Os dias de Verão de Sophia de Mello Breyner Andresen



Os Dias de Verão

(Ansiando pelos dias de Verão)

Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo

Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo

O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem

Como se em tudo aflorasse eternidade

Justa é a forma do nosso corpo


Sophia de Mello Breyner Andresen


Sugestão de leitura

O Algarve de Sophia por Pedro Sousa Tavares - As férias algarvias de Sophia de Mello Breyner relembradas pelo neto, o jornalista Pedro Sousa Tavares.

"Nunca aparecia antes das duas, três horas. Não por se levantar tarde - coisa que raramente fazia, apesar dos longos serões - mas por preferir evitar as horas de maior calor. Havia sempre alguém a oferecer-se para a ir buscar a casa mas, muitas vezes, dispensava a oferta, preferindo fazer a pé o trajeto de meio quilómetro até ao areal. Por vezes apanhava boleias improváveis. Num ano, já bem na casa dos setenta, arranjou uma empregada que guiava uma scooter e passou as férias a deslocar-se para a Meia Praia sentada de lado atrás da condutora, à amazona, com uma alcofa numa mão e uma sombrinha japonesa na outra."

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