Gabriela Moita diz que a Bela Adormecida foi violada!
A actriz Kristen Bell - voz da Princesa Anna, no filme Frozen - referiu há dias que a história da Branca de Neve passa um mau exemplo às crianças no que toca à forma de lidar com estranhos - pelo facto da Branca de Neve ter aceitado uma maçã de uma estranha, a bruxa - e quanto ao consentimento - pelo facto de o príncipe ter beijado a Branca de Neve durante o sono sem ela ter autorizado o beijo. Mas porque não lê Kristen às filhas a versão dos Irmãos Grimm onde o príncipe leva uma bela princesa aparentemente morta dentro de um caixão de vidro para casa? A caminho, pela estrada de campo, o caixão ressalta na carruagem e solta-se da garganta da donzela o pedaço de maça! Ela sai do caixão removendo a tampa, até faz lembrar a Beatrix Kiddo, que após quatro anos de coma acorda em busca de vingança, não?
E Gabriela Moita, em entrevista no Público, também não gosta da Bela Adormecida, diz que "de facto, as princesas até são violadas. Então a Bela Adormecida? Ela não consentiu o beijo que lhe é dado!" E depois continua: "São histórias belíssimas que todos ouvimos na infância. Isto está tão bem montado que todos nós estamos sempre a pisar em armadilhas cor-de-rosa. E é através desta subtileza da nossa educação que nós nem percebemos quando estamos a fazer manutenção deste mesmo sistema."
Uma busca por Bela Adormecida no Google, quando procurava uma imagem da Bela, revelou-me um caso, em Inglaterra, onde uma mãe também está contra a narrativa. que passa uma mensagem sexual inapropriada, a história ensina aos menores que é aceitável beijar uma mulher quando ela está a dormir. "Enquanto tivermos este tipo de narrativas na escola, nunca vamos mudar as atitudes que estão enraízadas no que toca ao comportamento sexual", refere Sarah Hall. Ela pretendia que a escola removesse o livro das leituras na sala.
E Gabriela Moita, em entrevista no Público, também não gosta da Bela Adormecida, diz que "de facto, as princesas até são violadas. Então a Bela Adormecida? Ela não consentiu o beijo que lhe é dado!" E depois continua: "São histórias belíssimas que todos ouvimos na infância. Isto está tão bem montado que todos nós estamos sempre a pisar em armadilhas cor-de-rosa. E é através desta subtileza da nossa educação que nós nem percebemos quando estamos a fazer manutenção deste mesmo sistema."
Uma busca por Bela Adormecida no Google, quando procurava uma imagem da Bela, revelou-me um caso, em Inglaterra, onde uma mãe também está contra a narrativa. que passa uma mensagem sexual inapropriada, a história ensina aos menores que é aceitável beijar uma mulher quando ela está a dormir. "Enquanto tivermos este tipo de narrativas na escola, nunca vamos mudar as atitudes que estão enraízadas no que toca ao comportamento sexual", refere Sarah Hall. Ela pretendia que a escola removesse o livro das leituras na sala.
Os beijos nos contos de fadas têm sobretudo um significado mágico, embora estejam ligados a sentimentos vários, afeição, até mesmo romântica, compaixão, etc, eles muitas vezes libertam as personagens de feitiçarias maldosas, no caso da Bela e da Branca de Neve são príncipes que que agem, mas o inverso também existe, personagens femininas, donzelas, princesas que beijam monstros, animais, que se libertam assim, por magia, dos feitiços e retomam a sua forma humana: invariavelmente vivem felizes para sempre, pois, o que é beijado e o que beija. É tudo irrealista e fantasioso. Faz parte da estrutura dos contos: uma situação sem solução é facilmente resolvida através da fantasia, neste caso, o beijo. Custa-me acreditar - porque cresci a ler todas estas histórias e ainda há poucos anos comprei uma coleção destes contos lindamente ilustrada, para mim - que as crianças que crescem neste quadro de leituras estigmatizantes - segundo as opiniões destas senhoras e muitas outras, em especial a partir da efervescência causada pelo movimento MeToo - ficam prisioneiras destas aprendizagens e não conseguem, depois, pensar a realidade e tomar decisões maturas e justas quando chegar o tempo. No conto, ao contrário da vida, é tudo simples e quase a "preto e branco": o espaço, as personagens - pobres ou ricas, boas ou más, a solução mágica, etc. Esses contos não protegem as crianças de receios, pelo contrário, mostram situações de horror, conflito ou violência, obrigando-as a lidar com o medo e a insegurança num ambiente seguro porque de fantasia. E no final promovem uma solução reconfortante que deixa a criança feliz. Mas com que idade é que uma criança começa a distinguir entre reinos das fadas, dos monstros e dos dragões e vida real? Diria que muito cedo e hoje cada vez mais cedo as crianças são estimuladas e se desenvolvem precocemente. Mas não sou pedagoga. O que me intriga é como aceitar o argumento de que estes elementos mágicos dos contos e esta sua mensagem - um beijo não consentido acorda uma princesa adormecida por 100 anos! - irão impactar de forma negativa e decisiva a formação da criança levando a que mais tarde, adulta, considere que uma violação não é grave porque uma mulher está inconsciente? O que faz uma afirmação destas por esta problemática? O que esclarece? O que fundamenta? Nada, mas faz-nos duvidar da razoabilidade de juizos de quem a proferiu. Safa! Até parece que os beijos estão amaldiçoados: a semana passada era o beijo no avô, agora o beijo na princesa adormecida. Com mais tempo voltarei a este assunto.
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