Goucha entrevista Mário Machado, a cara da extrema-direita em Portugal




Estive a ouvir a entrevista de Goucha a Mário Machado, que muitos identificam como a cara da extrema-direita em Portugal. O homem foi ao programa de manga comprida, felizmente é inverno, era aqui muito conveniente tapar a suástica que tem no braço direito, um dos símbolos da supremacia branca : "É o símbolo das nossas tradições e dos povos arianos que habitavam a Europa desde o princípio", diz em peça de 2005 quando se manifestava, em Lisboa, a pretexto do (falso) arrastão de Carcavelos contra os imigrantes = criminosos, e usava cabeça rapada e roupa negra. Em declarações à SIC, diria: "Temos de dizer aos portugueses que existem brancos, que há muito orgulho em ser brancos. E. estamos aqui para defender os interesses dos portugueses. Nós somos portugueses há 850 anos, não somos há 30. O nosso BI não é comprado no Martim Moniz nem aqui no Rossio, a nenhum preto nem a nenhum marroquino. E eles não podem pensar que vêm para aqui fazer o que querem.”A jornalista confrontou Mário Machado, dizendo que estava a fazer declarações racistas e xenófobas. Machado respondeu de imediato: “Não é racista. Eu ter orgulho em ser branco não é ser racista”.

O que foi Mário Machado fazer ao Você na TV, pergunto? Entretenimento mascarado de debate político? Debate mascarado de entretenimento? Ou talvez fraca comédia negra? Será Mário Machado um espertalhão, que aprendeu bem os truques da propaganda do Estado Novo? Ou sofrerá de alguma espécie de delírio? E Luis Goucha, há tantos anos na TV, terá vendido a pinga de ética que lhe restava em nome da guerra de audiências com Cristina? Ou descuidou-se grosseiramente em matéria de responsabilidade televisiva  como cara que é deste programa? É que parecia desconhecer de todo - ou ter medo de confrontar - quem realmente é Machado. A postura mais estranha é ainda a de Bruno Caetano, o repórter de quem nunca ouvi falar. Sendo ele quem coordena a rubrica Diga de sua in(justiça), não só não disse nada que se aproveitasse como não fez qualquer contraditório relevante ao convidado que teve carta branca para dizer o que melhor entendeu. Não vi contextualização das suas afirmações, não há qualquer explicitação útil por Bruno Caetano, que se limita a balbuciar meia dúzia de palavras ao longo da rubrica Diga de sua in(Justiça).

Tudo teria corrido bem se o tivessem convidado para falar da sua receita de culinária predilecta. Mas não foi isso o que aconteceu. Maria Cerqueira e Goucha quiseram distribuir beijinhos e palmas, e servir justiça, leia-se re-escrever a história de Machado, tudo ao mesmo tempo. É um objectivo um pouco torcido, mesmo em tempos dos maiores jogos de cintura televisivos de que há memória. O que resultou foi vermos a Democracia a ser duplamente atraiçoada. É Mário Machado a fazer propaganda em nome da ditadura e pelo seu novo eu, o Machado reinventado, em tempo de antena privilegiado, por um lado; e a TVI a  ceder à fabricação de polémica fácil para comandar a guerra pelas audiências, por outro. Mas qual é mais enganador? Qual dos dois é mais perigoso para a Democracia? Um homem sobre quem não há dúvidas - já que nem sequer tem conseguido iludir a Justiça como tantos figurões conseguem- quanto ao seu perfil criminoso? Descubram o seu cadastro criminal vastíssimo, nos links abaixo, ou ouçam o podcast. Defendamos, no entanto, que Machado que respondeu pelos seus delitos e cumpriu pena, se redimiu, e que tem direito a uma segunda oportunidade na sociedade. Ora, logo no início do programa ele mesmo diz que não se arrepende dos erros cometidos! Lindo. Um homem sem experiência ou credibilidade política que  vem dizer que quer formar  um partido quando a NOS conseguir as 7500 assinaturas. Irá ele invocar a sua experiência como líder de movimentos marginais de inspiração neo-nazi como os Hammerskin ou a Frente Nacional para obter votos? Acreditará mesmo que é com um ideário nacionalista e a sua idolatria saudosista de Salazar que vai chegar à AR? Claro que não vai. Porque Mário Machado não engana ninguém. Já se a TVI não convida quem seja  capaz de contradizer seriamente Machado, e o deixa encher o ar de mentiras e meias verdades, poderá grandemente concorrer para enfraquecer o nosso conhecimento e capacidade crítica, e contribuir para que, um dia, muitos venham a votar em Mários Machados e seus sucedâneos. Agradeçamos à TVI ficar a saber quem ele não é, e não quem ele é. Esta  distorsão da verdade é que é perigosa para a Democracia e é por isso que esta entrevista foi uma afronta.

Se não viu, leia. No programa Você na TV, Machado afirmou que é um nacionalista a 100%, convicto de que é o melhor para o país, que esteve preso 12 anos, mas que não tem qualquer tipo de arrependimento dos erros cometidos no passado já que os erros lhe serviram para formar o homem que é hoje. Referiu que em 1995 houve um confronto entre um grupo de africanos e nacionalistas e um africano acabou por morrer. Mário Machado fazia parte do grupo de onde saíram a dezena de jovens que promoveu o ataque. Diz, todavia, que devido ao falhanço da Justiça é que foi preso. Tinha então 18 anos, era militar, voluntário. Mais tarde os juízes reconheceram o erro e que acabaram por absolvê-lo, dois anos e meio depois, mas o fardo continua sobre as suas costas. Estava no sítio errado, à hora errada e tinha 18 anos. Foi apenas isso, diz ele. Machado ainda referiu que a mãe dos seus filhos também esteve presa 6 meses. O ódio ao sistema alimentou a sua vida durante muito tempo, mas hoje é alimentado pelo amor ao seu povo, à sua pátria. O seu discurso nacionalista já foi marcado pelo ódio, mas agora não, que é isso que tenta passar aos seus camaradas, não odiar os outros, amar os nossos. Contou que também foi condenado por ter escrito um texto na internet, foi o primeiro português a quem aconteceu semelhante coisa. Não era um texto a apelar à morte de ninguém, era um texto que apelava aos nacionalistas para a mobilização e apanhou dois anos e meio de prisão por escrever este texto. E depois perguntou quem é que esteve dois anos e meio preso por escrever um texto no tempo de Salazar, em jeito de queixa sobre a liberdade de expressão, direito que acha que não teve. É que, disse, “em democracia” isso já lhe aconteceu. Sobre a  Nova Ordem Social, é um movimento político que quer ser um partido político em 2020. Machado julga que é um tornado que vai aparecer na ordem portuguesa, à semelhança dos ventos de mudança que sopram no mundo. A NOS defende colocar os portugueses em primeiro lugar.


No início do bloco, em rodapé, li que Machado é advogado e fiquei surpreendida. Ele, a dado ponto, também se apresenta como jurista, mas deve ser apenas Licenciado em Direito. Quando é que a Ordem dos Advogados  iria permitir que um homem com um cadastro como o dele exercesse advocacia? Tem de ser engano, obviamente, mas ajuda à imagem do bom rapaz em que ele quer que acreditemos. E, sim, há algum mérito em ter estudado enquanto esteve preso. Mas em falsear informação já não.
Foi Bruno Caetano, jornalista, quem o convidou para a rubrica de que é responsável, não Goucha, e Bruno justificou-se dizendo que teve conhecimento deste projecto, da Nova Ordem Social, e da manifestação que Machado vai realizar em Fevereiro para celebrar Salazar e que ficou curioso. Bruno também acha que faz falta um novo Salazar em Portugal, no que a autoridade respeita. Já Machado afirmou que ele faz falta porque foi honesto, investiu nas obras públicas, livrou Portugal da guerra, porque em toda a parte ouvimos que Salazar faz falta. No tempo de Salazar, havia respeito pela autoridade policial e respeito pelos antigos. Goucha replica, a propósito de Machado dizer que foi preso por ter escrito um texto: lembra-lhe que as pessoas eram exiladas por ter opiniões diferentes, pensamentos que divergiam do pensamento único que Salazar tinha imposto a uma sociedade inteira. Machado contradiz que hoje existe também o estigma do pensamento único, que hoje toma o nome de “politicamente correcto”. Refere que os apresentadores já foram trucidados nas redes por o terem ali no programa o que demonstra que não é fácil ouvir opiniões discordantes. Temos que situar Salazar à época, afirmou, era outra época, outro tempo. Goucha não se fica e diz-lhe que Salazar era um homem honesto, mas com uma visão tacanha do país, que não permitia nem inovação, nem mudança, e que também não permitia opiniões dissidentes. Mário Machado responde que não sabe se era bem assim, Goucha reafirma que havia censura em todas as artes, na literatura, no teatro, na imprensa – por isso ninguém escrevia um texto que fosse publicado – no teatro, etc. Machado diz então que temos de pesar Salazar com os líderes que existiam à época - Hitler, Mussolini, Estaline,- e ver quem foi mais correcto e menos correcto, quem era mais tolerante.

Goucha concorda com Machado quando ele diz que hoje não se respeitam os mais velhos, mas que é uma crise de valores e não vê que seja preciso um Salazar para impor esses valores. Resposta de Machado: vivemos num regime e num sistema onde se dá mais valor ao materialismo, ao dinheiro, ao individualismo, e no tempo de Salazar dava-se mais valor às pessoas, à família. Esse conceito desapareceu. Nesse aspecto o regime de Salazar teve influência. Hoje os velhos são descartados da sociedade e nesse tempo isso não acontecia Machado chama os números: em 100 casamentos, havia 6 divórcios, hoje em 100 casamentos, há 60 divórcios. Goucha volta-se também para a estatística: em cada 100 portugueses, 25 eram analfabetos. Diz que Salazar não promovia a cultura, que isso não lhe convinha. Machado, invocando que ele herdou um Portugal rural, tenta defender Salazar, Goucha diz então que Salazar promoveu um Portugal rural e analfabeto. Ao menos livrou-nos da guerra, diz Machado, não sendo capaz de ir mais longe. Machado chama em sua defesa, e contra os democratas que fizeram o 25 de Abril, a má descolonização, Goucha justifica esta com o arrastar da guerra colonial.

Maria Cerqueira, a colega de Goucha, vem pôr termo à guerra de argumentos, recolocando a conversa no tópico da vida pessoal do entrevistado. Segue para entrevista de rua, de pessoas que circulam no Cais do Sodré, sobre a necessidade ou não de haver um novo Salazar. Algumas não quiseram que a entrevista fosse gravada. A tendência parece ser que os mais velhos dizem que sim, os mais novos, dizem que não: não abdicam da democracia, da livre expressão, não querem o retrocesso de Portugal. Portugal devia melhorar em muitas coisas mas sem um Salazar. Os que estão por um novo Salazar, invocam a actual anarquia, a corrupção, mau exemplo político, governos iguais. Em conclusão: as pessoas estão desiludidas com os políticos e a política, viver em democracia é positivo, não querem um novo Salazar em Portugal. Goucha questiona Bruno Caetano e este diz que a Europa vive tempos de desconfiança, e que esta é a oportunidade do extremismo: da extrema direita bastante vincada. Goucha regressa a Manuel Machado que responde que não é racista e que vai ter de aparecer com os amigos africanos na televisão para ver se lhe retiram de vez esse rótulo. Também não é xenófobo, adora ser europeu, adora todos os europeus, desde que não venham para cometer crimes. Em relação aos africanos, existe um problema dessa comunidade em relação ao crime, diz Machado, que eles estavam em maioria nos estabelecimentos prisionais que frequentou. A organização de Machado, a Nova Ordem Social, considera-se anti-racista, e que os ataques racistas em Portugal partem dos gangues que escolhem vítimas brancas. Pormenor ternurento, a mãe do Mário mandou beijinhos ao Manuel Goucha! (Lindo.) Para o final, Goucha diz que vive com um homem há 20 anos e pergunta a Machado se ele tem alguma coisa contra ele, ao que Machado responde “se tivesse não tava qui hoje". (Ainda mais lindo) Todos riem e batem palmas. Fim.

Espátula, raspador, raspadeira, rapa-tudo, rapa-tachos ou Salazar. O objecto que ainda bule nas nossas cozinhas e que serve para aproveitar até ao fim aquela massa de bolo ou bola, leva o nome de Salazar, o tal que gastava as solas dos sapatos até se romperem e que estrangulou os destinos de Portugal da melhor forma que soube e pode, orgulhosamente só. Antes de me adiantar, que fique claro: este Salazar, feito de borracha e madeira, ou talvez em silicone e cabo inox, em nome da modernidade e do design, é, realmente, na minha opinião, o único de que Portugal precisa. Ninguém em seu pleno juízo pode desejar que o seu país seja governado por um ditador. E, não, não podemos isolar as coisas boas de Salazar dizendo que o queremos de volta porque era um modelo de poupança quando mandou pessoas inocentes para o Tarrafal. Seria o mesmo que eu invocar que Hitler também gostava muito de animais e que seria bom ressuscitá-lo e metê-lo à frente da União Zoófila mesmo que matar 15.000 pessoas por dia não lhe tirasse o sono. Ainda agora comecei a escrever e já chamei o nazista para o assunto: é a Lei de Godwin: "À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%." Diz-se que quando se recorre a Hitler numa discussão longa significa que se ficou sem argumentos. Mas ainda nem comecei e ainda tenho muitos argumentos. E, além do mais, nem era preciso trazer o nazi para a discussão: parece que ele já lá estava.

Vejamos melhor algumas coisinhas ditas na TV. O evento que Mário Machado descreveu aconteceu em Lisboa, no mês dos Santos Populares, em pleno bairro alto, coincidindo com a vitória do Sporting, no dia 10 de Junho, antigo “Dia da Raça”. Meia centena de jovens brancos terá tomado o lugar de assalto, armados de ferros e o que mais lhes viesse ter à mão no caminho, de tal forma que os estabelecimentos fecharam com medo dos cabeças-rapadas. Entre as 23 horas e as 3 da madrugada, foi violência nunca vista, mesmo em lugar de habituais rixas de bebedeiras. A violência foi dirigida a um grupo em particular: os negros. Foram detidos sete homens e duas mulheres e 12 jovens negros encaminhados para as urgências do Hospital de São José. Os agressores usavam botas de biqueira de aço – na maioria da marca britânica Doc Martens e Sendra - e da ponta delas se retiraram cabelos humanos da vítima para análise. Dos nove detidos, dois eram militares no activo, um dos militares era Mário Machado, 2º Cabo da Polícia Aérea da Força Aérea Portuguesa; uma das detidas, a sua namorada, que seria ilibada de todas as acusações, passados seis meses.

Mas, e tal como venho a dizer, desde o início, é uma afronta que Mário Machado tenha sido dada oportunidade de mentir. Leia-se esta passagem, de peça da autoria de Rui Tavares:  Mário Machado foi sim condenado por “oito crimes de ofensas corporais com dolo de perigo”. “Dolo directo e intenso”, como escreve o tribunal numa passagem em que refuta explicitamente que os ataques se tenham tratado de uma “rixa”: “não houve contenda, não houve rixa, mas apenas agressores de um lado e agredidos do outro”. Nos “factos provados” listados pelo Supremo há pelos menos três situações diferentes de agressões a cinco pessoas, logo no início dos acontecimentos, em que Mário Machado foi dos primeiros a tomar iniciativa de agredir as vítimas com um “pau, semelhante a um taco de baseball”. É assim que se iniciam as agressões a Alberto Adriano, a quem “desfere com o 'taco de baseball' uma pancada na cabeça”. Alberto Adriano foi depois espancado pelos criminosos enquanto “iam gritando 'este é preto, mata-o'” e no fim foi abandonado inconsciente no meio da rua. O mesmo sucedeu a João Soares, agredido noutro lugar da mesma forma, sob a mesma iniciativa e pelo mesmo grupo em frente à sua namorada, branca, sob os gritos de (sigo citando o acórdão) “'mata o gajo, negro da merda'” até ser deixado “prostrado no solo, sem se mover”. Só a leitura das lesões provocadas a João Soares leva quatro páginas e 27 itens diferentes. O acórdão nota, falando sobre Mário Machado e estes acontecimentos em que teve participação direta, que “o arguido […] denota completa ausência de arrependimento”.

Ora, exercendo o direito de resposta, Mário Machado esclarece, em artigo de 2014, sobre o assassinato de Alcindo Monteiro, do Observador, sobre este episódio: "Eu fui condenado por “ofensas corporais simples” — repare, “simples” — por me ter defendido do ataque de um grupo de cerca de 15 indivíduos de raça negra, junto ao café “O Minhoto”, episódio que é parcialmente referido no artigo — que dá apenas uma versão, distorcida, da história. Esses ataques racistas, segundo várias testemunhas, já tinham começado na final da Taça de Portugal, e continuaram no Bairro Alto. Eu nem sequer estive perto do local onde foi assassinado Alcindo Monteiro, que terá ocorrido perto do local onde hoje é a FNAC do Chiado, e eu fui atacado no Bairro Alto, ou seja, a quilómetros de distância, como aliás ficou provado em Tribunal. Se assim não fosse, nunca teria sido condenado a “apenas” 2 anos e meio de cadeia e teria sido condenado a 16 ou 18 anos, como foram outros que estavam no local do crime.

Ou seja, Mário Machado vem dizer que nunca foi julgado por homicídio mas por agressões físicas ligadas ao caso, mas, não diz a verdade toda. Indiscutível que andava em excelente companhia e que era um santinho que teve o azar de estar na hora errada no sítio errado, tal como Alcindo Monteiro, que morreu à biqueirada e a golpes de ferro e barrotes de cimento às mãos dos seus amigalhaços. O que é facto é que este santo nunca mais conseguiu deixar de estreitar laços com a justiça, estava-lhe na massa do sangue. Doravante, irá continuar a recolher louvores no seu curriculum delinquente por crimes de roubo, sequestro, discriminação racial, coação agravada, detenção de arma ilegal, danos e ofensa à integridade física qualificada; de difamação, ameaça e coação a uma procuradora da República; e de posse de arma de fogo. Todavia, sempre que lhe dão voz, é uma desafortunada vítima.

Fiquei curiosa em relação à sua afirmação de primeiro português a ser condenado por ter escrito um texto inofensivo na internet pelo que fiz um busca e encontrei. Pensei que fosse um poema à brava raça lusitana ou coisa assim, mas não. Trata-se de uma carta aberta onde ameaçou a procuradora Cândida Vilar, carta aberta, que esteve no site da Internet do Fórum Nacional (conotado com a extrema-direita) em 2007, pelo facto de a magistrada ter proposto a sua prisão preventiva num processo em que respondia por discriminação racial e outros crimes. Na carta aberta, Mário Machado apelava a todos os nacionalistas para que não se esquecessem do nome de Cândida Vilar comparando-a à "Inquisição". Machado devia pensar que estava a lidar com mais um dos seus rivais ou membro de algum gangue, não sabia, porque ainda não tinha estudado Direito, que um procurador  tem categoria, tratamento e honras iguais aos do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Na sequência disso, o MP decidiu acusar Mário Machado pelos crimes de ameaça, coação e difamação, tendo o processo seguido para instrução e, depois, para julgamento. 
Após uma década de prisão, onde casou e onde acabou por aproveitar o tempo para estudar e tirar o curso de Direito na Universidade Autónoma de Lisboa, enaltecendo a ajuda da sua mulher, no processo, Machado saiu em liberdade condicional. No curriculum alternativo de Machado conta-se ainda a liderança do movimento Portugal Hammerskins (PHS), - ainda pensei que fosse algum grupo de heavy metal, mas não é assim – e do movimento de extrema-direita Frente Nacional. 
O meu episódio favorito de Machado aconteceu em 2006 quando mostrou uma espingarda semi-automática de oito tiros na RTP dizendo tratar-se de uma arma de defesa que todos devíamos ter em casa, e que outros simpatizantes da ideologia possuíam o mesmo tipo de armamento, às dezenas, estando preparados para tomar de assalto as ruas caso fosse preciso. É claro que foi detido por posse de armas ilegais, dessa e de outras achadas em sua casa. À entrada do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) de Lisboa lamentou-se dizendo ser um "preso político" cujo único crime "é ser nacionalista num Estado opressor socialista".

A peça jornalística afirma ainda que Machado, o dirigente da Frente Nacional, um movimento que apoiava o Partido Nacional Renovador, foi o organizador de manifestações em Lisboa contra a criminalidade alegadamente desencadeada por imigrantes, - já referida no início - e em Vila de Rei contra a instalação de cidadãos brasileiros no concelho. Ora,  aqui o temos, o nosso Machado que, relembremos, se disse ser nada racista, nada xenófobo no Você na TV. Tenho a certeza de que nunca usou o ditado popular citado por Aquilino Ribeiro, na obra O Malhadinhas: "De moço refalsado e de sangue misturado, livrai-nos Deus. "

Em 2018 organizou uma homenagem a Salazar, reunindo militantes da Nova Ordem Social e simpatizantes do ditador, no cemitério do Vimieiro, em Santa Comba Dão. E, para bem abrir o ano de 2019, foi à TVI atirar-nos areia para os olhos. Só faltou mesmo apresentar-se descaradamente como o Salazar do séc. XXI, mas por este andar alguém o fará por ele.
Sugestões:

Para ouvir: Podcast Eixo do Mal, sobre este assunto.

Para ler: Texto atribuído a Mário Machado, que nunca desmentiu a autoria, referido por Daniel Oliveira, no Eixo do Mal:

O ódio é um sentimento tão nobre quanto o amor, faz parte da nossa natureza e tudo o que vai contra a natureza é que tem que ser combatido. Vejo os nossos políticos, e a comunicação social por exemplo, mais preocupadas em combater o ódio do que a censurar os paneleiros, os pedófilos, e afins.

Adoro a confrontação física, agarrar na escumalha e dar-lhes pontapés na cabeça, socos, sentir a adrenalina a disparar, a emoção ao fugir à policia.
Um dos anos mais felizes que tive foi o ano que esfaqueei 11 pessoas, record absoluto, o sentir da faca a entrar, o inimigo a desfalecer, o seu olhar de panico, tudo isto em conjunto dá-me vida, recarrega-me as baterias.
Adoro bater nas pessoas!

Irmã de Alcindo Monteiro: "Quem esteve no sítio errado à hora errada foi o meu irmão"

De facto, no acórdão de 1997 do Supremo Tribunal lê-se: "Os arguidos perfilham ideias que fazem apelo ao "nacionalismo" e "racialismo", onde a vertente racista está sempre presente, e exaltam a superioridade da raça branca, considerando a raça negra como uma raça inferior e a expulsar de Portugal. E é na prossecução de tal desígnio, a que de forma coletiva aderiram todos os arguidos intervenientes em cada uma das agressões a ofendidos acima descritas, que estes atuaram, agredindo todos os indivíduos de raça negra que se cruzavam no seu caminho. Querendo com essa atuação, integrada nos objetivos do grupo de "Skins", contribuir para a expulsão de Portugal daquele grupo racial. Todos os arguidos intervenientes em cada uma das agressões a ofendidos acima descritas atuaram em comunhão de esforços, querendo atingir a integridade física e a vida dos ofendidos, por serem indivíduos de raça negra, o que conseguiram.Bem sabiam os arguidos intervenientes em cada uma das agressões a ofendidos acima descritas que os objetos que utilizaram (soqueiras, paus, botas militares e outras com biqueiras em aço, garrafas partidas, ferros), revestem características que, quando usados da forma referida, são aptos a causar lesões suscetíveis de provocar a morte aos atingidos ou colocá-los em risco de vida ou de causar uma grave ofensa à sua integridade física. E que todos iriam fazer uso desses objetos, o que queriam, conformando-se com o resultado das agressões praticadas com os mesmos."

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