Mais uma pintura destruída por "restaurador" espanhol
( O trabalho original de Bartolomé Esteban Murillo (à esquerda) e as duas tentativas de restauro. Foto cedida pelo coleccionador / Europa Press 2020)
Li esta notícia no The Guardian. Aconteceu de novo, em Espanha, mas estou certa que algures em Portugal alguém pode estar a estragar uma obra de arte mais ou menos importante. Em Valência, uma suposta cópia de uma pintura de Bartolomé Esteban Murrilo foi destruida por um restaurador de móveis que não entendia lá muito de arte. O original está no Museu do Prado. A tentativa de melhorar o desastre redundou noutro ainda maior, como se pode confirmar. Este pintor é o autor de uma pintura muito conhecida, e de que sempre gostei, intitulada O bom pastor.
Uma vez entreguei uma opala e um anel de prata a um amador para que criasse uma peça única. Tinha visto outras peças dele em exposição e nunca pensei que o negócio fosse correr tão mal. Acabei com uma monstruosidade que nunca fui capaz de colocar nos meus dedos. Cheguei a pensar se essas obras que tinha visto não teriam sido produzidas por outra pessoa. Perante a minha reclamação o"artista" reagiu com estranheza parecendo perfeitamente convencido de ter criado uma obra de arte. Isso desarmou-me completamente. Cheguei a pensar que tinha problemas mentais ou que estava sob influência de alguma substancia! Acabei por ficar com o anel e o prejuízo, fruto talvez da minha incapacidade em lidar com o inesperado. Esqueci o acontecimento, aborrecida, atirando a caixa com a peça grotesca para o fundo de uma gaveta. Alguns anos depois encontrei a caixa e ainda consultei um joalheiro para pedir um orçamento mas nunca cheguei a concretizar o pedido. Acabei por arrumar o assunto em definitivo. A pedra e o anel não tinham o valor desta pintura, mas quer a pedra, que era bem bonita, quer o anel, tinham bastante valor estimativo. Foi um enorme desapontamento mas serviu-me de lição.
Quando as coisas correm mal com um serviço contratado a razão disso pode também estar do nosso lado e não apenas daquele que faz o serviço. Os serviços dos profissionais não são baratos. Um profissional investiu na sua formação, sabe o que faz e cobra por isso. E quem quer um trabalho bem feito é a eles que deve recorrer. Queremos poupar dinheiro, e umas vezes é porque não o temos, mas outras também porque não reconhecemos o valor do trabalho realizado por esses profissionais, considerando excessivo o que nos pedem. Nem sempre o "amador" realiza um mau trabalho mas em certas áreas não é boa ideia facilitar. Ou se tem o dinheiro para pagar trabalho de qualidade ou arrisca-se a acabar com um mono como sucedeu com este coleccionador e comigo.
Li esta notícia no The Guardian. Aconteceu de novo, em Espanha, mas estou certa que algures em Portugal alguém pode estar a estragar uma obra de arte mais ou menos importante. Em Valência, uma suposta cópia de uma pintura de Bartolomé Esteban Murrilo foi destruida por um restaurador de móveis que não entendia lá muito de arte. O original está no Museu do Prado. A tentativa de melhorar o desastre redundou noutro ainda maior, como se pode confirmar. Este pintor é o autor de uma pintura muito conhecida, e de que sempre gostei, intitulada O bom pastor.
Uma vez entreguei uma opala e um anel de prata a um amador para que criasse uma peça única. Tinha visto outras peças dele em exposição e nunca pensei que o negócio fosse correr tão mal. Acabei com uma monstruosidade que nunca fui capaz de colocar nos meus dedos. Cheguei a pensar se essas obras que tinha visto não teriam sido produzidas por outra pessoa. Perante a minha reclamação o"artista" reagiu com estranheza parecendo perfeitamente convencido de ter criado uma obra de arte. Isso desarmou-me completamente. Cheguei a pensar que tinha problemas mentais ou que estava sob influência de alguma substancia! Acabei por ficar com o anel e o prejuízo, fruto talvez da minha incapacidade em lidar com o inesperado. Esqueci o acontecimento, aborrecida, atirando a caixa com a peça grotesca para o fundo de uma gaveta. Alguns anos depois encontrei a caixa e ainda consultei um joalheiro para pedir um orçamento mas nunca cheguei a concretizar o pedido. Acabei por arrumar o assunto em definitivo. A pedra e o anel não tinham o valor desta pintura, mas quer a pedra, que era bem bonita, quer o anel, tinham bastante valor estimativo. Foi um enorme desapontamento mas serviu-me de lição.
Quando as coisas correm mal com um serviço contratado a razão disso pode também estar do nosso lado e não apenas daquele que faz o serviço. Os serviços dos profissionais não são baratos. Um profissional investiu na sua formação, sabe o que faz e cobra por isso. E quem quer um trabalho bem feito é a eles que deve recorrer. Queremos poupar dinheiro, e umas vezes é porque não o temos, mas outras também porque não reconhecemos o valor do trabalho realizado por esses profissionais, considerando excessivo o que nos pedem. Nem sempre o "amador" realiza um mau trabalho mas em certas áreas não é boa ideia facilitar. Ou se tem o dinheiro para pagar trabalho de qualidade ou arrisca-se a acabar com um mono como sucedeu com este coleccionador e comigo.
A ACRE emitiu um comunicado que vale a pena ser lido. Embora a questão do restauro da pintura suscite o nosso riso, tal como aconteceu com o fresco do Ecce Homo que ornamentava as paredes no santuário de Saragoça, em 2012, e que originou memes sem fim, quando reflectida revela problemas bem sérios que começam desde logo na utilização do termo " restauro". Na realidade, nenhum profissional do restauro faria esta intervenção pois isto não é restauro, isto é vandalismo. O texto na íntegra, abaixo.
Comunicado de ACRE por la intervención en la supuesta copia de ‘La Inmaculada del Escorial’ de Murillo en València.
En relación a las últimas noticias aparecidas en los medios sobre la intervención realizada a una supuesta copia de Murillo, desde ACRE queremos dejar claro que no tenemos ninguna información que añadir sobre la persona que realizó la intervención, que desconocemos si la obra borrada y repintada es una copia de la Inmaculada del Escorial de Murillo, así como también desconocemos la identidad del coleccionista al que se hace referencia en la noticia. Únicamente sabemos que el original de esa supuesta copia está en el Museo del Prado. De confirmarse los hechos, tendríamos que lamentar la pérdida, una vez más, de un bien cultural y, en estas circunstancias, solicitamos que esta situación no se convierta en un motivo de diversión mediática y social, como ya ha sucedido con anterioridad. Es más, debería alarmarnos el hecho de que parte de nuestro patrimonio esté desapareciendo por estas intervenciones desastrosas. Desde que existe la formación oficial en España que cualifica para la profesión según los estándares de E.C.C.O., la calidad de las intervenciones de conservación-restauración realizadas por los profesionales españoles están altamente consideradas a nivel laboral e institucional en Europa. Queremos dejar claro que ningún profesional con una formación académica oficial, realizaría este tipo de atentado contra el patrimonio. Por lo tanto, este tipo de hechos no puede ser confundido con una intervención de conservación-restauración, ya que es una aseveración falsa, ofensiva para nuestra profesión y perjudica al patrimonio, pues genera una mayor confusión acerca de quiénes son los profesionales capacitados para ejercer con solvencia esta actividad. Por ello, solicitamos a los medios de comunicación que no se utilice el término restauración, cuando se informe de este tipo de acciones, que no dejan de ser actos vandálicos.
Es lamentable que en pleno siglo XXI no se ponga limitación y orden legal a que personas sin titulación realicen este tipo de intervenciones, cuando en España, y en concreto en la Comunidad Valenciana, hay un gran número de especialistas titulados. Paradójicamente, en los últimos años los profesionales de la Conservación-Restauración se han visto obligados a emigrar o abandonar su profesión por falta de oportunidades laborales, provocando la actual debilidad del tejido empresarial en este sector, agravado además por la terrible crisis que vivimos en la actualidad, y de la que hemos puesto en conocimiento a las entidades gubernamentales. La profesión de Conservación-Restauración es frágil y está en grave riesgo de desaparecer en todo el territorio español.
En la legislación estatal y autonómica referente a la protección del Patrimonio Cultural, no está regulado quienes son los profesionales cualificados para realizar las intervenciones sobre estos bienes. Y esta falta de regulación se traduce en una ausencia de protección de nuestro Patrimonio, ya que permite que personas sin formación intervengan sobre él, enfrentándose, en el mejor de los casos, a simples sanciones administrativas. En definitiva, el desconocimiento y reconocimiento de nuestra profesión, la falta de regulación de esta actividad, clave para la conservación de nuestro Patrimonio Cultural, y las inexistentes o insignificantes sanciones que se imponen ante estos hechos, son un mal endémico en nuestro país, al que debe de ponerse fin por parte de las administraciones competentes.
Comunicado de ACRE por la intervención en la supuesta copia de ‘La Inmaculada del Escorial’ de Murillo en València.
En relación a las últimas noticias aparecidas en los medios sobre la intervención realizada a una supuesta copia de Murillo, desde ACRE queremos dejar claro que no tenemos ninguna información que añadir sobre la persona que realizó la intervención, que desconocemos si la obra borrada y repintada es una copia de la Inmaculada del Escorial de Murillo, así como también desconocemos la identidad del coleccionista al que se hace referencia en la noticia. Únicamente sabemos que el original de esa supuesta copia está en el Museo del Prado. De confirmarse los hechos, tendríamos que lamentar la pérdida, una vez más, de un bien cultural y, en estas circunstancias, solicitamos que esta situación no se convierta en un motivo de diversión mediática y social, como ya ha sucedido con anterioridad. Es más, debería alarmarnos el hecho de que parte de nuestro patrimonio esté desapareciendo por estas intervenciones desastrosas. Desde que existe la formación oficial en España que cualifica para la profesión según los estándares de E.C.C.O., la calidad de las intervenciones de conservación-restauración realizadas por los profesionales españoles están altamente consideradas a nivel laboral e institucional en Europa. Queremos dejar claro que ningún profesional con una formación académica oficial, realizaría este tipo de atentado contra el patrimonio. Por lo tanto, este tipo de hechos no puede ser confundido con una intervención de conservación-restauración, ya que es una aseveración falsa, ofensiva para nuestra profesión y perjudica al patrimonio, pues genera una mayor confusión acerca de quiénes son los profesionales capacitados para ejercer con solvencia esta actividad. Por ello, solicitamos a los medios de comunicación que no se utilice el término restauración, cuando se informe de este tipo de acciones, que no dejan de ser actos vandálicos.
Es lamentable que en pleno siglo XXI no se ponga limitación y orden legal a que personas sin titulación realicen este tipo de intervenciones, cuando en España, y en concreto en la Comunidad Valenciana, hay un gran número de especialistas titulados. Paradójicamente, en los últimos años los profesionales de la Conservación-Restauración se han visto obligados a emigrar o abandonar su profesión por falta de oportunidades laborales, provocando la actual debilidad del tejido empresarial en este sector, agravado además por la terrible crisis que vivimos en la actualidad, y de la que hemos puesto en conocimiento a las entidades gubernamentales. La profesión de Conservación-Restauración es frágil y está en grave riesgo de desaparecer en todo el territorio español.
En la legislación estatal y autonómica referente a la protección del Patrimonio Cultural, no está regulado quienes son los profesionales cualificados para realizar las intervenciones sobre estos bienes. Y esta falta de regulación se traduce en una ausencia de protección de nuestro Patrimonio, ya que permite que personas sin formación intervengan sobre él, enfrentándose, en el mejor de los casos, a simples sanciones administrativas. En definitiva, el desconocimiento y reconocimiento de nuestra profesión, la falta de regulación de esta actividad, clave para la conservación de nuestro Patrimonio Cultural, y las inexistentes o insignificantes sanciones que se imponen ante estos hechos, son un mal endémico en nuestro país, al que debe de ponerse fin por parte de las administraciones competentes.
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