Art Sullivan: au revoir et merci




Eu ainda sou do tempo em que as crianças portuguesas sabiam cantar o refrão de canções francesas, que se ouviam na radio. Quel dinosaure, pá. Houve um tempo em que os cantores franceses populavam a nossa radiofonia e era très bon. E em que comprávamos singles deles em discotecas. E já me tinha esquecido. Mais tarde, no final dos anos 80, talvez se recordem da Vanessa Paradis a cantar Joe le taxi, (Et le cha-cha-chi). A miúda lourinha parecia o Art Sullivan e não era por ambos cantarem na língua de Proust: era por terem diastema, vulgo, dentes separados. Mas o tempo em que cantar em francês era sinal de ingenuidade e pura alegria já tenha ficado para trás. Nunca soube a letra do Joe le taxi. Agora o que dantes era bom, parecia pimba, coisa de mauvais goût. E foi preciso a morte silenciar Art para acarinhar de novo o cantor romântico que tinha passado à história e surpreender-me: então não é que ainda sei parte da letra par coeur? Apenas faits divers, dirão vós, sem interesse algum para as Petites Demoiselles ou Uber Joes do nosso tempo. A ninguém, aliás. Art, isto fica entre nós. Au revoir et merci.

C'est dimanche et je la voie, elle descend son escalier,
Et moi seul, abandonné, j'aimerais tant lui parler,
Parler la pluie du vent, de ces beaux yeux d'enfant,
Hello, hello, petite demoiselle,
Hello, hello, c'est une idée rebelle,
Il faudra bien qu'un jour, je te parle d'amour...

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