escolha dos contos deve-se a uma estreita colaboração entre Miguel Viqueira e Pedro Tamen, que os traduz, com a mão do grande poeta que é, de forma soberba. Da vasta obra literária que o autor nos deixou, foram escolhidos quarenta e dois contos, divididos em três partes: «Contos mundanos, amorosos, eróticos e galantes», «Contos inquietantes, de horror e de mistério» e «Contos exemplares». Esta recolha procura dar a conhecer aos leitores portugueses a maravilha que é a prosa deste grande escritor do século XIX."


Parte 2

Parte 3

Parte 4

 

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