O equidna vai à praia
Que animal tem bico e põe ovos mas não é ave,
tem bolsa mas não é canguru?
Resposta: o equidna.
Testei uma outra adivinha sobre o bicharoco em causa com um cinquentão bem apessoado mal acabado de conhecer enquanto devorávamos um ouriço ali para os lados da Ericeira: não é homem mas animal e tem título real. Que bicho é? Foi uma espécie de ice-breaker, assim pensava eu. Ele não fazia ideia. É uma espécie de equidna da Indonésia que recebeu o nome de Sir Attenborough, o naturalista, - disse-lhe eu. Tive de explicar o que era um equidna e quem era Attenborough.
A discussão aqueceu. Daí a pouco devolvia-me a "cultura animal" com um negro laudo sobre uma tal Equidna, o corpo metade jovem mulher, a outra metade, uma serpente. Vivia numa caverna no ventre profundo da terra, longe do olhar dos homens e da atenção dos deuses. Casou com o deus Tifão, tornando-se a mãe de todos os monstros, por exemplo, Cérbero, o cão de três cabeças, que guardava as cavernas e grutas mais profundas e os cantos mais terríveis do reino de Hades, o mundo dos mortos, ou Éton, o abutre que comia diariamente o fígado do condenado Prometeu. Equidna e suas crias possuíam uma natureza terrível e adoravam devorar viajantes inocentes. Fiquei depois a saber que o homem era professor de História com uma paixão bicuda por mitologia clássica. Ficou algo desapontado quando lhe disse que não, eu não era bióloga e antes jurismamífera de formação, e cheia de paixões bicudas por tudo e por nada, por exemplo animais insólitos.
Mas deixemos os desencontros à beira mar e foquemos agora neste trôpego vídeo de verão: o equidna foi à praia. E porque não? O equidna até sabe nadar. Esperem tudo deste peculiar animal um pouco ave, um pouco ouriço, um pouco canguru. São monotremados, é assim que se chama a esta ordem de animais que têm cloaca por onde excretam e também saem embriões envoltos em casca que depois ficam a viver na bolsinha da mãe: terminado o choco são do tamanho de um feijão. Já agora, “trema” quer dizer abertura. Não confundir com monotramados: os “monos tramados” somos nós, macacos deslumbrados e cegos com as luzes da cidade e outros folclores consumistas.
Regressando aos equidnas, os pobres são meio ceguetas mas equilibram o défice de visão com audição aguçada - já Diogenes dizia que nós temos dois ouvidos e uma língua para que possamos ouvir mais e falar menos - e olfacto perspicaz. Têm uma língua muito comprida e pegajosa, mesmo ajeitadinha para caçar formigas e térmitas e minhocas. Vêm trilhando o seu caminho desde tempos pré-históricos, passo a passo, perna entroncada e curta, garras longas, aguçadas, e corpo espinhoso semelhante ao de um ouriço comum. Quem sabe por ser um bichinho solitário que não se mete na vida dos outros - já Sartre dizia que o inferno são os outros - é assim, longevo, chamam-lhe um fóssil vivo. Os testículos dos equidna ficam na região abdominal e o pénis encontra-se na cloaca. Pode parecer uma experiência laboratorial algo exótica ou controvertida da mãe Natureza mas funciona porque eles povoaram a Tasmânia, a Austrália, a Indonésia e a Nova Guiné.
A estranheza não se fica por aqui. Estas curiosas bolas espinhosas se ameaçados têm duas tácticas: ou se enrolam numa bola hermética, escondendo o focinho bicudo e a barriga vulnerável, ou se enterram rapidamente no chão, pois são uma espécie de mini TBM animal; TBM, são aquelas máquinas perfuradores de túneis, do género das que operaram o milagre de unir a ilha inglesa com a França. Os equidna fêmea não têm mamilos e antes glândulas mamárias para a produção do leite. O líquido sai por poros e escorre nos pelos da região abdominal das fêmeas. Imaginem esta solução nos humanos! Se amamentar em público já é censurável aos olhos de uns tantos púdicos e considerado abjecto por umas tantas enojadas e o alvo líquido até sai de um par de tetas bem acabadas, imaginem, imaginem, se conseguirem, leite a escorrer dos nossos poros e as nossas crias humanas a lamber da pele que nem gataria sôfrega. A Natureza quis proteger-nos de imagens potencialmente chocantes mas nós, sempre brilhantes e engendrar perversão, fomos logo encontrar defeitos na perfeição. Pobres equidnas, que espectáculo pegajoso que não deve ser, uma porcaria pegada. Mas, por outro lado, devem ficar com a pele bem macia da proteína do leite.
Boa praia e boas adivinhas.
Regressando aos equidnas, os pobres são meio ceguetas mas equilibram o défice de visão com audição aguçada - já Diogenes dizia que nós temos dois ouvidos e uma língua para que possamos ouvir mais e falar menos - e olfacto perspicaz. Têm uma língua muito comprida e pegajosa, mesmo ajeitadinha para caçar formigas e térmitas e minhocas. Vêm trilhando o seu caminho desde tempos pré-históricos, passo a passo, perna entroncada e curta, garras longas, aguçadas, e corpo espinhoso semelhante ao de um ouriço comum. Quem sabe por ser um bichinho solitário que não se mete na vida dos outros - já Sartre dizia que o inferno são os outros - é assim, longevo, chamam-lhe um fóssil vivo. Os testículos dos equidna ficam na região abdominal e o pénis encontra-se na cloaca. Pode parecer uma experiência laboratorial algo exótica ou controvertida da mãe Natureza mas funciona porque eles povoaram a Tasmânia, a Austrália, a Indonésia e a Nova Guiné.
A estranheza não se fica por aqui. Estas curiosas bolas espinhosas se ameaçados têm duas tácticas: ou se enrolam numa bola hermética, escondendo o focinho bicudo e a barriga vulnerável, ou se enterram rapidamente no chão, pois são uma espécie de mini TBM animal; TBM, são aquelas máquinas perfuradores de túneis, do género das que operaram o milagre de unir a ilha inglesa com a França. Os equidna fêmea não têm mamilos e antes glândulas mamárias para a produção do leite. O líquido sai por poros e escorre nos pelos da região abdominal das fêmeas. Imaginem esta solução nos humanos! Se amamentar em público já é censurável aos olhos de uns tantos púdicos e considerado abjecto por umas tantas enojadas e o alvo líquido até sai de um par de tetas bem acabadas, imaginem, imaginem, se conseguirem, leite a escorrer dos nossos poros e as nossas crias humanas a lamber da pele que nem gataria sôfrega. A Natureza quis proteger-nos de imagens potencialmente chocantes mas nós, sempre brilhantes e engendrar perversão, fomos logo encontrar defeitos na perfeição. Pobres equidnas, que espectáculo pegajoso que não deve ser, uma porcaria pegada. Mas, por outro lado, devem ficar com a pele bem macia da proteína do leite.
Boa praia e boas adivinhas.
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