O mundo segundo Monsanto - documentário



Le monde selon Monsanto,(2008) é um documentário francês de Marie Monique Robin, realizadora e jornalista, sobre a multinacional americana Monsanto, desde sua origem em 1910 até à sua afirmação no mundo como a maior produtora industrial de sementes. O mundo segundo Monsanto também é um livro sobre a investigação conduzida ao longo de três anos e em três continentes, já traduzido em mais de 11 línguas. Marie Monique Robin ganhou o prémio norueguês Rachel Carson Prize de 2009 dedicado a mulheres defensoras do meio ambiente.
Este inquietante filme de 108 minutos segue o percurso de investigação da jornalista e é mas oportuno do que nunca no momento em que nos Estados Unidos se assiste à luta da população para a aprovação da Prop 37 de que vos falei em anterior postagem. A etiquetagem é interdita nos EUA e isso deriva justamente do "princípio legal da equivalência de substância" - é explicado no video - que não considera haver diferença substancial entre uma planta convencional e uma geneticamente modificada.O governo dos EUA não criou uma lei nova para os OGM - a sua decisão foi política e não científica. Decidiu que alimentos naturais e transgénicos eram iguais e que os OGM seguiriam os mesmos normativos. "Os EUA são líderes em biotecnologia e querem manter-se assim," diz o vice-presidente Dan Quayle, na ocasião. O documentário refere a enorme promiscuidade entre membros do Governo, magistrados e a Monsanto e a forma como esta beneficiou da política de não-regulamentação das Administrações. Afirma ainda que a FDA mente ao planeta desde 1992. A história de Monsanto é, portanto, feita de relatórios científicos falsos, conivência com o Governo americano, tentativas de corrupção de membros de outros governos, nomeadamente do Canadá, perseguição de técnicos e cientistas - ficamos a saber que a Monsanto levou Tony Blair a facilitar a entrada de transgénicos na Grã-Bretanha e uma equipa de cientistas foi despedida e desacreditada.

A empresa tem milhares de empregados, um volume de negócios monstruoso, está presente em mais de 40 países e os seus produtos invadiram os mercados de todo o mundo. No início foram os PCBs,fluido de segurança para isolar e resfriar equipamentos elétricos pesados. Em Anniston, no Alabama, registaram-se mortes em virtude dos resíduos tóxicos, água envenenada que corria a céu aberto. "Não podemos perder 1 dólar que seja no negócio", lê-se num documento entretanto tornado público. As pessoas testam o nível de PCB no sangue como quem testa colesterol! Os PCB estão no ar, na água. Causam cancro, as mulheres de Anniston geram crianças com QI diminuido. Depois, herbicidas nomeadamente o Agente Laranja utilizado durante a Guerra do Vietname. A Monsanto falsificou estudos sobre o efeito da dioxina que faz parte do agente laranja e 40 anos depois, as pessoas continuam a ser afectadas por disfunções genéticas quer no Vietname, quer os soldados americanos que lá estiveram e foram expostos. Mais: hormonas de crescimento bovino, destinadas a fazer aumentar a produção de leite nas vacas.Há histórias de ameaças a um veterinário.Finalmente um jornalista revela documentos que mencionam alterações fisiológicas nos animais. As vacas desenvolvem mastites, há pus e antibiótico no leite e substâncias nocivas, cancerígenas, mas a Monsanto não quer saber nem das vacas nem dos consumidores.

A Monsanto quer cultivar o mundo à sua imagem. A Monsanto apresenta-se hoje como uma empresa de "ciências da vida", pioneira da biotecnologia, está na vanguarda da comercialização de sementes geneticamente modificadas, projetadas para resistir à pulverização do herbicida Roundup, o mais vendido no mundo. O Roundup poupa tempo e trabalho ao agricultor que já não precisa de contratar pessoas para limparem os campos das ervas. No início a Monsanto dizia que era biodegradável e isso estava no rótulo. Mas depois foi obrigada a remover essa indicação enganosa. Estudos mostraram que torna as células instáveis, o mesmo é dizer que abre caminho para o cancro. Esconderam isso do mundo para poderem avançar com a investigação biotecnológica.

Ao criar algo novo, uma planta transgénica, a Monsanto regista uma patente e ganha direitos de propriedade sobre essa planta. Então os agricultores assinam contratos obrigando-se a não guardarem parte da colheita para semente. Quando há suspeita de que o fizeram, são perseguidos pela Monsanto e instalou-se o medo do vizinho e da denúncia anónima entre a classe, que a Monsanto instiga. A Monsanto comprou empresas de sementes convencionais no mundo inteiro e a opinião de muitos é a de que ela quer controlar o mercado das sementes na sua totalidade, o mesmo é dizer, controlar a alimentação, logo a população. Em países em via de desenvolvimento é fácil fazer promessas de benefícios, por exemplo, utilização de menor quantidade de herbicida, o que na prática se revelou um fiasco. Na Índia a Monsanto invadiu o mercado com as suas sementes, as convencionais são mais caras e difíceis de encontrar. Mas, pior, surgiu uma praga nas culturas transgénicas, nunca vista, que alastrou às plantas convencionais. No México, considerado o santuário do milho, com mais de 150 variedades, que crescem fantasticamente desde há anos, sem adubos nem herbicidas, o pior sucedeu já - a contaminação transgénica. Houve cruzamento das plantas em virtude do pólen ser facilmente transportado pelo vento de umas para outras, e, pior ainda, proveniente de cultivo acidental.Isto representa uma ameaça para o milho local e para a própria sobrevivência do milho no mundo. No Paraguai o Governo acabou por validar a presença dos transgénicos que entraram no país contrabandeados e agora os agricultores são forçados a pagar royalties à Monsanto. O que dizem é que a monocultura transgénica elimina os pequenos agricultores, asfixia e destrói a biodiversidade, traz morte, doença. As pessoas deixam os campos e vão para as cidades. O que a Monsanto quer é a implementação de uma agricultura sem agricultor.

A Monsanto quer ser perspectivada como uma organização humanitária capaz de salvar as pessoas da miséria com a sua tecnologia revolucionária. Este documentário desmonta a falácia de Monsanto divulgando documentos, expondo vítimas, interpelando cientistas, representantes da sociedade civil, advogados, políticos, representantes da Food and Drug Administration ou da Environmental Protection Agency.

O responsáveis da Monsanto recusaram ser entrevistados mas posteriormente responderam ponto por ponto às críticas colocadas dizendo que neste projecto a jornalista "lança ataques contra a empresa e a biotecnologia e repete alegações que há muito tempo já foram descartadas por cientistas internacionais de renome" ou que o "documentário foi realizado por aqueles que não apoiam a biotecnologia agrícola e têm um esquema para desacreditar a tecnologia e aqueles envolvidos com o seu desenvolvimento ". Acrescentam, entre outros argumentos, que " A intenção (da jornalista e dos seus esforços) é classificar a Monsanto como uma empresa negativa e tenta abranger muitos problemas com a finalidade de confundir o público." Depois de ter visto o documentário eu cá não fiquei confusa, aliás, pareceu-me tudo muito bem explicado. Eu não estou contra uma tecnologia que é, sem dúvida, revolucionária. Estou contra a falta de rigor no controlo da segurança dos seus resultados e o facto da Monsanto querer introduzir no mercado os seus produtos a todo o custo, recorrendo a todos os esquemas possíveis.

Quais serão dos dados da sua actuação em 2012? Acessando ao site da empresa do Missouri encontrei um dos seus videos promocionais. No Relatório Anual de 2011 lê-se como a empresa está imparável, inscrita no Ranking das 10 empresas mais inovadoras do mundo, com forte implantação no Brasil - para este país desenvolveu o Intacta RR2 PRO e Roundup Ready 2 Yield especialmente adaptados à geografia e necessidades locais - e na Argentina.

Já este mês de Setembro foi publicado na revista internacional Food and Chemical Toxicology um estudo sobre milho geneticamente modificado que aponta para efeitos tóxicos muito graves - os ratos alimentados com milho e água com Roundup viveram menos tempo, desenvolveram tumores e falhas em diversos orgãos. O milho da multinacional Monsanto, tolerante ao herbicida Roundup produzido pela mesma foi considerado seguro e autorizado para a alimentação humana pela Comissão Europeia em 2005, tem circulado na Europa livremente.

Relembrando o que a Monsanto escreveu em relação ao Roundup na resposta ao documentário de Marie Monique Robin:

Roundup® - Os herbicidas agrícolas Roundup® são o carro chefe da área de negócios de defensivos agrícolas da Monsanto. As propriedades dos herbicidas agrícolas Roundup e de outros produtos que têm como base o glifosato podem ser usadas como parte de um programa de controle de ervas daninhas ambientalmente responsável e se encaixam na visão de agricultura sustentável e proteção ao meio ambiente. O Roundup® tem mais de trinta anos de história de uso seguro. Alguns ativistas já fizeram testes científicos falsos para desafiar este grande recorde de segurança - nenhuma dessas acusações teve qualquer mérito quando expostas aos altos níveis exigidos de detalhamento científico. Agências regulatórias do mundo inteiro já concluíram que os herbicidas a base de glifosato não apresentam riscos à saúde humana e ao meio ambiente, quando aplicados corretamente, conforme as instruções técnicas descritas no rótulo.

Comentários