Televisão: Crossing Lines, no AXN
As manhãs e as noites frescas já nos lembram que o Inverno está para chegar. Não sei porquê mas com a chegada do frio eu caio sempre na tentação de ligar a TV e acabo por descobrir uma qualquer série que depois sigo durante o Inverno. Foi assim que acabei por assistir à estreia de Crossing lines no canal AXN. Andava eu no zapping e a constatar que nada mudou desde o Inverno passado quando aparece o William Fichtner. Em Prison Break ele interpretava o agente Alex Mahone. Alex foi a minha personagem favorita. Mahone teve um percurso muito interessante, de polícia a vingador, penso que deve ter conquistado uma legião de fãs! Na altura pensei que Fichtner tinha hipóteses de dar o salto da TV para o cinema, sem saber que ele já andava por lá e que eu até já tinha visto filmes onde ele tinha entrado. Infelizmente Fichtner só consegue pequenos papéis. Em Elysium, o mais recente filme onde o catrapisquei, a sua personagem, Carlyle, também não dura muito tempo. Foi por causa dele que parei o zapping e comecei a ver Crossing lines.
Já não tenho muita paciência para estas histórias de polícias e ladrões, ou assassinos, pois o filão tem sido mais que explorado. Mas a série conseguiu intrigar-me. Boa atmosfera, excelente fotografia. Tecnicamente não há nada a contrapor. Acabei por ver o episódio piloto e ficar para o segundo. E, é claro. Fichtner. Fichtner é Carl Hickman, um polícia nova iorquino atraiçoado pelos seus chefes no seguimento de um infortúnio que o deixou com a mão direita inutilizada e dependente de morfina. Incapaz de segurar uma arma ou mesmo de escrever relatórios, segundo suas próprias palavras, Hickman vive numa caravana e apanha lixo numa feira - descobriremos mais tarde que não está ali de forma inocente - quando o Major Louis Daniel lhe oferece uma segunda oportunidade numa super-equipa de profissionais que lutam contra o crime. Por esta altura, ou talvez um pouco mais adiante, eu já deitava as mãos à cabeça: Hickman era uma espécie de House MD, um profissional brilhante, mal tratado pela vida e por isso amargo com tudo e todos, e dependente de um fármaco! OMG! Mas que decalque!
Rapidamente percebi que a equipa reunida além de ser formada por profissionais de elite é também multicultural, composta por agentes de vários países, e o seu objectivo é solucionar crimes que se desenrolem no território europeu. Et voilá, temos uma espécie de "Liga da Justiça" europeia. Pode ter alguma piada ouvir falar inglês com diversos sotaques, francês, irlandês, alemão, italiano. Ou não. Ainda não me decidi quanto a isso. É sem dúvida interessante jogar com a diversidade cultural. É uma aposta boa mas vamos ver se não se ficam pelos sotaques. Também pode ser atraente ver outros cenários que não as tradicionais cidades norte-americanas. Isso é refrescante, sem dúvida. Mas os crimes vão ser os mesmos de sempre e isso não me deixa lá muito entusiasmada, saturada que estou de tantas séries que vi, todas semelhantes. E mais do mesmo foi mais ou menos o que aconteceu. Apresentaram-nos os bons da fita. Deu-se início à caça ao homem. Homem caçado, caso encerrado. Déjà vu.
Fiquei depois a saber que a série é europeia, mas, mas, apesar da série ser europeia, ela parece feita nos Estados Unidos, foi feita à maneira das séries que estamos habituados a ver, quanto a isso não há qualquer novidade. E é pena. Mas, lá está, isto é um negócio e Crossing lines também se quer a cruzar as fronteiras e a ser vista fora da Europa, nos EUA certamente e nos outros países que já foram “colonizados” pelo modelo americano de investigar e resolver crimes. (Suspiro.)
Quem está a mexer os cordelinhos em Crossing lines é Edward Allen Bernero, produtor executivo de Mentes Criminosas e de Third Watch, que, de acordo com o que vi em alguns minutos no "Insider" que transmitiram a seguir, já foi polícia e tem muito interesse na história das instituições policiais. Disse ele que quando os estados da Europa se associaram passou a existir aqui uma situação muito semelhante à dos EUA, nomeadamente no que toca ao surgimento do FBI, e que foi isso que o inspirou para criar esta série, estas personagens e uma espécie de FBI europeu. Ontem à noite eu estava especialmente cansada e nesse momento fiquei confusa. Ele estaria a referir-se a quê exactamente?!! Lembrei-me da INTERPOL, aquela organização internacional que ajuda na cooperação de polícias de diferentes países e que já é mais velha que as nossas avós e que todos nós nos lembramos de estar bem activa aquando do desaparecimento da Madeleine MaCann. Para Bernero estar tão empolgado com a sua ideia ele não poderia estar a referir-se a esta instituição pois não?! Pois não?!! O Major Daniel tem um encontro com um respeitável Michael Dorn e ele, nem mais nem menos que o veterano Donald Sutherland, entrega-lhe uma autorização legal para a actuação da equipa com origem no ICC - International Criminal Court ou seja, Tribunal Penal Internacional, em Haia?! (Isto não fez muito sentido para mim.) Era preciso dar esta volta para " europeizar" a coisa? Não bastava que a equipa fosse uma célula especial da Interpol, por exemplo? Pelos vistos não. E está feito, assim surgiu o "FBI Europeu” do sr. Bernero. O Donald Sutherland tornou-se o equivalente branco de Morgan Freeman: sempre que se quer seriedade e respeitabilidade aí temos ou a voz de um ou a barba de outro. A gente nem questiona. Mas da parte dele só espero o melhor, não é ele que me preocupa.
Crossing Lines é uma série da produtora alemã Tandem Communications em parceria com a francesa TF1 Productions e as americanas Bernero Productions e Sony Pictures Television International (SPT). Da SPT também sairam The Firm - eu vi apenas um episódio - e Hannibal, de que não vi nem sequer um teaser. São 10 episódios. Na Europa o people tem gostado das aventuras da super-equipa-internacional. Mas nos EUA o interesse foi mirrando a cada episódio. Todavia Crossing lines foi renovada porque terá vendido bem a nível internacional. Pode ser que os super-investigadores venham até Lisboa ou Porto ou Algarve, porquoi pas?
Apenas com dois episódios na bagagem ainda é cedo para dizer mais. Se não fosse a presença de Fichtner eu talvez nem tivesse visto o segundo episódio. Surgiram algumas histórias paralelas ou sub-plots que não me deixaram particularmente curiosa. Também não apreciei que em dois episódios se resolvesse a história principal. Foi tudo relativamente fácil, relativamente simples, sobretudo tendo em conta que estamos perante uma equipa enorme e especializada. Um dos elementos não sobreviveu ao 2º episódio, óptimo, a equipa ficou mais petite. Reconheço que talvez possa estar a ser demasiado exigente. Reconheço que para mim o crime já deu o que tinha a dar! Não me parece que tenha série para o inverno, nem com o Fichtner a colar adesivos de morfina no peito de meia em meia hora! Je suis desolée, mon chér, mas não estou comovida. Há uma fronteira que nos separa! Fica para a próxima série.
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