Mr. Bean: um caso de humor à primeira vista

Poster do filme

Rowan Atkinson. Quem não conhece este actor de comédia. Uns lembram-se dele como o caricatural Mr. Bean, outros como o manhoso Edmund Blackadder e outros ainda como o espião "acidental" Johnny English. A sua criação mais popular é Mr. Bean. Vi, na RTP, muitos episódios de Blackadder, uma série muito criativa, em que as personagens percorriam vários tempos da História de Inglaterra. Vi menos episódios de Mr. Bean. Todavia, aparecem muitos na internet e de vez em quando assisto.

Aprecio o humor mudo,  a comédia de situação e mímica, Keaton e Chaplin são geniais, lamentando até que se tenha tornado uma arte extinta e impossível nos tempos actuais. Mas um dia achei Mr. Bean menos hilariante do que grotesco. Há também quem se incomode por ver nele traços do transtorno de Asperger ou do autismo, já não conseguindo sequer rir nem das suas melhores piadas. Nunca tal a mim me ocorreu pensar. Mr. Bean lembra um miúdo que nunca cresceu e que faz por encontrar o seu caminho num mundo adulto e adverso, apenas compreendido pelo seu ursinho, por vezes seguindo ao volante do seu Mini, e quase sempre à procura do seu próximo desaire. Esquisitinho, mal vestido, sem auto-estima nem préstimo, ui, nem entendo como é que ele pode ser tão querido na ilha da rainha: será que os brits não temem que o mundo tome Bean como a sua medida? Ora isso aconteceu, quando, numa viagem de Expresso, mostraram o filme Mr. Bean's holiday (Mr. Bean em férias) , fita onde ele viaja para a Riviera e acaba no Festival de Cannes. Já não aguentava as suas carantonhas e maneirismos, a sério.  Mr. Bean só em pequenas doses. É um ícone da comédia britânica, um dos produtos pop de maior  sucesso que a ilha exportou, universalmente aplaudido, algo que o tipo de comédia que pratica facilitou, reconheço. Mas num registo de 90 minutos ou mais, torna-se muito cansativo. O filme era previsível, uma empreitada de caretas, ruídos esquisitos, e contorcionismos, absurdos e tolices, e um fraco pretexto de história, que ajudou, ainda assim, a fazer passar mais rapidamente o tempo de viagem a bordo do autocarro.
Poster do filme
Pior do que isso, o Mr. Bean em férias pretende ser uma homenagem assumida ao filme Les Vacances de Monsieur Hulot (As férias do sr. Hulot), rodado em 1951 na estância balnear de Saint-Marc-sur-Mer, em França, escrito, realizado e interpretado por Jaques Tati: ao Hotel de la Plage, na costa atlântica, chega num ruidoso automóvel, conduzido por um veraneante meio trapalhão. É o bem intencionado senhor Hulot, sempre de cachimbo, que vai  instalar a desordem total e acabar com a paz dos finos hóspedes burgueses, ensinando a quem quiser que viver as férias é libertar-se de si mesmo e divertir-se. É um filme com muita graça e poucas palavras, que se vê bem ainda hoje. Experimentem vê-lo com crianças, elas vão adorar. Ora, Mr. Bean não é Mr. Hulot, nem Atkinson é Tati. A homenagem ficou aquém. 

Essa deve ter sido a última vez que dei mais atenção ao Mr. Bean. Ontem, apareceu-me por aqui na internet um título sobre Mr. Bean. Mas não era uma notícia sobre Mr. Bean. Era sobre Rowan Atkinson. Embora bastante cinéfila, não costumo interessar-me pela vida privada dos actores e actrizes, é assunto que não me aquece nem arrefece, a não ser que se trate de algo mesmo muito especial. Quando vi a fotografia de Rowan Atkinson imediatamente pensei: olha o Mr. Bean! (vejam um video muito engraçado em que ele conta num programa de TV, o The Graham Norton Show, um episódio sobre um indivíduo que o viu quando ele procurava uma peça para um automóvel, e  lhe perguntou se já alguém lhe tinha dito  que ele era a cara escarrada e cuspida , - "the spitting image" - do Mr. Bean. Quando mais o actor afirmava que era o próprio, mais o homem acreditava que ele estava a mentir. Não é um episódio do Mr. Bean, mas tem muita graça.)

O cavalheiro está mais velho do que me lembro, grisalho, mas mais jovem do que muitos que conheço, que  já não têm pedalada nem para sair à noite quanto mais para namorar, divorciar, casar e ser pai de filhos. Aos 64 anos, o jovem Rowan vai parar de trabalhar durante um ano para ser pai a tempo inteiro de uma bebé que nasceu em 2017, de sua graça, Isla May. A menina é fruto do seu relacionamento com a nova companheira, actriz de profissão, Louise Ford. Desta forma vai ser mais fácil à mulher dedicar-se à sua carreira.Têm uma pequena diferença de idades, apenas uns bem ginasticados 29 anos. Conheceu-a em 2012, numa peça em que contracenavam, em 2014 assumiram o namoro publicamente... et voilá. Um tipo com muita aceleração, este Rowan, o oposto de Mr. Bean, portanto.


Nisto de fofoquices cor-de-rosa não há página que não esteja enxameada de links que nos levam para mais fofoquices que nos levam para mais fofoquices. Logo soube que a actriz andava de namoro com o também comediante James Acaster antes de tombar de humores com Mr.Bean. Sim, humores. É que acredito que tenha sido um caso de humor à primeira vista. Acaster sentiu um fosso a abrir-se entre os dois - estou a utilizar os termos dramáticos que ele utilizou - quando ela contracenou com Rowan em Quartermaine's Terms no Teatro Wyndham em  2013.  Marylin Monroe costumava alardear, a acreditar na popular citação que circula na internet, que se um homem conseguir fazer rir uma mulher, conseguirá tudo dela. Confirmo. Um homem que me faça rir já conquistou metade de mim. O pior é conseguir deitar a mão à outra metade. Mas no caso de Louise a conquista foi total.

Na verdade o homem que me faz rir nesta história de amores, humores e desamores, é o jovem James Acaster que num número de stand-up comedy anunciou: " Fui trocado pelo Mr. Bean. Descobri um ano depois de eu e a Louise nos termos separado. Abri o jornal e ali estava uma história de uma página. Ninguém mais na história dos tempos foi trocado por Mr. Bean." Se isto não é tipicamente britânico, conseguir rir dos infortúnios próprios, não sei o que será. Acrescentou ele: "Isto é a coisa mais engraçada que já aconteceu a alguém." Uma pessoa que também deve ter achado muita graça ao facto foi a ex-mulher que Rowan que lhe aturou as Beanices por 24 anos.

À boleia desta historieta descobri que o comediante tem uma paixão enorme por carros e possui uma frota que vai renovando, vende e compra, pois não é coleccionador, que dava para montar uma mini Uber de luxo para celebridades e amigos da família real: pela sua garagem passaram já um Aston Martin V8, um Lancia Delta Integrale, um Bentley Mulsanne, um Honda NSX, um MG X-Power SV, Mercedes-Benz 600, Lotus Carlton, muitos Ferrari e ainda um Rolls-Royce Phantom. Tudo ganho a fazer caretas e movimentos esquisitos com o corpo, e sem dizer uma palavra de jeito, hem? Ora pensem lá nisso. Em 2011, Rowan espetou-se contra um sinal de tráfego numa estrada molhada em Cambridgeshire. Seguia decerto a alta velocidade no maquinão, um McLaren F1, um carro de edição limitada, já antigo, todo em fibra de carbono, uma bagatela de 650,000 libras, decerto convencido que era o James Bond e não o Johnny English. Não escrevo isto por escrever: ele é mesmo fã da criação de Ian Fleming.

Uns anos antes, em 2001, a estrela da comédia televisiva Mr. Bean, muito ao jeito dos filmes de Bond  que tenta homenagear a cada paródia do Johnny English, tomou os controles de um avião privado quando o piloto desmaiou e  aguentou firme. (Confirma-se! É um tipo desenrascado, este Rowan, nada a ver com Mr. Bean.) O avião tinha sido fretado para si e família numa viagem ao Quénia. A então sua esposa Sunetra e seus dois filhos, Ben, de oito anos, e Lily, de seis, seguiam numa viagem de 75 minutos entre Mombaça e Nairóbi. Percebendo que o piloto fechara os olhos e se recostara no assento - que diabo de momento para passar pelas brasas! -  o comediante e sua esposa tentaram reanimá-lo, enquanto o avião cambaleava de um lado para o outro, começando a perder altura rapidamente. Atkinson - que nunca havia pilotado um avião antes - assumiu os controles do Cessna. Poucos minutos depois, possivelmente após algumas estaladas, o piloto recuperou a consciência, aparentemente sem saber o que havia acontecido. A viagem de férias da família Atkinson  continuou a partir dali sem incidentes até ao Aeroporto Wilson. Longe estariam de imaginar, quando aterraram em segurança no aeroporto de Nairobi,  que o futuro lhes havia de trazer outros cambaleios e cambalhotas. 

Termino, propondo que apreciem estas manipulações fotográficas bem humoradas. Rodney Pike é um mágico no Photoshop e diverte-se a colocar a careta de Mr. Bean em figuras históricas e pinturas famosas. Passem pelo site de Rodney ou pelo seu  Instagram pois há mais Beanipulações e outras criações para ver.

Mrs Frank Millet Bean by John Singer Sargent.

Napoleon Beanaparte
Thomas Howard by Hans Holbean


Bouguerau Bean Meditation

Rembrandt - Soldier bean

Comentários