Zico - Assinei a petição contra o abate do cão de Beja
"A grandeza de uma nação e o seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata os seus animais" - Mahatma Gandhi.
Daniel Oliveira, do Bloco de Esquerda, escreveu há dias que "a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre". E com esta tirada mal medida provocou uma onda gigante de protestos. Gostei de ver pois significa que em Portugal, afinal, as pessoas gostam de animais. Não vai ser condenado por nenhum tribunal, mas a opinião pública já o julgou. Há uns anos atrás Daniel foi condenado pelo Tribunal de Lisboa a pagar uns quantos euros ao presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, pelo crime de difamação. Lembrei-me do processo judicial do Daniel pois costumava ver o Eixo do Mal e seguia mais ou menos as andanças dos comentadores. O artigo de opinião em questão chamava-se O Palhaço Rico. Com este aparte quero apenas mostrar que a arrogância dos comentadores é, actualmente, quase uma imagem de marca. São raros os que conseguem escrever com moderação e elegância e atingir o cerne da questão de forma eficaz. Infelizmente eu não tenho muita consideração por comentadores, opinadores profissionais e outros da mesma raça, que considero potencialmente perigosa. Quantas vezes lemos textos infelizes que parecem ter sido escritos como se os comentadores estivessem embriagados pelas palavras e não se conseguissem conter! É muito fácil deixarmo-nos levar pelas suas falinhas mansas, quantas vezes bravas. Devemos questionar o que dizem e exercer o nosso poder de avaliação e crítica, friamente, muitos destes profissionais nem sequer são capazes de ser objectivos e independentes, esta é a verdade. Por isso a sua palavra não pode nem deve ser regra para ninguém.
Também, e ainda, as redes sociais e os blogues acabaram por criar a sua própria raça de comentadores (amadores) potencialmente perigosos. Já tenho escrito muito sobre a banalização do exercício da opinião, a forma como se faz às pressas, mal informada, sem fundamento, sem auto-crítica, e a forma como no direito de resposta se passa rapidamente ao insulto e à rudeza, por vezes mesmo à difamação, mas isso é mais uma marca dos nossos tempos onde ser educado deixou de marcar pontos. Acabou-se o respeito, a decência, diz-se tudo, pode-se dizer tudo, sem regra, sem continência. Estas palavras não as leva o vento, ficam escritas, os debates inflamados e desregrados estão em qualquer local onde se crie um espacinho para o comentário. Mas este afã em que se desgastam as pessoas, estas trocas de mimos e discussões muitas vezes apenas são improdutivas pois daí não resulta qualquer mudança. Ou me engano muito ou o caso do Zico vai ser assim, mais uma discussão que não vai dar fruto, nada mudará: uma criança morreu, um cão vai morrer, o dono vai pagar algum dinheiro por ordem do Tribunal, se o tiver, ou vai preso, se não o tiver, e depois vai tomar uns copos e a vida continua, até ao próximo Zico e à próxima crónica grotesca, estúpida, tosca, sem tacto, insensível, mais a sua subsequente torrente de prós e contras, nem sempre formulados de forma mais sensível. Mais ao longe, permanecerá, inquestionada, a situação que devia estar na ordem do dia a ser discutida e atacada pelos comentadores, agora, agorinha, isto é a revisão da legislação sobre os direitos dos animais em Portugal, a fiscalização do seu cumprimento, e a da educação da população sobre a responsabilidade da detenção de animais - a grandeza de uma nação e o seu progresso podem ser medidos pela maneira como trata os seus animais.
Tiago Mesquita tem sobre o Zico uma opinião diferente, ele veio depois responder ao seu colega do Expresso e escreveu que "devo acrescentar que a vida do cão que faz o favor de me aturar, e que amo como família, vale muito mais do que a vida do ser humano mais asqueroso deste planeta. Aliás, vale para mim infinitamente mais do que a vida de muitos - ditos racionais -, que não passam de seres humanos desprezíveis, que nada acrescentam ao mundo senão dor, sofrimento, morte, humilhação e tragédia. Bestas (Anders Breivik) capazes de mata descontraidamente 77 pessoas numa tarde de sol. Incapazes de dar ao mundo o que tantos amigos de quatro patas dão."
A 12 de janeiro, escreveu depois Paulo Borges, Presidente da Direcção Nacional do PAN, no seu Facebook: "Sou radicalmente contra a pena de morte, mesmo do ser humano “mais asqueroso”, pois penso que todo o ser vivo pode mudar o seu comportamento, mediante a reflexão e a vontade, no caso dos humanos, e no caso dos animais com quem partilhamos as nossas vidas, a reabilitação comportamental. Todos os seres merecem uma segunda e muitas oportunidades, porque todos podem mudar e toda a forma de vida, por ser vida, algo que está aí sem o ser humano a ter criado, tem um valor intrínseco e é sagrada. Desde o ditador mais cruel e empedernido até ao Zico e até ao cronista com a inteligência e o coração mais endurecidos, como o Daniel Oliveira. Que merece para já a segunda oportunidade de reconhecer o momento extremamente infeliz desta crónica e de não voltar a insultar as dezenas de milhares de pessoas que se colocam do lado de todos os Zicos e de todos os mais fracos deste mundo, reclamando cada vez mais para os animais um estatuto jurídico e uma protecção legal que lhes reconheçam direitos fundamentais e não os tratem como “coisas” que se podem abater sem dó nem piedade. Não se trata de relativizar os direitos humanos, mas de ampliar a noção jurídica de "direitos" até abranger, tendo em conta a sua especificidade, os pacientes morais que são os animais, que não agem moralmente mas padecem as acções dos agentes morais humanos. Esta é uma questão fundamental da ética e do direito contemporâneos e uma aspiração de sectores crescentes da população, como mostra o crescimento vertiginoso da petição que o cronista tão levianamente achincalha. Ao fazê-lo confirma o que já se sabia: que a estreiteza de vistas habita igualmente os dois lados do espectro político, direita e esquerda.Vamos lá dar uma segunda oportunidade ao Zico e também ao Daniel Oliveira."
Tanto quanto sei, ainda não se pode ler em parte alguma o resultado da autópsia, apenas a notícia do Público, de que transcrevo excertos abaixo. Mas já li mau jornalismo, por exemplo quando os jornalistas nomeiam o cão como "assassino", um atributo unicamente humano, apenas próprio dos seres racionais, assim contribuindo para alimentar a ideia, errada, de que o cão tem poder de decisão sobre o que faz! Tenhamos frieza e deixemos as autoridades apurarem o que se passou naquela casa. Devemos ser capazes de exigir o apuramento das responsabilidades, o inquérito do Ministério Público está em curso, aguardemos o seu resultado. Paremos com o "deve ter sido assim ou assado", "parece-me que", "é quase certo que o que se passou foi", "o cão é um assassino". Deixemos que os factos sejam analisados por quem sabe e tem os dados na mão. Paremos a irracionalidade colectiva. Antes, pesquise-se informação sobre a legislação existente sobre animais de estimação, opiniões de peritos em comportamento canino, história dos direitos dos animais, em Portugal, na Europa, no mundo, opiniões de quem tem raças perigosas em casa, - quantas destas pessoas que comentam já se deram ao trabalho de ler seriamente sobre cães? - procure-se perceber se matar um animal que matou é a melhor resposta para esta situação. Ou melhor: se é assim que queremos que este tipo de situações seja resolvida, pois não será a última vez que um cão vai estar envolvido em acidentes mais ou menos graves com humanos. Matar o animal é eliminar uma ameaça, dir-me-ão de imediato. Significa segurança. Mas, será que esse mesmo cão seria uma ameaça numa casa onde existissem donos responsáveis? Foi o cão quem matou a criança? Ou foi a irresponsabilidade dos seus guardadores que matou a criança? E se em vez de uma cozinha às escuras a criança tivesse ido para um jardim e caído num poço ou numa piscina como tanta vez acontece? Uma piscina ou um poço não são uma ameaça viva, pois não, mas se não houver vigilância e se não forem tomadas medidas, nesse poço, nessa piscina, ou noutros poços e piscinas, mais crianças perecerão, são armadilhas de morte. Mas estas medidas são de prevenção e tomam-se ANTES dos episódios mortíferos acontecerem. Assim também se haverá de pensar no caso dos cães, de quaisquer cães e não apenas no caso dos cães ditos de raça potencialmente perigosa, mais fortes por natureza, e por isso representado maior risco imediato. Em suma, depois da casa roubada, trancas na porta. É assim quer queremos continuar a proceder? Na minha opinião, esta morte infeliz forneceu o mote ideal para se debater a sério um problema que não deve mais ser adiado...e por isso devemos divulgar o caso o mais possível.
E, sim, acabei assinar a petição, 71.527 pessoas já tinham assinado antes de mim. Quem concordar em poupar a vida do Zico pode aceder à petição aqui.
Notícia 1, excertos.
"O menino (Dinis Janeiro) de 18 meses foi atacado no domingo ao final da tarde pelo cão da família, um cruzado de pitbull, raça considerada potencialmente perigosa. Foi transportado para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde deu entrada com um traumatismo crânio-encefálico grave, com o crânio esmagado e com massa encefálica arrancada, segundo fonte hospitalar.(...) A autópsia, realizada na quarta-feira, concluiu que a morte se ficou a dever aos ferimentos provocados pela mordedura do cão, segundo disse ao PÚBLICO fonte do Instituto de Medicina Legal. (...) A decisão de abater o animal partiu da veterinária municipal, Linda Rosa, que após um pedido da PSP para se deslocar ao local na segunda-feira, ordenou que o animal fosse enviado para o canil municipal e, como está determinado na lei, fosse abatido oito dias depois. Quando foi recolhido, o Zico estava "bem tranquilo e não mostrou agressividade nenhuma", afirmou Linda Rosa. Rita Silva (Associação Animal) sublinha que quando levado para o canil o cão "estava maltratado, magro e com as orelhas cortadas, o que é ilegal, e geralmente denuncia uma procura de estatuto ou o uso do cão para lutas". Assim, e lembrando que mesmo que se venha a confirmar o ataque do animal "este pode ser sempre reabilitado", a activista sustenta que "a haver um responsável, esse será o tutor do animal".Jacinto Janeiro admitiu aos jornalistas que estava “desejando” que o animal fosse abatido e que “há um ano e tal” que tinha ido ao canil para o tentar abater, porque “não tinha condições para ter o cão em casa”. Ao PÚBLICO, a veterinária confirmou que o apartamento da família "não tem as condições necessárias" para o animal, que "dormia na cozinha e durante o dia estava na varanda". (..)A família da criança não apresentou queixa após a agressão mas a PSP de Beja decidiu participar o caso ao Ministério Público, que vai abrir um inquérito. (...)Segundo informações apuradas pela Lusa, Jacinto Janeiro já tinha sido atacado pelo menos duas vezes pelo cão, tendo recebido assistência médica."
Notícia 2, excertos
" o Ministério Público decidiu abrir um inquérito sobre o caso que culminou na morte da criança, o abate do cão está, para já, suspenso enquanto decorrem as investigações, apurou o PÚBLICO junto de fonte ligada ao processo. O PÚBLICO contactou a Procuradoria-Geral da República (PGR), que se escusou a adiantar mais esclarecimentos. "O inquérito encontra-se em segredo de justiça, pelo que, neste momento, não poderá ser prestada qualquer informação", afirmou a PGR. "
PETIÇÃO CONTRA O ABATE DO PITBULL ZICO e DE TODOS OS OUTROS ZICOS
Esta petição tem como objectivo lutar contra o abate do cão "Zico" que atacou uma criança em Beja e de todos os outros "Zicos" espalhados pelo país...
Um cão que nunca fez mal durante 8 anos e atacou é porque teve algum motivo.
O abate não é solução! Nestes casos há que investigar o que causou a reacção do cão (foi provocado/não está a ser bem tratado/etc) e pode optar-se pela reabilitação/treino do cão!
Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais! Eles também merecem uma segunda oportunidade!
POR CADA VIDA PERDIDA DEVIDO AO ATAQUE DE UM ANIMAL, VÁRIAS VIDAS SÃO SALVAS POR ANIMAIS!!!
Fazemos esta petição para alertar o despautério que é alguem ter a "lata" de achar que não tem que se abater um cão que MATOU uma criança.
Estes "amigos" de animais, que não percebem nada de nada de animais, não conseguem perceber que o cão ficara marcado para sempre por este ataque, que se lhe abriu uma porta no dia em que fez o primeiro ataque. Porta que lhe ficara gravado para sempre.
A defesa dos animais passa por reconhecer que eles são animais e não objectos para os despejos dos sentimentos ou emoções de humanos carentes.
PETIÇÃO A FAVOR DO ABATE DO CÃO ZICO
A Favor do abate do "Cão Zico" e de todos os Cães Zico, que mordem e como neste caso, matam crianças. É inadmissível, dar uma segunda oportunidade a um cão que matou uma criança com 18 meses. Vamos deixa-lo vivo e arriscar a morte de outras crianças? Não, vamos abate-lo, como sempre fizemos a Cães que têm este tipo de comportamento intolerável! Não digo isto por ser um Cão, se fosse uma pessoa e tivesse mordido uma criança, de tal modo, que ela tivesse morrido, também seria a favor de uma pena de morte! Sei que muita gente não concorda comigo, mas deixo aqui esta petição, porque me choca que não exista respeito pela alma desta criança! Sabem o nome da criança? Eu não, mas sei que o Cão se chama Zico ! Acham isto normal? Por isso, peço a toda a gente que concorda comigo, que assine esta petição, não por mim mas pela familia e pela "dita" criança! Um abraço.
PETIÇÃO VIRTUAL A FAVOR DO ABATE DO DONO DO PITBULL ZICO E DE TODOS OS OUTROS DONOS IRRESPONSÁVEIS
Por falta de entender tanta raiva e comentários sem sentido, por ver uma petição a favor do abate de um animal sem que se saiba a maneira estranha e bizarra como ocorreu a trágica morte de uma criança.
1- Pitbull ás escuras na cozinha, como raio é que deixam um bebé lá entrar?
2- Orelhas cortadas
3- Magreza extrema
4- Cicatrizes de luta
Eu acho que consigo mais assinaturas para abater este dono irresponsável do que a pessoa que iniciou a petição para abater o desgraçado do cão! Tenho dito!
PETIÇÃO PELO ABATE DO ZICO
Um animal não tem consciência. Essa é a grande distinção entre homens e animais. Por este motivo, um cão, ou qualquer outro animal, não é culpado seja do que for. E, também por isto, um cão deve ser abatido. Não por uma questão de justiça, mas porque constitui um perigo para os que o rodeiam. Um animal violento, agressivo e capaz de matar não pode permanecer vivo, pois poderá, em qualquer momento, atacar de novo uma pessoa.
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