Serena Williams: já não se pode desenhar serenamente




Já não se pode desenhar Serenamente. Que o diga Mark Knight que tem sido massacrado em virtude do seu cartoon de Serena Williams. Há quem não aceite a sua defesa de que visava apenas o mau comportamento de Serena no court e não a raça, as desculpas de que não conhecia nada sobre Jim Crow, um personagem dos palcos, o primeiro estereótipo do negro afro-americano, o branco de maquilhagem negra, uma espécie de idiota preguiçoso, a que ainda há pouco Childish Gambino fez alusão no seu videoclip This is America. (Outros se lhe seguiram, a "Mammy", o "Uncle Tom", etc. Mais recentemente, novos estereótipos: o "drug dealer", por exemplo. Outros estarão na forja.) Mark afirmou ainda que desconhecia a caricatura racista - o "coon caricature" (onde o negro era visto como um ser acriançado) ou o "sambo caricature", (onde era retratado como um leal servo) tipos de desenho de teor abertamente racista que pulularam nos EUA durante a escravatura e que permaneceram no tempo, com paralelo até em personagens desenvolvidos no cinema. Espanta-me que Mark não conhecesse estes desenhos mas já compreendo que não os tenha tido presentes quando desenhou se até jura que nem lhe passou pela cabeça a questão racial. Difícil de acreditar? Para alguns assim parece. No entanto, dizer que não nos passou pela cabeça uma ideia esquisita não significa que não a venhamos a colocar no papel, por vezes somos ingénuos e conduzidos a desenlaces inesperados que não soubemos antever, e até de consequências imprevistas. Seja como for, o cartoonista viu-se de um momento para o outro em palpos de aranha acusado que foi de participar na longa história do culto do estereótipo do afro-americano e de com este cartoon regurgitar preconceitos raciais nos traços usados na sua Serena beiçuda, corpulenta e infantil, que salta em cima da raquete, irada, como um verdadeiro desenho animado faria. Mark Knight recebeu ameaças de morte e fechou o Twitter e eu, que ando sem paciência alguma para fazer trabalhar o cérebro mais do que seja suprir as necessidades do quotidiano, acabei por prestar atenção ao caso. À primeira vista o cartoon nem sequer é brilhante de tão batida e óbvia esta ideia da birra infantil em casos de adultos em crise. Não fosse a polémica não faria história. Leio então que Serena é vista como grotesca no cartoon donde fiquei a pensar se não posso doravante desenhar lábios grossos e cabelos frisados sem ser alvo de acusações de racismo, por terem sido traços outrora usados para exteriorizar a discriminação e a inferiorização dessa raça nos tais muitos desenhos de propósito deshumanizante. Mas quando isso é um traço de Serena e da raça negra em geral?! Tal como o nariz largo? O desenho exagerado de uns lábios já de si volumosos numa persongem em transe, logo de expressão alterada, em conformidade com o seu estado não é a lógica do que um cartoon deve ser? Voltamos aos temas proibidos aos cartoonistas? Aos tabus? Transformar o cartoon de uma reacção impulsiva no court num desenho racista pretendendo assemelhá-la ao que faziam os artistas do "coon" e do "sambo", acreditar que Mark ao desenhar Serena tivesse consciência de que o seu traço estava a repercutir uma "visão imperialista do mundo" e que deliberadamente pretendesse desferir um ataque racista ou sexista à desportista, rotulando assim Serena como um ser menor, quer como atleta quer como mulher negra, parece-me algo ridiculamente rebuscado. Mas, lá está, sou uma mulher branca, como já alguém me disse, não tenho como perceber. Se fizerem uma busca no Google vão descobrir que ninguém mais, além de Mark, vem enxergando Serena como uma mulher corpulenta, beiçuda e fortemente emocional. Deixo um exemplo para os mais preguiçosos.




Comentários