O MS Somsen ( n.b., não é ele o recrutador) publicou um anúncio de recrutamento que me fez lembrar uma infeliz entrevista de há um par de anos. O meu Facebook não é público e o recrutador fez a sua pesquisa sobre mim antes da nossa reunião, assim como eu também tentei saber de quem se tratava. Na reunião ele apareceu acompanhado da sua advogada, à frente de quem decorreu a nossa conversa. Ora, parece que não podendo ver muito do meu Facebook se confundiu com outra Belinha, que, segundo ele me mostrou, no seu telemóvel, tinha cara de anormal, de deficiente, era um horror. Quando ele descobriu isso, já depois de termos trocado impressões por escrito, ficou muito preocupado pois não gostava de trabalhar com mulheres feias, nunca tinha gostado, e estava bem impressionado com os nossos contactos até ao momento. Disse-me o homem, à frente da sua advogada, que tinha optado por me conhecer mesmo sendo eu um trambolho não fosse eu pensar que tinha sido excluída da entrevista por não ser nada bonita, aliás, por parecer ser deficiente! Que hoje todos os cuidados eram poucos! E que eu nem imaginava o alívio que ele tinha sentido quando entrei pela porta. Situação verídica, asseguro, a breve descrição não sugere o tom usado pelo recrutador para proferir estas palavras, nem o olhar que me lançou enquanto apontava para a foto da mulher no telemóvel, nem a minha indignação e vergonha por estar ali sujeita àquela baixeza, exibida com total despudor e segurança, como se fosse a coisa mais natural, e certa, deste mundo. Não aceitei o lugar não só por ele ser um idiota desprezível, que tive ainda o desprazer de ver a destratar a tal advogada, e sem qualquer pejo de o estar a fazer à frente de uma total estranha, mas também pelas condições absolutamente ridículas em que pretendia que lhe prestasse os meus serviços.
Neste anúncio de emprego, eis mais um recrutador que não tem a noção do ridículo: não é o primeiro e não será o último. Hoje, a avaliar pelo que se lê, é cada vez mais frequente confundir larachas próprias de roda de amigos dos copos com mensagens sérias, neste caso num anúncio dirigido a candidatos a emprego. Não sei se é falta de estudos, se são estudos a mais, mas é comum e penoso ver a forma como, na comunicação, se confunde criatividade com negligência intelectual e se escrevem os maiores atropelos todos os dias. A evidência é descarada, anda por aí em títulos engraçadinhos de notícias, em rodapés na TV, em artiguelhos, croniquetas, ou, como no caso, em anúncios de recrutamento. Devem pensar que que nós, apanhados pela vaga da vanguarda criativa, atordoados com tamanha sagacidade, ficamos aquém, não alcançamos. Só que não. A mediocridade não é charmosa nem talentosa. E cheira sempre mal, muito mal.
Comentários