Figueira da Foz: concessionários descontentes



Ao pegar o jornal A voz da Figueira do dia 18 de Setembro li um lamento de um concessionário que tem nesta cidade o seu negócio de exploração de chapéus de sol. Manuel Teixeira é concessionário há 25 anos. Há 25 anos ainda eu não frequentava a praia da Figueira. Quem me conhecia então sabia que eu não gostava de praia. Eu era a única que chegava chegava ao Liceu no Outono com a mesma cara pálida com que tinha saído de lá em Junho!! Vivi na Figueira anos a fio sem meter os pés no areal e muito menos no mar. Subitamente um Verão tudo mudou. Apaixonei-me pelo azul e pela luz do Verão. Se há riqueza que prezo nesta cidade é a sua geografia costeira.

Fiquei então a saber pelo jornal. Muita parra pouca uva para o sr. Manuel. A praia cheia de gente mas poucos alugaram chapéus. Este concessionário queixa-se de não ter tido retorno, pagou as despesas e já não sobrou nada para dar aos filhos que o auxiliaram no trabalho. Ele refere que a sua clientela fiel envelheceu, é natural que alguma até já tenha partido deste mundo. Os novos preferem carregar com chapéus de praia e tapa-ventos, não alugam. (Ou tendas. Ultimamente assisto ao fenómeno das tendas pronto-a-usar. Leves, chegam debaixo do braço e montam-se num instante. Parecem-me frágeis mas ainda não vi nenhuma a voar como vejo chapéus.) O preço do aluguer são 10 euros/dia, mas o preço baixa se o aluguer for de maior duração. Diz também que a sua zona está em terra de ninguém, entre a praia da Figueira e a baía de Buarcos, as duas zonas mais atraentes, onde a animação é promovida. O mar está cada vez mais distante, os chapéus avançaram para mais perto do mar e o café-restaurante e WC ficam a meio caminho de tudo, a meio caminho da avenida e a meio caminho do mar. Ninguém se sente incentivado para lá ir, longe para quem está no calçadão, longe para quem estiver na junto ao mar! As passadeiras não têm manutenção, as pessoas até já lá deram tombos, e nem a sua extensão é suficiente, com a areia sempre a crescer à sua frente! Entre o investimento feito e que continua a amortizar, e as despesas com rendas, manutenção e pagamento aos nadadores salvadores, Manuel Teixeira trabalha praticamente para aquecer.

O que me parece é que Manuel Teixeira tem um negócio em vias de extinção. É grave para ele mas também é grave para a imagem da praia. Comecei a imaginar a praia sem os habituais toldos listados alinhados. Não seria bem a mesma coisa. O certo é que as barracas e chapéus têm vindo a diminuir, eu própria o consigo testemunhar mesmo sem ter 25 anos de frequência de praia. Cada ano há menos guarda-sóis e cada ano são levantados mais cedo. Pergunto-me se estes concessionários não podiam ser apoiados. Está tudo a mudar, é certo, mas quando a gente imagina uma praia imagina-a com estruturas de apoio. Esses equipamentos acabam por caracterizá-la também. Se mais gente alugasse chapéus o negócio seria viável, o preço do aluguer até poderia baixar. No meu caso, posso dizer que se há coisa que não aprecio é carregar com a tralha para a praia. Faço-o porque é mais barato. Seria bem mais confortável poder sair de casa e caminhar até à praia apenas com uma ceira debaixo do braço. E mais saudável também - as tralhas são a razão porque muitos continuam a ir de carro, perdendo uma boa oportunidade para caminhar e fazer algum exercício.

Uma coisa que Manuel Teixeira referiu foi a despesa com os nadadores salvadores. Por acaso eu já me tenho interrogado acerca desse facto. Porque razão têm de ser eles a fazer esse pagamento. Os nadadores salvadores estão de serviço à concessão. Mas se a pessoa que tiver alugado uma barraca for arrastada por uma corrente para a zona não concessionada eles não a deixam afogar-se, pois não? E se uma pessoa estiver na zona não concessionada e vier tomar banho na zona concessionada? Vai o nadador salvador perguntar-lhe na sua hora de aflição se ela pertence ou não à zona explorada pelo seu patrão antes de lhe passar a bóia?!

As praias portuguesas recebem milhões de visitantes todos os anos, Portugal vende praia como componente essencial do seu pacote turístico e a segurança das praias é uma questão fundamental quando se fala de turismo de qualidade. A presença de nadadores salvadores nas praias devia ser independente da existência e viabilidade destas concessões de praia.

Outra questão em que matuto quando estou na praia. Ser nadador salvador é uma profissão? Nem tenho a certeza que os próprios a encarem assim. Mas penso que o seu exercício devia ser, de alguma maneira, dignificado. A maioria das pessoas vê os nadadores salvadores como uns estudantes que vão ali fazer um trabalhito de Verão, um part-time, que se resume a passar o dia a olhar as ondas. Além disso ainda tem bónus:dá para namorar umas miúdas e apanhar um bom bronze. Os jovens até fazem isto por gosto. Não custa nada. Mas não será bem assim. Além da efectiva responsabilidade pelas vidas na praia - de que as pessoas apenas se lembram quando há um salvamento - ainda estão sujeitos ao insulto fácil no momento em que pretendam ver os seus avisos respeitados pelos banhistas.

Fiz uma pesquisa rápida no Google e descobri que para se ser nadador salvador é preciso ter um curso, uma formação de 135 horas distribuidas por 29 dias. Os cursos de nadadores-salvadores são ministrados pela Escola de Autoridade Marítima (EAM), recorrendo a uma bolsa de formadores do ISN.O candidato tem de prestar provas físicas como nadar 100 metros livres no tempo de 1 minuto e 50 segundos, cumprir 20 segundos, no mínimo, de natação subaquática, fazer 25 metros de costas só com batimento de pernas e recolher dois objectos a uma profundidade mínima de 2 metros. Os módulos práticos da formação abordam técnicas de natação, salvamento em meio aquático, suporte básico de vida, oxigenoterapia aplicada ao afogamento, resgate em piscina e aulas de mar.

O modelo vigente em Portugal obriga os concessionários das praias a fazerem a contratação de nadadores salvadores. Eu penso que isso talvez devesse ser mudado. Porque não passar a ser uma responsabilidade das autarquias, dos orgãos de Turismo ou outras entidades? Porque não uma responsabilidade repartida? Também em relação à actividade dos nadadores salvadores, que é sazonal, seria interessante que num país com uma costa tão extensa pudessem ter ocupação todo o ano, por exemplo, a ensinaram natação a crianças e adultos ou a promoverem acções de educação sobre salva-guarda dos ambientes costeiros. Porque ficam essas estruturas do areal fechadas quase todo o ano? Porque não permitir uma maior aproximação às praias não apenas no Verão, mas na Primavera e até no Outono? Quem observou as praias de Figueira neste fim-de-semana viu como se animaram de adultos e crianças. Cada vez mais as pessoas têm de combater o sedentarismo, sair de casa e viver o ar livre. O nosso país não tem dos invernos mais longos e rigorosos e estudos indicam que as temperaturas vão continuar a subir nos próximos anos. Talvez as minhas divagações motivadas pelas tardes na praia não sejam ideias assim desprovidas de sentido. O sr. Manuel Teixeira até talvez votasse nelas, quem sabe.

Comentários

Jackie Fonseca disse…
Olá!!!Vi seu blog na lista do blog siga-me , vim conhecer e já estou te seguindo. Vem conhecer-me e seguir-me também.artejackieatelie.blogspot.com
Amei seu cantinho. bjos....
Jackie Fonseca disse…
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