primavera printemps, um poema de Vasco de Graça Moura







primavera printemps

primavera printemps spring avultam

les cuisses de l’aurore noutros calendários

der fruehling des harpes et des luths

um arlequim um madrigal os lábios


este poema é feito de encomenda

obviamente sobre a primavera

podia sê-lo sobre o bolor dos vivos

tromboses coronárias sons-of-a-bitch


ou fazer strip-tease com o mosto

da martelada esperança literata

com lágrimas na voz e os dois tiques no rosto

a que esses gajos já não ligam nada


ou circular nas gares subterrâneas

e nas torneiras do metropolitano

onde nos rails silvam sarabandas

e onde não passam as estações do ano


podia sê-lo sobre a primavera

de coração hialino corpo inteiro

hélas chers confrères este nosso signo

peninsular é sempre o do carneiro


p.s. ̶ pois o poeta quase disponível

o fez agora mesmo a esferográfica

(ainda se ao menos fosse feito à máquina)

̶ que a letra dos poetas é incrível

e já o camões morreu por sua pátria

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