Moda: Tommy Hilfiger, Zendaya, e a Batalha de Versailles
De vez em quando, espreito a Nordstrom, e o padrão deste blazer em stretch satinado captou a minha atenção. O mais curioso foi encontrar nos detalhes da ficha do blazer Tommy Hilfiger + Zendaya, que é Made in Portugal. E esta, hein?
A colecção dá-nos ternos, saias de cintura alta apertadas com cintos de tamanho grande, blusas de malha com listras alternadas, calças xadrez com bainha descida, que nos remetem de imediato para o look dos anos 70, mas com um toque de franca actualidade. Redefinindo o poder do vestir, Tommy Hilfiger e Zendaya uniram forças para criar uma coleção de que celebra a inclusão, a individualidade e o empoderamento. É o que se lê. Vejam. Há mais peças com o atraente padrão: um simples lenço por 88 euros com o padrão Zodiac para adicionar um divertido toque de cor à sua roupa! Sem dúvida!
Ah, Belinha, já tardavas. Então é agora que o teu blogue se vai converter aos temas da beleza, moda, do estilo e do lifestyle? Não, nem por isso. Mas ao ler que os designers da colecção encontraram inspiração num célebre desfile dos anos 70, que a imprensa logo apelidou de "Batalha de Versalhes", não resisti a escrever umas linhas sobre o mesmo, ainda que seja um assunto bem conhecido.
A "batalha de Versailles" foi um desfile épico, uma espécie de batalha cultural travada em Novembro, na França, no ano de 1973. O show de moda foi originalmente organizado como um golpe de publicidade para dar visibilidade à moda americana, uma eterna aprendiza da moda francesa. Angariar dinheiro para restaurar o palácio do rei Luís XIV, o grandioso Palácio de Versalhes, de arquitetura barroca francesa, esteve na origem do evento. A "mãe" da Fashion Week, da International Best Dress List, a americana Eleanor Lambert, uma interessante e influente publicitária da moda, deu então a ideia: seria organizado um jantar e um desfile moda, com curadoria de Gerald Van der Kemp. Cinco estilistas de cada país formaram as equipas. A luta começou, primeiro nos respectivos países, com tesouras e agulha e linhas, mas seria decidida sobre o palco, num corpo a corpo de todos os envolvidos com a moda.
A "batalha de Versailles" foi um desfile épico, uma espécie de batalha cultural travada em Novembro, na França, no ano de 1973. O show de moda foi originalmente organizado como um golpe de publicidade para dar visibilidade à moda americana, uma eterna aprendiza da moda francesa. Angariar dinheiro para restaurar o palácio do rei Luís XIV, o grandioso Palácio de Versalhes, de arquitetura barroca francesa, esteve na origem do evento. A "mãe" da Fashion Week, da International Best Dress List, a americana Eleanor Lambert, uma interessante e influente publicitária da moda, deu então a ideia: seria organizado um jantar e um desfile moda, com curadoria de Gerald Van der Kemp. Cinco estilistas de cada país formaram as equipas. A luta começou, primeiro nos respectivos países, com tesouras e agulha e linhas, mas seria decidida sobre o palco, num corpo a corpo de todos os envolvidos com a moda.
O desafio colocou os antigos mestres do design francês contra uma equipa de ousados estilistas americanos, incluindo Halston, Anne Klein, Bill Blass, Stephen Burrows e Oscar de la Renta. Os designers franceses, Christian Dior, Yves Saint Laurent, Hubert de Givenchy, Pierre Cardin e Emanuel Ungaro, estavam certos da vitória, apoiados por um orçamento maior, no glamour e longa tradição. Made in France era uma etiqueta de requinte que garantia tudo o que de melhor existia no mundo da moda. Paris era o berço da alta costura, ali nasciam as tendências que o mundo inteiro depois reproduzia.
O teatro de Versailles era esplenderoso. Aquando da sua construção, a sala rapidamente se tornou um dos mais belos salões da Europa. As decorações em dourado, falso mármore, e tromp d'oeil, e a sua arquitectura criam uma harmonia deslumbrante. Dos tectos pintados suspendem-se lustres. Os americanos devem ter adorado esta beleza artística do velho continente. Diante de uma plateia de 800 pessoas repleta de realeza e celebridades envergando as suas melhores jóias e vestidos - por exemplo, a duquesa de Windsor, Paloma Picasso, Princesa Grace, Andy Warhol, e Christina Onassis, - a moda tomou de assalto o palco histórico. A batalha era afinal entre o velho e o novo, entre estilistas, entre países e até continentes. Lisa Minelli apresentou-se cantando "Bonjour, Paris", ao jeito da Broadway, e encerrando o show com uma prestação memorável. Além dela, também Josephine Baker, expatriada na Europa, cantou naquele evento, adornada por plumas e com um bodysuit transparente e cintilante. E Rudolph Nuryev também dançou. As criações francesas mantiveram-se nos limites da alta-costura, onde sempre tinham sido reis e senhores. Já os americanos apresentaram modelos na linha do pronto-a-vestir , inspirados pelos tempos de rápida mudança, de revolução e liberdade da moderna mulher americana, a cada dia mais interventiva na sociedade.
O show francês. (Print screen Versailles 73) |
A batalha começou até mal para os estilistas americanos, que travaram guerrinhas de protagonismo entre si, além de enfrentarem aborrecimentos técnicos que levaram a erupções emocionais próprias de grandes artistas. Uma, o pouco tempo que tiveram para ensaiar, outra, o seu cenário, calculado em polegadas, não se ajustava agora ao espaço pois tinha sido construído em cm! Então removeram o cenário. As modelos teriam de desfilar num palco completamente despido. A música funk, poderosa, que encheu o ar, fez realçar a presença das belas mulheres, a sua atitude ganhadora, e fez brilhar as diversas propostas plenas de novidade que os franceses nunca tinham visto, algumas inspiradas por África ou pelo Jazz; noutros casos foi a ousadia de meras fantasias que não seriam sequer usáveis que conquistou o público: modelos desfilaram em topless com os seios cobertos por um leque de plumas. A audiência delirou e manifestou-se efusivamente, atirando os programas dourados no ar, pateando, batendo palmas e gritando Bravo! Os americanos tinham vencido os "franciús".
No grupo ganharam destaque as dez modelos afro-americanas. O pagamento oferecido tinha sido considerado magro para uma semana de trabalho em Paris e algumas modelos recusaram o convite. Outras, porém, teriam ido até de borla, pela simples possibilidade de pisarem o mítico solo francês. Bethann Hardison, Pat Cleveland, Alva Chinn, Billie Blair, Norma Jean Darden, Barbara Jackson, Jennifer Brice, Romana Saunders and Amina Warsuma: nenhuma teria adivinhado ao embarcar o desfecho de tal empresa.
A batalha de Versailles mudou a indústria da moda e influenciou a cultura pop. Doravante a criação de moda deixaria de ser um exclusivo francês: o mundo abriria os braços aos estilistas americanos, à moda casual, ao pronto a vestir, que era sinónimo de liberdade em todos os sentidos, até contra os opressivos preços da alta costura. E as modelos afro-americanas ganharam visibilidade e futuro.
O show americano (Print screan Versailles 73) |
Ava DuVernay, realizadora sobretudo aclamada pelo filme, Selma, e a HBO, têm em mãos um projecto para a realização de um filme sobre este acontecimento do mundo da moda, Batlle of Versailles, cujo foco se deslocará, certamente, para a importância da presença de modelos afro-americanos na passerele e do seu impacto na indústria. Seguirá o livro de Robin Ghivan - Battle of Versailles:The Night American Fashion Stumbled into the Spotlight and Made History. Jornalista e crítica de moda, Ghivan ganhou o prémio Pulitzer pelo seu trabalho nesta área.
A M2M também produziu um documentário, já de 2012, - Battle At Versailles: The Competition that Shook the Fashion Industry sobre o desfile. Foi realizado por Fritz Mitchel, e nele estão reunidos depoimentos das participantes, além de se relatar o desenrolar dos acontecimentos deste singular desfile de moda de forma concisa e vibrante.
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