Madonna vai à bola com Portugal
Ahah, esta Madonna, concedam, uma pessoa tem de gostar um bocadinho dela. Olhai só este instantâneo da material girl a festejar o golo da selecção nacional, Portugal olé, Portugal olé. Em Roma, sê romano. A mulher foi ao estádio da Luz e tudo. Comove-me ver como até levanta os bracinhos em exultação pelo golo marcado por quanto eu nem a TV liguei e não me estou a imaginar a viver em Chicago e a aplaudir os Bulls. Paradoxos, eu, nascida em Lisboa, nem lambuzada em pastéis de Belém consigo disfarçar o meu amor pelo Porto. E agora a Madonna, uns mesitos em Lisboa, até já é muito mais portuguesa que eu. Que era uma artista camaleónica, eu sabia, mas isto supera tudo. Eu cresci com a Madonna, todas nós crescemos, e lembro-me de ter gozado com um amigo quando ele me mostrou o LP de estreia dela, acabado de comprar, dizendo-me, "ela vai ter muito sucesso". Eu desdenhei da virgem, claro. Balanço feito, viria a comprar dois CD (já tentei vender um mas ninguém o quer) e um CD single da senhora, o livro que escreveu para cachopos, vi um ou dois DVD's de espectáculos ao vivo, os filmes terríveis onde ela entrou, todos de evitar menos o Evita, esse escapa, mas só porque eu gosto de musicais. Agora a Madonna está a um passo de gravar um CD de fados com o Camané ou com o Marco Rodrigues, ou até de plagiar uma modinha do Tony Carreira. E se não tiver cuidado ainda acaba candidata a algum orgão do poder local. Preocupante mesmo é não conseguir uma casita. Mesmo se os invernos aqui não são rigorosos, tenho pena das crianças. O Palácio Sotto Mayor está desocupado e acho que até fechado a visitas, era uma hipótese para a rainha da pop morar, longe do bulício low-cost de Lisboa. Mas ainda ninguém lhe falou da Cascais de Coimbra, porque é o segredo mais bem guardado de Portugal, em breve haverá aeroporto a 50 km e tudo, útil para ela ir num pé à TV americana dar entrevistas ao Jimmy e voltar no outro. Além de não encontrar casa em Lisboa, Madonna parece também não ter ainda conseguido encontrar um cabeleireiro de confiança que lhe trate daquelas raizes profundas. Observando bem, as raizes até combinam com os óculos escuros, talvez seja uma tendência da estação. Uma estação chamada desleixo. O desleixo não lhe fica de todo mal, em mim ficar-me-ia pior porque eu não sou a Madonna. Aguardo que, depois das nossas autoridades administrativas lhe terem dado um visto em circunstâncias especiais, as culturais lhe façam idêntica demonstração de consideração, por exemplo, oferecendo-lhe uns óculos da colecção pessoal da Amália, - já se percebeu que Madonna aprecia óculos grandes, - após o que ela, em agradecimento, mudará o nome para Madália e fará juras de os usar até que a voz lhe doa.
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