O cheiro da xenofobia: a história da senhora romena
Era uma vez dois rapazes que entraram num comboio com uma cadelinha, mas que não compraram bilhete para o animal. O revisor perdeu a cabeça e chamou a GNR por causa de 2 euros...e foi um pandemónio. Já escrevi sobre esta história na minha anterior postagem. Mais de 5000 partilhas levaram a história do Facebook às folhas da comunicação social e suscitaram um mar de comentários.
E eis que de dentro da história pula outra história, a da senhora romena. "O episódio é lamentável mas quando se comenta "Sra. Romena" o texto torna-se mais lamentável que o episódio.", escreveu um conhecido meu. Outros comentadores referiram que em virtude da tirada racista e xenófoba da Manuela Melo já não partilhavam a sua história. Alguém dizia até que não tinha qualquer vontade de conhecer a pessoa que escreveu o relato - não que a MM tivesse em algum ponto do relato manifestado qualquer vontade de conhecer pessoas!
Nada disto é novo nas redes sociais. Mais uma vez, somos todos diferentes, todos temos a nossa opinião, uma é minha, a outra é tua, a outra é de quem a apanhar. São para todos os gostos, como fruta fresca na praça. Qual é a minha opinião sobre a história da senhora romena? A minha opinião é que, de repente, esta malta que não anda num comboio há anos, que abomina o Dia Internacional sem Carros, que não dá um passo sem o seu popó, que até detesta partilhar o elevador com o vizinho, que nunca partilhou uma carruagem com gente a suar em bica em pleno verão, que nunca apertou a mão a um romeno, a um kosovar, ou a um marroquino, entendeu que não importa divulgar mais uma história de brutalidade policial no nosso presente e conturbado contexto nacional, como se, com isso fosse melhorar em muito a condição da senhora romena e decerto punir a racista da Manuela Melo, que, pelo teor da escrita, está-se a ver, deve ser um monstro insensível, racista até à medula, e que, mostrando-se condoída pelo tratamento que o revisor e GNR deram aos rapazes e até à cadelinha, e ainda com hipóteses de velhinhos brutalizados, apenas nos quis atirar areia para os olhos e esconder a sua verdadeira e vil natureza de de monstro xenófabo.
Desculpem-me, mas é só rir. Como utente de anos da CP assisti a muita coisa. Como trabalhadora da área social também privei de perto com minorias. A questão dos odores não é assim tão insignificante como muitos pensam. Muitos dos que escreveram nem pensaram nisso a sério. É realmente um incómodo e quando eu compro um bilhete eu tenho direito a um bom serviço. Seja no comboio, seja no avião, onde também já passei das boas. As pessoas interpretaram o que a MM escreveu como sendo uma maldade, eu até leio ali alguma inocência da parte dela, quando ela diz que prefere viajar com uma cadelinha do que com uma pessoa que cheira mal. Eu tenho que dizer que concordo, fruto da experiência, é mesmo assim.
O Decreto Lei n.º 58/2008, de 26 de Março refere que a CP deve prestar o serviço objecto do contrato de transporte com segurança e qualidade pelo que os revisores a quem as pessoas já sinalizaram o caso da senhora romena já deviam ter actuado. Porquê? Porque a CP está obrigada a prestar um serviço de qualidade. A qualidade inclui a higiene do espaço e o espaço inclui o ar que se respira. Daí haver preocupações expressas com a higiene das carruagens e o transporte de produtos que possam sujar ou incomodar de alguma forma os passageiros. Também sugiro a leitura dos Deveres e Obrigações dos Passageiros, é uma longa lista, o art. 6º, que já referi neste blogue uma vez a propósito de um incidente na linha Coimbra- Figueira da Foz que utilizei frequentemente durante anos, e que menciona, por exemplo, preocupações com a colocação de volumes pesados ou sujos sobre os bancos ou pés apoiados directamente sobre os estofos, sujar as carruagens, utilizar aparelhos sonoros ou fazer barulho de forma a incomodar os outros passageiros, praticar actos ou proferir expressões que perturbem a boa ordem dos serviços ou incomodem os outros passageiros.
O Decreto Lei n.º 58/2008, de 26 de Março refere que a CP deve prestar o serviço objecto do contrato de transporte com segurança e qualidade pelo que os revisores a quem as pessoas já sinalizaram o caso da senhora romena já deviam ter actuado. Porquê? Porque a CP está obrigada a prestar um serviço de qualidade. A qualidade inclui a higiene do espaço e o espaço inclui o ar que se respira. Daí haver preocupações expressas com a higiene das carruagens e o transporte de produtos que possam sujar ou incomodar de alguma forma os passageiros. Também sugiro a leitura dos Deveres e Obrigações dos Passageiros, é uma longa lista, o art. 6º, que já referi neste blogue uma vez a propósito de um incidente na linha Coimbra- Figueira da Foz que utilizei frequentemente durante anos, e que menciona, por exemplo, preocupações com a colocação de volumes pesados ou sujos sobre os bancos ou pés apoiados directamente sobre os estofos, sujar as carruagens, utilizar aparelhos sonoros ou fazer barulho de forma a incomodar os outros passageiros, praticar actos ou proferir expressões que perturbem a boa ordem dos serviços ou incomodem os outros passageiros.
Um revisor escrupuloso já teria tentado, por exemplo, relatar a situação à assistência social. Mas se o fizer se calhar não ganha medalhas de cortiça. Se, como diz MM, toda a gente sabe da situação a que ela se refere, é porque a pessoa vive naquela comunidade, em Ovar. Alguém devia averiguar a situação da senhora romena e tentar ajudá-la. É isso que eu acho e não vejo ali grande racismo, o que eu vejo é uma pessoa que está a incomodar as outras com o seu odor corporal, de forma intensa e continuada, tal como uma pessoa que todos os dias entrasse naquele comboio e começasse a afinar e ensaiar escalas num instrumento musical. Eu própria talvez tivesse referido a senhora de forma igual, uma senhora romena, ou uma senhora espanhola, tal como diria uma senhora loira, uma senhora ruiva, e nem pela cabeça me passaria estar a atacar a sua raça. Estarei a ser ingénua? Há quem entenda que estamos perante racismo puro e duro, e que a MM cometeu um erro capital pois distraíu as pessoas do essencial, a história dos rapazes e da cadelinha. Bah. E, perante estas leituras no Facebook apenas me pergunto se alguma vez teremos hipóteses de vir a cultivar o bom senso como regra de vida, uma vez que estamos todos a criticar o revisor do comboio mas somos afinal tão complicados quanto ele mesmo!
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