Um bingo especial para jogar na noite dos Oscars!


A noite da 92ª edição dos Oscars está quase, quase a chegar. É já dia 9 de Fevereiro, amanhã. Começa com a transmissão da habitual romaria de celebridades na passadeira vermelha, a partir das 23h30, seguindo-se a cerimónia de entrega dos prémios, a partir da 01h00. Em Portugal, os canais Fox e Fox Movies vão transmitir em exclusivo. Na Fox, na íntegra, com comentários em português. Já no Fox Movies será emitida a versão original da cerimónia, sem locução ou tradução.

Há muito que perdi o interesse em assistir à entrega dos prémios, mas este ano tenho alguns favoritos entre os concorrentes, e irei assistir. Como já devem saber, é claro que estou a torcer por Joaquin Phoenix, mas também por Parasite e por The marriage story. Não consegui ver todos os nomeados pelo que não posso fazer grandes apostas. Aguardo, pois, com bastante expectativa, o desenrolar dos acontecimentos no Dolby Theatre em Hollywood, também porque a entrega das estatuetas mudou muito desde a última vez que assisti.

(Deixo aqui um link para um jogo de Bingo que pode ajudar a passar o tempo de uma forma mais lúdica.)

Como a maioria das pessoas que gosta de cinema, comecei por ser bastante influenciada por essa lista de premiados. Nela constaram, desde sempre, grandes nomes da arte de realizar filmes, grandes intérpretes e outros técnicos imprescindíveis à produção de uma obra cinematográfica ou mesmo compositores. Assim, sempre considerei que depreciar o cinema americano por causa dos Oscars é meio esquisito. Mas também cedo descobri que fora deste clube dourado encontramos outros talentos equivalentes. Nunca me deixei limitar ou influenciar muito por ela, nem por outras listas de prémios, mas estou atenta a todos.

O primeiro contacto que tive com o cinema foi com aquele que a RTP passava nos anos 70, e, sem dúvida, que ver cinema clássico norte-americano, a preto e branco, foi uma escola. R talvez deva a Vasco Granja o meu interesse pelo cinema de animação, em especial pelo stop-motion, que dura até hoje. Outro marco importante foi ter podido assistir às sessões do Festival de Cinema da Figueira da Foz onde via cinema totalmente diferente daquele que nessa época já via nas salas. Cedo me interessei por ver cinema noutras línguas que não o inglês, doutras paragens, entusiasmando-me em especial o cinema asiático, até mais que o Europeu. O Festival também foi importante para me despertar para a importância do cinema documental.  Gosto de ver pequenos filmes independentes norte-americanos, que raras vezes chegam aos Oscars, a não ser que grandes estúdios apostem neles e financiem a sua campanha, coisa que um pequeno distribuidor não tem como fazer. Um filme independente, por exemplo, começa por aparecer no Sundance Festival, em Janeiro. Foi assim para Call me by your name ou Whiplash! Daí até realmente vencer a batalha e disputar a noite de glória com os "grandes" vai muita rodagem: um Oscar não se alcança apenas com talento, é também necessário haver dinheiro para "vender" o filme.

Há muito cinema americano que nunca recebeu Oscars e que tem qualidade. Pensar que a qualidade de um filme se mede pelo número de Oscars é outra tolice. O sucesso parece-nos agora, que estamos a viver este momento, ser feito de estatuetas douradas, muitas críticas elogiosas, muito buzz na internet, muita bilheteira. Mas isso é apenas uma festa, pode até ser uma festança de arromba, mas uma festa é sempre algo de efémero. Estes filmes nomeados que a cada ano desfilam pela passadeira vermelha, brilhando e encantando-nos, depois de uma noite de glória, as luzes apagadas,  podem bem ser esquecidos, não mais ficando deles que uma selfie sorridente. O teste verdadeiro é o do tempo. Se daqui a uns anos largos um filme continuar a ser repescado da escuridão, a ser visto, a brilhar no escuro, então é um grande filme. Acredito nisso. Afinal, Alfred Hitchcock nunca ganhou um Oscar, Gene Kelly- que eu adoro -  nunca ganhou um Oscar. Alguém poderá negar que não nos deixaram cinema de qualidade dentro do género que escolheram? The shining foi completamente ignorado pelos Oscars e até eu, que não sou uma entusiasta do horror, vejo ali um grande filme. Ah, e, porque gosto muito de cinema oriental, Tokyo Story também nunca ganhou nenhum Oscar. São apenas alguns nomes e filmes que me vêm à mente e que o tempo devidamente consagrou. No entanto, há uma certa qualidade que se identifica no tipo de filmes que arrecadam Oscars. Por regra são grandes produções, filmes de encher o olho, tecnicamente robustos. Não é que a forma prevaleça sobre o conteúdo e que as fitas premiadas sejam meros exercícios técnicos. É antes que por alguma razão os filme de baixo orçamento, por muito cativantes que sejam, não conseguem chegar ao palco do Dolby Theater. Não só não demonstram valores de produção como talvez nem exista orçamento dos produtores para entrar na corrida publicitária, a "estrada para os Oscars", que para os "grandes" começa no Outono e acaba no fim do ano.

De facto a grande noite dos Oscars, essa festa luxuosa transmitida para duas centenas de países, é uma enorme campanha de publicidade para todos os envolvidos. Um filme só chega ali se tiver havido dinheiro para investir na sua divulgação junto de um painel vasto de interessados, para que votem neles, exactamente como faz uma qualquer empresa quando quer lançar um produto no mercado, ou quando um candidato eleitoral vai a votos. Os Oscars são uma prova de reconhecimento do talento, mas de um talento específico. É a indústria a premiar-se a si mesma, a demonstrar vitalidade sobretudo comercial. É a indústria cinematográfica norte-americana a escolher entre os seus pares aqueles que melhor servem os seus objectivos do momento, normalmente, o lucro, - sempre mais o lucro do que a arte. Mas também a votar uma tendência que seja do interesse da indústria, por exemplo, dar visibilidade a realizadoras por causa do #metoo  ou vontade de explorar o filão dos  filmes de fantasia, que agora estão em alta, - The shape of water, é um exemplo.

Já o Festival de Cannes, por exemplo, está mais vocacionado para premiar cinema de autor e não os interesses de uma indústria. É por isso que os filmes premiados por uns e outro são bastante diferentes. Um filme premiado nos Oscars tem mais probabilidades de agradar a um público mais lato e é isso que interessa. É quase como se existisse um fórmula que alguns seguirão de antemão se quiserem pertencer àquele clube, de tal maneira, que, quando um filme como Birdman ganhou, muito público habitual do cinema dos Oscars sentiu que não era aquilo que devia ter ganho. Curiosamente. Joker foi o grande vencedor do Festival Internacional de Cinema de Veneza. E, também, curiosamente, estava para ser exibido fora da competição até que o director artístico do Festival o puxou e o realizador resolveu arriscar. Para mim, não é o melhor filme do ano, prefiro a contenção e surpresa de Parasite, à exuberante denúncia de Joker, mas é um bom filme onde, espero, a interpretação de Joker, valha a  Joaquin Phoenix, finalmente, o Oscar que lhe tem fugido. Por vezes, os filmes ali premiados ganham o Oscar de Melhor Filme. Sucedeu com um dos meus vencedores favoritos, Birdman, e também som Spotlight. Não aponto para notar a coincidência mas antes o tipo de filme escolhido.

Ao longo dos meus muitos anos de cinefilia fui amealhando opiniões dos meus amigos e conhecidos, mas também que leio por aí, sobre a atribuição dos Oscars: para uns, que têm a mania que são intelectuais, os filmes que ficam de fora do certame são sempre melhores do que aqueles que conseguiram ser nomeados para os Oscars, selo que equivale logo a desqualificação, orgulhando-se de terem visto filmes que mais ninguém viu, esses, sim, autênticas pérolas cinematográficas. Outros, que os Oscars são uma faustosa festa privada de uns poucos amigos e de mais alguns penetras, um luxo que mete nojo. Costumam acrescentar que são uma forte máquina de colonização cultural dos USA no mundo. Outros nunca vão ao cinema mas depois de serem anunciados os Oscars vão a correr ver o Melhor Filme. Só esse, e assim acham que podem dizer que viram tudo. Uma amiga minha, a Cláudia,  faz sempre isto. Depois diz que não achou nada de especial. Se me dessem 1 euro por cada vez que ela me disse que o Melhor Filme do ano não era nada de especial eu não estaria rica mas podia pagar-me um bilhete e meio! Outros, que os Oscars de antigamente é que eram bons. Depois, tenho ainda alguns amigos para quem os Oscars são o deslumbramento total, parecem até gostar mais da cerimónia do que propriamente dos filmes. Haja paciência para tanta fita! Não esqueçam é o essencial: vejam mas é cinema, o resto são pipocas.   

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