É preciso ter calma, já dizia o Abrunhosa
Este papelote exaltou os ânimos é já foi notícia no JN. Mas a redacção desastrada não obsta a que não haja ali alguma razão. Não me lembro que jogar à apanhada no hall de entrada da minha escola fosse permitido, mesmo em dias de chuva, caso em que não se podia ir para o "recreio" e que tínhamos de ficar confinados às quatro paredes. Julgo que a cachopada dos anos 70-80 era menos endiabrada mas também nos esticávamos, assim houvesse oportunidade. A minha escola primária tinha um enorme espaço de terra batida e um telheiro: era perfeita para a miudagem. Todas as semanas eu ia ao chão e ganhava medalhas de mérito da brincadeira: joelhos vermelhos de mercurocromo. Já no Ciclo Preparatório parti um vidro de uma porta de uma sala de aula enquanto bulhava com um coleguita. No Liceu, à medida que crescíamos, todos evitávamos atravessar o corredor da correria e da gritaria porque ali era a selva e nós já tínhamos evoluído.
A agitação nos espaços cobertos de uma escola não é de hoje e não vai ser parada por decreto sobretudo porque é um dado normal. Fenomenal verificar que apesar da epidemia dos telemóveis junto da miudagem ainda há quem corra e salte e dê problemas. O que não quer dizer que a escola não tente acalmar a excitação natural da criançada, sobretudo os excessos, mais não seja porque quando uma criança aparecer em casa com a cabeça rachada ou os óculos partidos terá para dizer aos educadores em fúria com a falta de vigilância na escola que tomaram uma qualquer providência. Preso por ter cão, preso por não ter. Ou é porque a escola nada faz ou porque faz, ou tenta. Não faço ideia de como seja a estrutura deste Colégio mas espaços como cantinas e corredores em que circulam alunos de todas as idades e adultos (professores e funcionários), podem não ser o local ideal para um bando de crianças em sprint ou um jogo de bola. É verdade que podem chocar uns contra outros pois o espaço de manobra é mais reduzido ou até tropeçar com mais facilidade, caír e criar transtornos vários. Também hoje se misturam muitos níveis étários num mesmo espaço, mais uma vez desconheço como será aqui, mas imaginem uma miúda crecidinha a chocar contra outra do Básico que não se desviou a tempo, esta bem pode ser projectada contra a parede e os seus óculos entrarem em órbita.
Imagino que os directores de turma já tenham avisado as diversas classes umas 100 vezes antes a emissão deste aviso e ao ler isto nem sequer me passa pela cabeça que a proibição se estenda ao recreio, como andam a dizer: os directores podem não saber escrever mas não acredito que sejam idiotas, todos sabemos que se os miúdos não conviverem e extravasarem energias é impossível mantê-los sentados numa sala, é apenas razoável pedir que em dias de chuva tenham mais calma debaixo de tecto. Proibir parece forte mas também sabemos que se proíbe o estacionamento em 2ª fila e que nem assim nos deixamos disso, porque não há mal nenhum se for apenas por cinco minutos, que rapidamente se transformam em 30. Imagino que se nos pedissem por favor e de forma gentil nunca mais estacionávamos em 2ª fila. Felizmente os miúdos ainda não pagam coima pela correria, os pais que se preparem pois pode ser o próximo passo.
Existe hoje uma urticária instantânea a tudo quanto é imposição de regras mas a verdade é que elas são necessárias porque a convivência por vezes não se compadece nem com a nossa espontaneidade nem com a nossa criatividade. É bem possível que até dentro de casa os visados por este comando também não possam jogar à macaca nos ladrilhos da cozinha ou bater bolas na sala junto do serviço de louça chinesa da mamã ou saltar à corda no quarto que fica mesmo por cima da sala de estar da vizinha rabugenta do R/C. É simples: o comportamento que se tem no recreio não é para ter no corredor e, já agora, nem na sala de aula. Também se me afigura simples que a redacção destes avisos não pode ser feita às três pancadas e mais simples ainda que sem sabermos o contexto a que se refere o aviso talvez seja mais sensato questionar do que condenar liminarmente o Colégio, não?
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