Figueira da Foz: a praia dos vendavais e da micro-massagem
Este tem sido um Verão incomum. Na segunda feira fui à praia pela primeira vez este ano. O ano passado por esta altura já tinha perdido a conta às saltadas à beira-mar. O meu passeio de estreia rente às ondas, os meus planos de ficar por lá a catar as areias e a ver o sol descer no mar foram derrubados pela ventania ao fim de meia hora!! As temperaturas desta semana eram mais que ideais para umas banhocas mas o vento está a estragar tudo. Meti os pés ao caminho e regressei a casa, aborrecida. Ontem, voltei. No caminho entrei numa loja e comprei um tapa-vento, um pára-vento, um trava vento, um barra vento, um livra-me-do-vento, uma dessas coisas. Anos a fio tenho resistido ao bendito porque fico sem horizonte recolhida atrás do pano e eu distraio-me bastante a olhar o mar de uma ponta à outra da baía. Ou ele é alto demais para mim ou sou baixa demais para ele. Reconheço que deve haver uma altura ideal de pano para travar os grãos de areia, provavelmente esta. Depois de ter suado a espetar aos paus na areia, olhei para a barreira de tecido desconfiada. Resistiria? Verdade seja dita, nunca vi um tapa-vento voador, já tenho visto sacas voadoras, chapéus voadores, tanto chapéus de usar na cabeça quanto chapéus de praia. Estes últimos vêm em segundo lugar na minha lista de objectos voadores muito indesejados nas praias, os primeiros são as bolas de futebol que por alguma razão desconhecida têm uma enorme tendência para me aterrar em cima. Os chapéus de praia voadores ainda propiciam alguns momentos hilariantes, entre o corre-corre de quem vai atrás deles para os apanhar e o foge-foge de quem se desvia do pau aguçados e do toldo às cambalhotas pelo areal fora! Apanhar com um em cima no mínimo deve fazer nódoas negras. A não ser que sejam daqueles feitos de arame e tecido tão finos que dizer que fazem sombra é o mesmo que dizer que o sol se tapa com uma peneira. Esses, vem uma lufada de vento mais forte, torcem-se e contorcem-se e lá vão eles. Para quê comprá-los? Antes um sombrero mexicano!Bem sei que são leves mas não servem para a praia dos vendavais, a praia da Figueira, onde, mesmo em semanas normais, lá por hora do chá e dos biscoitos, chega-se à mesa o amigo vento. Embora nem sempre furioso, fica o aviso, mais vale prevenir do que remediar, quem vai para o mar, avia-se em terra! Aqui ou escolhem um guarda-sol robusto ou então passam as férias a correr no areal ou de loja em loja!Já as bolas voadoras são uma espécie nefasta que pulula nas praias de norte a sul, que me persegue há anos e anos, e com a qual não tenho contemplações. As bolas vão corridas a pontapé e agravos diversos, sejam-me pedidas por crianças ou adultos. É. Sou ruim. Mas só pensará isso quem ainda não apanhou uma bolada em cheio no nariz com direito a sangue e tudo...e estrelas, até vi estrelas!! É que esta praia não é exatamente pequena e por isso não têm desculpa, pais eduquem os vossos filhos, filhos, eduquem os vossos pais. Digam NÃO às bolas voadoras!!
Uma vantagem desta ventania é a micro-massagem de areia. Dá sentido literal à expressão "ter a cabeça cheia de areia". Claro que é a sua superfície e não propriamente a cabeça, não dizemos "ter o couro cabeludo cheio de areia", deixamos esses preciosismos para os profissionais dos cabelos. (Um aparte: ofereceram-me um champô esfoliante que também me deixa a cabeça cheia de areia. Tem micro-grãos. Não percebo como alguém pode ter tido semelhante ideia. Lavo o cabelo e parece que fui à praia dos vendavais!) A micro- massagem de areia sem dúvida que tonifica o corpo e quem sabe não é mais uma oportunidade a explorar pelo turismo. A micro-massagem de areia poderá vir a colocar a Figueira da Foz na rota das experiências de bem-estar mais radicais e a competir com banhos de lama, banhos de sol em praias de rocha escaldante, coisas assim não são para fracos que divinizam spas muito zen, requintados, e espreguiçadeiras com camas de espuma!! Mas existe público à espera destas provações pois massacrar o corpo parece que traz promessas de beleza e talvez de paz interior, vendam lá isso como quiserem, eu não compro!Bom, depois de espetados os 4 paus no chão, instalei-me para apreciar, enfim, algum descanso. Quando o vento chegou forte a minha mão esticou-se para o pau mais próximo, instintivamente, não fossem eles ser arrancados da areia como os pelos pela raíz com cera quente. Mas não. Nos piores momentos havia uma onda de areia com talvez 10 cm de altura a deslocar-se rentinha ao chão e chovia alguma, ainda, para cima de mim. Mas o tapa-vento aguentou firme a nortada. Hoje fui ao site da meteorologia e a perspectiva de melhorias não existe. Aquelas setas mais gordinhas que podem ver no gráfico correspondem todas a vento moderado, por isso o tapa-vento vai continuar a ser o meu melhor amigo nos próximos dias e até estou a pensar em fazer uma saquinha de transporte para o meu novo objecto de estimação! Viva o Verão na praia dos vendavais!
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