Mulheres com três mamas na passerelle: a moda é linda!

Spring 2019 Collection da autoria de Giuliano Calza
Sei que andam todos muitos ocupados a dissecar a bizarrice do Mapplethorpe mas fiquem a saber que designers de moda visionários estão neste preciso momento a inovar na passerelle com propostas alucinantes como esta. Este ano foi moda no Instagram fotografar o peito com o bikini invertido. O resultado era algo parecido com a imagem, idiota q.b. para uns, um absoluto "desafio" para outros. Pois, um futuro próximo trará mulheres com três mamas arrepiadas por um top dois tamanhos abaixo a passear por aí, não apenas no Insta. Isto para começar a aventura, pois mais tetas poderão ser ajuntadas ao trio ou até outras próteses: três narizes, para adeptas de meter o nariz em tudo, por exemplo. Não se espantem muito que isto não é novo, é apenas reciclado: não tardou que a prostituta tri-peituda do Total Recall fosse tida como a fonte criativa do designer. Mas esta cena não é de nenhum filme de ficção científica, é da GCDS (God Can't Destroy Streetwear) Spring 2019 Collection da autoria de Giuliano Calza, que justifica a sua inspiração dizendo que na "casa" são todos menores de 30 e que queriam comunicar com os trintões acerca do futuro, metê-los a pensar acerca dos plásticos, da escassez de água e no ambiente. Quanta coerência e fulgor criativo nas cabeças destes trintões: "A sustentabilidade é impossível, este show pretende ser uma chamada de atenção."

Sem dúvida que Giuliano conseguiu a minha atenção e também o meu escárnio, talvez por não pertencer ao target. Irei sempre preferir a bizarrice do Mapplethorpe porque há nele coerência, por exemplo, na forma como se fez na arte da fotografia, como buscou a sua inspiração nas ambiguidades do quotidiano da NY dos anos 70, incluindo a cena BDSM, e tratou os seus modelos, e a ele próprio ou Patti Smith, com genuinidade, ou na rigorosa exploração do preto e branco e da luz, fosse para perseguir o erotismo das flores, esculpir as formas de corpos ou volume de objectos, ou fixar a decadência da bandeira americana. Não caíu em artificialismos, nunca escolheu temas fáceis. Talvez, até, tenham sido os temas controversos a escolhê-lo.Com essa postura, agitou a cena artística nova-iorquina e as consciências mais conservadoras. Ainda hoje o seu trabalho provoca reações fortes e díspares mas o rigor no labor de Mapplethorpe está à vista, incontestado.

Muitos criativos são hoje responsáveis não por arte alguma mas antes por uma espécie de poluição que apenas mina, pouco a pouco, a sustentabilidade da nossa sanidade a coberto da pretensão artística de expansão dos horizontes da nossa percepção e valores. Apenas sopa de plástico que não mata a fome e antes conflitua, de forma estéril, no processo da sua digestão pelo nosso organismo. Nem com três cérebros lá vamos.

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