O espectáculo das influenciadoras
Durante grande parte da minha vida as coisas eram claras: existia a publicidade. Era feita por pessoas que davam a cara e o corpo - ou, melhor, que os vendiam - mas que se limitavam a ser veículo de uma mensagem que gera impacto, não necessariamente conhecendo sequer sobre o que publicitavam, ou não lhe exigindo isso, nós. Coisa diferente eram os "fazedores de opinião", gente oriunda das mais diversas áreas, figuras públicas, com legitimidade e real capacidade para mobilizar o nosso pensamento, e por vezes a nossa acção, por via da opinião que veiculavam através de meios de difusão com certo alcance, os jornais ou a TV. Entre as figuras mais públicas, os artistas sempre ocuparam um lugar à parte na arte da influência ditando tendências e fazendo moda. As criaturas outras eram todas satélites mais ou menos pardos destas estrelas e raras vezes conseguiam que a sua opinião fizesse escola, quanto mais fosse sequer difundida a terceiros.
Com a popularidade crescente das redes sociais todas as pessoas conseguiram um lugar ao sol para a sua opinião. Rapidamente algumas alcançaram destaque e surgiram os influenciadores. São pessoas aparentemente iguais a todos nós mas que supostamente têm o poder de influenciar de maneira directa ou indirecta a opinião de outras pessoas para consumirem um produto ou seguirem um estilo de vida. O seu poder persuasivo será tanto maior quanto mais reconhecimento tiverem por parte dos seguidores que em seu torno orbitam. Estes desenvolveram, mercê da proximidade promovida pela constante partilha de opiniões ou fotografias daqueles, uma sensação de identificação e até de amizade virtual e forte confiança nos ditos influenciadores.
Se até há um par de anos a palavra "influenciadora" se associava a um certo estatuto, actualmente ela é, cada vez mais, sinónimo de descrédito e desconfiança fruto de abusos vários praticados pelas pessoas "influentes". Também muitos criadores de conteúdo original online começam a tentar sacudi-la do seu curriculum para se distinguirem de celebridades que apenas querem tirar partido de fama que lhes granjeou um enorme número de seguidores e que tentam rentabilizar esse acumulo promovendo marcas e produtos.
Tupi Saravia, licenciada em publicidade, é uma argentina com 293 000 mil seguidores no Instagram. Define-se como blogger de viagens. Nas suas palavras: "Soy productora de moda y asesora de imagen. Actualmente me dedico a viajar y a mostrar el mundo a través de mis redes sociales, principalmente Instagram. Básicamente el trabajo era subir diferentes looks con etiquetas de las marcas y, desde ahí, se podían comprar los productos de moda".Com uma conta de Instagram repleta de fotografias pulposas, tem motivado críticas, mas também memes e piadas engraçadas em virtude de uma série de fotografias onde alguém, na Europa, detectou uma mesma nuvem repetida no céu. Martina Tupi Saravia, é filha de Facundo Saravia e neta de Juan Carlos Saravia, músicos de Los Chalchaleros. Começou a dar a volta ao mundo e a colocar fotos na internet em 2015.
Aos anunciantes não deixa de ser difícil perceber se alguém que tem muitos seguidores é realmente capaz de influenciar a opinião de outrem para comprar uma peça de roupa ou visitar um destino.Talvez as pessoas que se juntam no Instagram da Tupi partilhem dos interesses e se identifiquem com o que escreve, ou talvez não. Talvez possam ser influenciados pelas atitudes, opiniões, escolhas e comportamentos. Ou talvez não. Não basta uma multidão de seguidores e Likes para ser uma influenciadora digital: dizem os entendidos do marketing digital que esta deve ter algo de importante e fundamentado para dizer, deve ser uma verdadeira autoridade.
Percebi que esteve em Portugal ao ver as suas fotos no Instagram e percorri-as. Escreveu: El Domingo en Portugal se pasó recorriendo castillos & palacios con @chenzi.ok ✨🇵🇹Este país me parece e p i s h i, me pasa que no me siento Europa. No sé si es el idioma el que le da el toque latinoamericano o quizás el calor inhumano, los colores de las callecitas, la gente .. NO SÉ pero es una versión de cuba con euros claro 💶 Me pareció un destinasaazo para venir con amigos! Además de barato, tiene la mezcla perfecta entre cultura, historia & tremendas playas 💥 En fin, mañana nos vamos para el sur y les seguiré contando como sigue esta aventura. Cualquier duda que tengan pregunten acá 👇🏽que tengan un herrdddmoxxo domingo 🏰. Nos comentários, e não são numerosos, as seguidoras estão muito mais interessadas em saber a marca do vestido que veste, o número que calça e em elogiar a sua beleza do que saber mais sobre Sintra. Diversas perguntas sobre Portugal ficam sem resposta mas Tupi sempre lembra e linka, nos seus breves escritos, a marca dos produtos que usa e consome nos seus passeios. Seguindo o link vamos parar ao Instagram da marca anunciada e lá vemos Tupi fotografada em Sintra, com o par de botas da marca Chenzi. Eis o que me parece: Tupi é, sem dúvida, uma modelo mas como blogger de viagens deixa um pouco a desejar e quanto a ser uma "influenciadora" nem me pronuncio.
Não costumo perder grande tempo com "influenciadoras digitais". Esta implicação das redes com a nuvem da Tupi não me importa muito realmente. Não me integro no seu público alvo. Não me interessam os produtos que anuncia e se desejar visitar um destino prefiro ver fotografias do destino em questão onde um corpo não atrapalhe: necessito é da cor local e não de selfies de turista. Continuo a precisar de conhecimento quando necessito de tomar uma decisão. E conhecimento sobre um destino é mais do que fotografias que suspeito terem sido trabalhadas no Photoshop ou em qualquer similar aplicação, com ou sem nuvens, promovido por um rabo giro.
Se não conseguir fazer aumentar as vendas dos produtos que anuncia no Instagram, Tupi pode congratular-se por vender uma imagem de vida saudável e feliz em cada selfie. A vida que a jovem dá a conhecer no Instagram é uma vida que muitos invejam e desejam: usar roupa da moda e viajar pelo mundo, livre de preocupações, sempre de cara alegre; o corpo que ela exibe, um com que muitas sonham e outras tentam alcançar com esforço. As pessoas deslumbram-se facilmente e deixam-se alienar por vidas de catálogo que não chegam sequer a ser reais estilos de vida.
Não se vislumbra até onde e quando irá ser prosseguida esta viagem da Tupi à volta do mundo em mais de 80 fotografias no Instagram. Já soma 31 países visitados, mais uma vez a vida resumida em números. Parece que nada mais existe nos seus planos senão tirar fotos em poses de modelo a cavalo de monumentos emblemáticos e acumular Likes. Nos países por onde esta jovem beldade rebola o seu rabo giro contra muros seculares e se espreguiça nas areias salgadas com o topo do bikini usado ao contrário ao jeito da italiana Valentina Fradegrada, - deve ser a moda mais estúpida que já nasceu no Instagram, - é tudo perfeito. Tupi não é a única a alinhar selfies felizes em cenários Hollywoodescos, históricos ou paradisíacos, sempre atraentes. Neles nunca cabe miséria, nem desemprego, nem fome, nem crime, nem política. O seu público não quer saber disso e ela faz-lhe a vontade. Quando a realidade imperfeita que a máquina captou não agrada, Tupi lança mão de programas de edição de imagem que acrescentam um céu ideal com as nuvens ideais, de que ela gosta. Por isso é que entendo não haver razão para espanto de maior: o céu editado não passa de um detalhe irrisório no meio de toda esta encenação de vida. A vida é bela sob influência das influenciadoras. Não passa de um espectáculo contínuo para o qual se paga bilhete quando as seguimos. O que me espanta é que ainda haja por aí quem pareça não saber.
Se não conseguir fazer aumentar as vendas dos produtos que anuncia no Instagram, Tupi pode congratular-se por vender uma imagem de vida saudável e feliz em cada selfie. A vida que a jovem dá a conhecer no Instagram é uma vida que muitos invejam e desejam: usar roupa da moda e viajar pelo mundo, livre de preocupações, sempre de cara alegre; o corpo que ela exibe, um com que muitas sonham e outras tentam alcançar com esforço. As pessoas deslumbram-se facilmente e deixam-se alienar por vidas de catálogo que não chegam sequer a ser reais estilos de vida.
Não se vislumbra até onde e quando irá ser prosseguida esta viagem da Tupi à volta do mundo em mais de 80 fotografias no Instagram. Já soma 31 países visitados, mais uma vez a vida resumida em números. Parece que nada mais existe nos seus planos senão tirar fotos em poses de modelo a cavalo de monumentos emblemáticos e acumular Likes. Nos países por onde esta jovem beldade rebola o seu rabo giro contra muros seculares e se espreguiça nas areias salgadas com o topo do bikini usado ao contrário ao jeito da italiana Valentina Fradegrada, - deve ser a moda mais estúpida que já nasceu no Instagram, - é tudo perfeito. Tupi não é a única a alinhar selfies felizes em cenários Hollywoodescos, históricos ou paradisíacos, sempre atraentes. Neles nunca cabe miséria, nem desemprego, nem fome, nem crime, nem política. O seu público não quer saber disso e ela faz-lhe a vontade. Quando a realidade imperfeita que a máquina captou não agrada, Tupi lança mão de programas de edição de imagem que acrescentam um céu ideal com as nuvens ideais, de que ela gosta. Por isso é que entendo não haver razão para espanto de maior: o céu editado não passa de um detalhe irrisório no meio de toda esta encenação de vida. A vida é bela sob influência das influenciadoras. Não passa de um espectáculo contínuo para o qual se paga bilhete quando as seguimos. O que me espanta é que ainda haja por aí quem pareça não saber.
Comentários
Gostei de ler o texto.
Boa semana.
Beijinhos
:)