Incêndio florestal - a praga do verão em Portugal




Nunca entendi o que move alguém a meter-se no carro para ir ver um fogo florestal. Esta atracção, que considero doentia, não é de hoje mas ontem não existia a motivação acrescida de filmar e partilhar o evento nas redes, o objectivo mais ou menos secreto de conseguir a glória fugaz de uma imagem viral. Onde, afinal, a estranheza quando pessoas ateiam os próprios gases para filmarem a breve flama e depois partilharem proeza com o mundo ávido de imagens insólitas?! Há uns anos largos houve um incêndio na serra da Boa Viagem e o instrutor de condução orientou-me na direcção da elevação, de onde se desprendia um penacho de fumo. - Mas está a arder, disse eu. - E então? Vamos lá ver. Segui a contragosto, com vontade de me negar, afinal o volante era meu. Mas a posição de subalternidade, o pouco à-vontade e experiência incipiente ao leme das quatro rodas venceram o meu sentido cívico e até temor. Tivemos de atravessar a ponte sobre o rio e a cidade. Já na subida da serra fomos ultrapassados por um carro de bombeiros e pelo som perfurante da sirene. - Chegue-se para a borda! Não viu que vinha lá um veículo em serviço de urgência? É surda? - gritou, subitamente alarmado. Lançou então a mão ossuda ao volante e guinou o veículo para a berma direita, para a orla das árvores. O carro imobilizou-se, uma nuvem de pó elevou-se ao redor e a mim deu-me uma valente travadinha. Eu, que nem queria estar ali, acabara de levar roda de incauta e empata. Acesa de raiva, a suar de calor e vergonha, de forma ágil e com precauções tomadas - como se já dominasse toda a faena rodoviária-, fiz uma rápida inversão de marcha. - Mas o que é que está a fazer? - perguntou ele. - Vamos regressar à escola. Acabou a aula. O instrutor meteu os olhos no pequeno Nokia cinzento com que usualmente brincava de uma mão para outra. Sempre enviava e recebia mensagens de forma frenética assim quebrando o marasmo de cada hora de condução. Não disse mais nada naquele dia, como que se tivesse extinguido a vontade de falar a par do fogo da sua curiosidade pela destruição.


P.S. Este instructor não era má pessoa, não quero que fiquem com má impressão do sujeito. Ensinou-me a conduzir. Infelizmente chumbei no exame de condução por excesso de velocidade entre outros erros, e tive de repetir! Já não sei como se chamava e nunca mais o voltei a ver. A fotografia é de ontem, tirada da varanda, só para não fugir à desditosa trend pirónoma dos últimos dias.
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"Os Bombeiros que são manifestamente poucos, para tantos incêndios, não podem chegar a todo o lado. Estão sempre rodeados de populares, o que é bom. Só que, ao invés de ajudarem a esticar e recolher mangueira e material de combate, apagarem pequenos reacendimentos, limitam-se a registar vídeos, e fotos para mais tarde publicarem nas redes sociais. Não sou contra mas, antes, ajudem os Bombeiros que nos dias que correm, estão a atingir a exaustão e não chegam a todo lado. Amigos um incêndio florestal não é um espectáculo circense, mas sim um drama irreparável para a sobrevivência humana.
Vão até nós, mas, por favor, não levem os carros para não atrapalharem o nosso dificil trabalho. "

Acácio Monteiro, Comandante dos Bombeiros Voluntários de Brasfemes

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