Desafio de escrita dos pássaros #17: Luz e Sombra
A Luz irradiava de uma Torre de muitos quilómetros ligada ao núcleo do Planeta. Os Radiantes abriam as escotilhas negras e raios luminosos estendiam-se como um manto dourado sobre Pantona. Os Sombrios choravam o desolado território assim descoberto pela penumbra. Quando as trovoadas artificiais iluminavam os céus, o arco-íris era uma memória que feria e o verde-musgo uma ténue esperança. A Sombra aprisionara o presente e condenava o futuro. Consumidos pelo desejo de ver tudo, o que estava longe e perto, a revolta contra esta pálida impressão da vida cresceu neles como um fungo.
Um grupo de Rebeldes foi consultar a Consciência do Reino. Ela comunicou que as sortes não eram favoráveis. Pereceriam em vez de renascer das trevas. Guerra, nunca. Negociação era o caminho. Um Emissário partiu e nunca regressou. De novo os Rebeldes a auscultaram sem entender o enigma: “Há luz para além do vermelho ao violeta. A sombra não é nossa inimiga nem a luz nossa aliada.”
O regimento de armaduras negras movia-se a coberto da Fase Escura. Os Radiantes dormiam quando a plataforma energética foi invadida, dominados os poucos operadores ali presentes. Comandaram-lhes que libertassem a Luz sobre o Reino e, quando eles se recusaram, mataram-nos um a um até conseguirem o pretendido. As escotilhas negras subiram lentamente. Selaram as portas da Torre, um grupo de guarda. Outro avançou para o Palácio Radioso e também ali pelo poderio da força e da surpresa conseguiram subjugar as Governanças do Reino.
O assalto fora uma vitória inesperada. Eufóricos, entregaram-se a festejos intoxicantes, observando a Luz crescer com intensidade inaudita. Choravam, deslumbrados com o seu esplendor, não conseguindo desviar o olhar, acometidos por uma cegueira que era o menor dos males. Em Sombria, lentamente, a pele da face e corpos nús que se banhavam na desejada Luz, libertos das habituais máscaras e fatos de protecção contra o álgido quotidiano, começava a borbulhar, a ferver e a cair. Alguns Sombrios refugiavam-se a tempo no subsolo, aguardando o regresso da penumbra com preces nos lábios.
Comentários
Foi um prazer voar contigo :)
Alexandra