Café RITZ, avenida Afonso Henriques, Coimbra: escreveu José Abranches



Pelo Café Ritz, na avenida D Afonso Henriques, em Coimbra, passaram desde 1959-60 sucessivas gerações de clientes.
Clientes muito jovens, oriundos de todo o País, primeiro e, também do estrangeiro, depois, chegados a Coimbra para na cidade frequentarem a Universidade e nela prepararem o futuro das suas vidas.
E estas sucessivas gerações de clientes, misturaram-se, ao longo destes anos com a população “autóctone“ da cidade, tornando-se, muitos e muitos deles também, residentes, ao adoptarem a cidade que os foi, entretanto, adoptando...
Por aqui passaram e formaram-se milhares de jovens que, no Ritz, nos últimos 60 anos influenciaram a Sociedade Portuguesa, e a marcaram com o seu exemplo na vida, na família e nas suas mais variadas profissões; chegados com 15 e 16 anos, tinham, desde logo, como adquirido, o estatuto do tratamento de senhor(a) Doutor(a)...
E foi por aqui, também pelo Ritz, que gerações sucessivas de estudantes, planearam “as lutas académicas” e as crises académicas dos anos 60-70...
E foi por aqui, também pelo Ritz, que outros estudantes, em campos políticos antagónicos, se lhes opuseram...
Sucessivos caldos de cultura aqui nasceram, germinaram e floresceram...
E foi daqui, também do Ritz, que se espargiram pelo Mundo...
Por exemplo, “os betos do Ritz” são filhos de pais e de mães, também eles, já clientes do Ritz...
Aliados na boémia Coimbrã, alicerçados nestas amizades criadas na solidão, inicial do jovem chegado a Coimbra, nasceram verdadeiras e sólidas amizades “para toda a vida...”
A existência de lares de freiras e de diversas repúblicas nas zonas circundantes do Ritz, bem como da discoteca, “etc...”, permitiram que, além destas amizades se viessem a criar, por aqui, tantas e tantas famílias...
Famílias que geraram filhos também eles clientes do Ritz...
E foi neste movimento, repetitivamente perpétuo que, por aqui, pelo Ritz, se desenvolveram tantas e tantas gerações sucessivas de “grandes malandros” espalhados pelo Mundo...
O Ritz foi um polo que espargiu luz para o Japão, para a Austrália, para a América Latina, para o Brasil, para a Europa e, claro, para todo o “Portugal do Minho a Timor”...
E este Ritz, menos luxuoso, em nada será menos conhecido, do que outro, seu homónimo de Paris...
Este Ritz foi um berço e uma escola de formação de elites sócio-profissionais e intelectuais do País.
Por aqui passou o Zeca, o Portugal das violas e o Pato...
No Ritz estudou para se doutorar a primeira Professora Catedrática da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Por aqui beberam muitas “bujecas” o Alberto João, o Fausto Correia, Toninho Xavier... em convívio sadio com o doutor Adesivo.
Aqui passaram os irmãos Beleza do Caramulo, e os primos...
Os manos Lucas Pires, o Padre Eugenio, o Cónego Urbano Duarte, sempre que podiam vinham tomar café no Ritz ...
O senhor D Duarte, os irmãos e o primo, o senhor Marquês de Fronteira...
E moinas???
Uuuiiii...
Tantos moinas...
Médicos, Advogados, Engenheiros, Professores, Intelectuais, Políticos, Cientistas, Vendedores, Empresarios, Comerciantes, em permanente e são relacionamento, com o denominador comum que tem sido, a família do senhor Rosa.
E, tantos, tantos, nestes 60 anos...
Neste Ritz tantos que se formaram, e tantos que disseram que se tinham formado...
Alguns ainda andarão a “levantar” uns oitos e uns moves...
Foi aqui no Ritz que renasceu o fado de Coimbra, que renasceram as Queimas das Fitas, que renasceram as praxes académicas!
Mas já tinha sido, também, no Ritz que se tinha “arquitectado” o luto académico em 1969...
Aqui no Ritz, ao longo destes 60 anos, tanto se conspirou...
Aqui no Ritz há um profundo amor a Associação Académica de Coimbra, a maior e mais antiga Associação de Estudantes do País!
Aqui no Ritz não se e da Académica; “a Académica corre-nos no sangue”...
Daqui do Ritz, ao longo destes 60 anos, tantos e tantos saíram que também a dirigiram e a prestigiaram...
No Ritz construíram-se sonhos, arquitectaram-se verdades, desenvolveram-se arquétipos!
O café Ritz tem dois snookers, um bilhar livre, várias máquinas de flipers e duas televisões; e era nestas televisões que quando apareceram as telenovelas, as famílias “iam a bica” e viam a novela, enchendo o café... e era aqui no Ritz que se pedia para telefonar para casa (“pai, ontem comemos o cão, manda dinheiro, porque o senhor Rosa já teve de fiar...”)
Foi no Ritz que no dealbar dos anos 60 do século passado se criou, desenvolveu e implementou o conceito do “picadeiro”, num continuo vai-vem pedestre, em plena avenida, de ponta-a-ponta, após a bica do jantar, até a hora limite de entrada nos lares...
Eu estou convencido que, com a partida do Nuno Rosa, será mais um ciclo de vida que se encerra...

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