O regresso dos Ficheiros Secretos à televisão
Ontem à noite eu tinha tudo em ordem para, à hora prevista, me sentar no sofá e ligar a TV. Só faltou ir vestir a minha t-shirt dos X-Files que tem sobrevivido às doações de roupa ano após ano, qual relíquia. Já passaram 14 anos sobre o fecho da série e para o fim eu era uma telespectadora relutante – foram quase 200 episódios, 9 temporadas 16 Emmys, 5 Globos de Ouro e um prémio Peabody. Nem todos os episódios eram perfeitos, houve muitos altos e baixos. Acabei algo perdida entre a trama que percorria a série e os episódios soltos. Por fim, o desinteresse venceu. Lembro ainda a decepção que foi o filme de 2008.
Nos anos 80 e 90 eu ainda via muita televisão. A recém criada TVI foi a estação que nos apresentou Mulder e Scully . Curiosamente eu lembro-me de ter visto o primeiro episódio de The X-Files e de não ter gostado particularmente. Nunca me interessei pelo sobrenatural ou pelo horror na ficção mas na minha adolescência eu adorava ler sobre OVNI e vida extraterrestre. Por isso a série despertou a minha atenção. A cada novo episódio o relutante casal, cujo romance sempre viveu em banho-maria, sem nunca ebulir, confrontava o desconhecido na forma das mais variadas actividades paranormais. Mas Mulder parecia-me quase sempre um pouco sonâmbulo e Scully algo hipotensa. Desapego ou sangue frio pareciam atributos essenciais para lidar com o oculto! Funcionava. Lentamente fui sendo envolvida na conhecida tensão entre a voz da ciência e da razão (Scully) e a da crença (Mulder). Mas se o tema de fundo eram os homenzinhos verdes de olhos amendoados, não faltando também monstros e criaturas, a série explorava intrinsecamente ideias muito abrangentes como a globalização, a perda de identidade, o perigo da clonagem, a solidão existencial, a falta de confiança nas instituições democráticas, ou mesmo a destruição ambiental, o capitalismo e a vocação da humanidade para a destruição e o mal. Não sei quantos episódios foram necessários para me converter ao culto. O meu cepticismo inicial cedeu e tornei-me telespectadora compulsiva. Adorava assitir ao intro que dava o mote para o episódio apresentando algo intrigante e/ou chocante antes dos créditos iniciais.
Entretanto vamos para intervalo a Fox ia desfilando publicidade a carros de luxo e coisinhas crocantes de frango prontas a ir ao forno. O pensamento que tomou conta da minha mente enfadada foi que Os Ficheiros Secretos, a série dos anos 90, deviam ter ficado por lá. Ah, e como ser possível agora admitir que depois de tanta peripécia Scully continuasse céptica? E o Homem do Cigarro? Não estava morto ou a morrer? Como é que viveu 14 anos? Ah, espera, tem ADN extraterrestre ou qualquer coisa assim. Vamos descobrir isso mais adiante. Uma pessoa percebe que está mais presa à nostalgia do que supunha quando tem estes pensamentos e se sente desconfortavelmente como que a trair-se a si mesma. Eu quero acreditar. Acreditar no que estamos a ver mesmo que não faça grande sentido é por vezes um mal menor se encontrarmos uma qualquer outra compensação. Mas no presente caso, além do facto de ter gostado de ouvir a musiquinha inicial e de rever o par de agentes com química intacta, não havia muito mais. Felizmente o segundo episódio começou e abafou os meus pensamentos menos próprios. E esse compensou amplamente o desatino que foi o primeiro, fazendo-me crer que ainda é possível acreditar. Para a semana há mais. Entretanto, não confiem em ninguém.
Comentários
Mas também não vi as temporadas anteriores... E ando meio confuso à cerca do filho! Hehe.