Cinema: John Carter de Marte
Andrew Stanton deu o salto da animação para os filmes com gente dentro, o realizador de À procura de Nemo e Wall-E realizou John Carter. Talvez seja por isso que as criaturas do filme John Carter se portam melhor do que os actores!! Aficionada por ficção científica desde miúda, ando sempre à espera de um novo título mas tanta crítica negativa quase me fez esquecê-lo. Desde as indecisões da própria Disney aos críticos, não param de chover pedras sobre John Carter, que custou uma pipa de massa. Este filme está mais que enterrado. Mas com as férias da Páscoa e o meu sobrinho desocupado, decidi arriscar. Mais uma vez, que se danem as opiniões. Não fiquei a chorar o preço dos bilhetes. Descontraí bastante a ver as aventuras do ex-soldado confederado pelo planeta vermelho, ri, o meu sobrinho até deu pulos na cadeira. Vamos lá a ver: nem todos os filmes têm de ser obras primas e nem sempre um orçamento elevado é garante disso.
Edgar Rice Burroughs foi um escritor incrível, uma fonte de inspiração para muitas das fitas de ficção científica que andam por aí a alimentar o imaginário das crianças e adultos desde que sou cinéfila assumida. Por isso, quando li que este filme tinha copiado outros tive de me rir. As ideias que muitos julgam originais desses filmes, não o são. Não raro um argumentista alimenta-se de influências, leituras, imagens. John Carter veio antes da Guerra das Estrelas, do Avatar e de muitos outros. Adoro pensar que no início do séc. XX, quando ir à Lua era apenas ficção científica, havia uma escritor empolgadíssimo a escrever as suas crónicas de Marte, pequenas histórias cheias de viagens, criaturas e romances interplanetários! Se para mais nada não servir este filme, doravante todos saberão que Burroughs, além do Tarzan, viajava na sua imaginação até lugares onde ainda ninguém tinho ido antes. E que serviu de inspiração a muitos! No filme, o escritor é também personagem, um rapaz a quem o tio Carter entrega o seu diário e confidências sobre as suas aventuras, e um papel importante, que eu não revelo, mas que foi uma boa forma de fechar o filme. Outra crítica, a meu ver sem fundamento, é a de que sabemos que Marte não tem vida. Ó malta, mas que falta de imaginação é essa? Não tem vida AGORA. Mas, e se tivesse tido vida há uma eternidade, muito antes das nossas sondas o terem alcançado? Isso é de todo irrelevante para condenar o filme - há que entrar no reino da fantasia e jogar pelas suas regras.
O meu sobrinho diz que John Carter é parecido com Cowboys e Aliens, mas eu não vi essa fita. De facto, no início do mesmo, na Terra, e em muitas cenas depois, o filme aproxima-se de uma estética western, com os desertos do planeta Marte por fundo e as criaturas a galope!No planeta vermelho uma civilização em decadência exauriu recursos, as cidades envolveram-se em guerras que podem determinar o fim de Marte, ali conhecido como Barsoom. Há marcianos de pele vermelha tatuada que parecem humanos, mas também ali vivem marcianos esverdeados com chifres e dois metros de altura, com dois pares de braços e suas crias roliças, nascidas de ovos, além de predadores, os macacos-brancos, usados em duelos, na arena. A bicharada é toda muito convincente, mais do que o par de actores de serviço, infelizmente! Mas se não formos muito exigentes, safam-se nos seus rasos desempenhos, ele enquanto exímio acrobata lutador, ela enquanto parceira de armas, mas também cientista e, claro, parceira romântica. Afinal, estes povos e os de outros sistemas solares, não passam de fantoches para os therns, os vilões que, à escala interplanetária, se divertem a brincar com os seus destinos. Carter, que ocupado a servir na guerra civil norte-americana, tinha perdido a família, é um homem que apenas quer ser rico, explorar a sua mina de ouro, e viver a sua vida, sem servir ninguém. Acidentalmente tem um encontro imediato com um ser extraterrestre numa gruta, um thern, e acorda em Marte, a dar saltos de metros, e com força extra, graças à diferente gravidade. Inicialmente ele não passa de um prisioneiro, um náufrago que quer encontrar o caminho para casa. Apesar de muito amargo, Carter não suporta injustiças e, quando confrontado com a sorte de Marte, - e da bela princesa de olhos azuis - ele vai tomar o partido mais fracos e ajudar a sanar o conflito. Como prémio, ganha o coração da princesa marciana, que entretanto fugira ao seu destino, um casamento por conveniência com o inimigo da sua cidade e do seu povo, ...e vivem felizes para quase sempre.
A história é simples, talvez até ingénua demais para os nossos dias, ou para o público adulto. Mas, como a história é simples, a primeira parte do filme, isto é, antes de John Carter ser teletransportado para Marte, é uma complicação desnecessária. E agora estamos aqui, em Marte, e depois ali, na Terra, e agora acolá...na Terra uns anos antes! Só quando Carter acorda em Marte é que sentimos o filme a avançar. A duração é também um pouco excessiva e o ritmo também podia ser outro, acção e momentos mais pausados parecem atropelar-se uns aos outros, e o constante vai-vém entre diversos locais não é definitivamente um trunfo na história, não há um clímax esmagador algures. A narrativa que precisava de fluir como um rio é um pouco seca, à semelhança dos leitos dos oceanos que outrora existiram em Marte, encalha aqui e ali, e o interesse do espectador como que desmobiliza, mas tem os seus momentos. O filme possui um tom épico e grandioso, um visual meio retro bastante interessante, humor competente em algumas sequências, em especial a cargo de um cão marciano, um bicho algo disforme, mais rápido que a sua sombra! As fantásticas naves de madeira, metal e com laminas de vidro nas asas, quase parecendo insectos, são realmente bonitas, os cenários grandiosos, naturais ou não, também estão à altura. As cenas de luta, por vezes um pouco confusas, é certo, cumprem embora não sejam esmagadoras. E assistimos ainda a um magnífico cortejo matrimonial, momento em que o vilão, um shapeshifter, vai mudando de forma ao mesmo tempo que transporta Carter, prisioneiro. Mas os diálogos é que não são o que a gente quer ouvir. Não convencem ninguém, por vezes são meramente explicativos e sem rasgo. Algumas vezes eu tive a sensação que estava a ver teatro, não que eu não goste de teatro, mas não é o que se espera encontrar quando se vai ao cinema. Ainda assim considero que o filme é bom entretenimento, não é o lixo que todos andam para aí a afirmar. Filmes bem piores têm tido melhor sorte. O orçamento gigantesco talvez seja o responsável por esta chuva meteórica de críticas, como se, muito dinheiro igual a filme de qualidade, fosse uma equação garantida. Tenho esperanças de que façam mais John Carter, sendo que Burroughs deixou 11 livros de aventuras em Marte! Mas algo terá de mudar para que o próximo filme seja mais do que entretenimento, ou pelo menos, entertenimento à prova de críticas tão destrutivas como as que venho lendo. Burroughs merece e nós, que gostamos de ficção científica, também.
Edgar Rice Burroughs foi um escritor incrível, uma fonte de inspiração para muitas das fitas de ficção científica que andam por aí a alimentar o imaginário das crianças e adultos desde que sou cinéfila assumida. Por isso, quando li que este filme tinha copiado outros tive de me rir. As ideias que muitos julgam originais desses filmes, não o são. Não raro um argumentista alimenta-se de influências, leituras, imagens. John Carter veio antes da Guerra das Estrelas, do Avatar e de muitos outros. Adoro pensar que no início do séc. XX, quando ir à Lua era apenas ficção científica, havia uma escritor empolgadíssimo a escrever as suas crónicas de Marte, pequenas histórias cheias de viagens, criaturas e romances interplanetários! Se para mais nada não servir este filme, doravante todos saberão que Burroughs, além do Tarzan, viajava na sua imaginação até lugares onde ainda ninguém tinho ido antes. E que serviu de inspiração a muitos! No filme, o escritor é também personagem, um rapaz a quem o tio Carter entrega o seu diário e confidências sobre as suas aventuras, e um papel importante, que eu não revelo, mas que foi uma boa forma de fechar o filme. Outra crítica, a meu ver sem fundamento, é a de que sabemos que Marte não tem vida. Ó malta, mas que falta de imaginação é essa? Não tem vida AGORA. Mas, e se tivesse tido vida há uma eternidade, muito antes das nossas sondas o terem alcançado? Isso é de todo irrelevante para condenar o filme - há que entrar no reino da fantasia e jogar pelas suas regras.
O meu sobrinho diz que John Carter é parecido com Cowboys e Aliens, mas eu não vi essa fita. De facto, no início do mesmo, na Terra, e em muitas cenas depois, o filme aproxima-se de uma estética western, com os desertos do planeta Marte por fundo e as criaturas a galope!No planeta vermelho uma civilização em decadência exauriu recursos, as cidades envolveram-se em guerras que podem determinar o fim de Marte, ali conhecido como Barsoom. Há marcianos de pele vermelha tatuada que parecem humanos, mas também ali vivem marcianos esverdeados com chifres e dois metros de altura, com dois pares de braços e suas crias roliças, nascidas de ovos, além de predadores, os macacos-brancos, usados em duelos, na arena. A bicharada é toda muito convincente, mais do que o par de actores de serviço, infelizmente! Mas se não formos muito exigentes, safam-se nos seus rasos desempenhos, ele enquanto exímio acrobata lutador, ela enquanto parceira de armas, mas também cientista e, claro, parceira romântica. Afinal, estes povos e os de outros sistemas solares, não passam de fantoches para os therns, os vilões que, à escala interplanetária, se divertem a brincar com os seus destinos. Carter, que ocupado a servir na guerra civil norte-americana, tinha perdido a família, é um homem que apenas quer ser rico, explorar a sua mina de ouro, e viver a sua vida, sem servir ninguém. Acidentalmente tem um encontro imediato com um ser extraterrestre numa gruta, um thern, e acorda em Marte, a dar saltos de metros, e com força extra, graças à diferente gravidade. Inicialmente ele não passa de um prisioneiro, um náufrago que quer encontrar o caminho para casa. Apesar de muito amargo, Carter não suporta injustiças e, quando confrontado com a sorte de Marte, - e da bela princesa de olhos azuis - ele vai tomar o partido mais fracos e ajudar a sanar o conflito. Como prémio, ganha o coração da princesa marciana, que entretanto fugira ao seu destino, um casamento por conveniência com o inimigo da sua cidade e do seu povo, ...e vivem felizes para quase sempre.
A história é simples, talvez até ingénua demais para os nossos dias, ou para o público adulto. Mas, como a história é simples, a primeira parte do filme, isto é, antes de John Carter ser teletransportado para Marte, é uma complicação desnecessária. E agora estamos aqui, em Marte, e depois ali, na Terra, e agora acolá...na Terra uns anos antes! Só quando Carter acorda em Marte é que sentimos o filme a avançar. A duração é também um pouco excessiva e o ritmo também podia ser outro, acção e momentos mais pausados parecem atropelar-se uns aos outros, e o constante vai-vém entre diversos locais não é definitivamente um trunfo na história, não há um clímax esmagador algures. A narrativa que precisava de fluir como um rio é um pouco seca, à semelhança dos leitos dos oceanos que outrora existiram em Marte, encalha aqui e ali, e o interesse do espectador como que desmobiliza, mas tem os seus momentos. O filme possui um tom épico e grandioso, um visual meio retro bastante interessante, humor competente em algumas sequências, em especial a cargo de um cão marciano, um bicho algo disforme, mais rápido que a sua sombra! As fantásticas naves de madeira, metal e com laminas de vidro nas asas, quase parecendo insectos, são realmente bonitas, os cenários grandiosos, naturais ou não, também estão à altura. As cenas de luta, por vezes um pouco confusas, é certo, cumprem embora não sejam esmagadoras. E assistimos ainda a um magnífico cortejo matrimonial, momento em que o vilão, um shapeshifter, vai mudando de forma ao mesmo tempo que transporta Carter, prisioneiro. Mas os diálogos é que não são o que a gente quer ouvir. Não convencem ninguém, por vezes são meramente explicativos e sem rasgo. Algumas vezes eu tive a sensação que estava a ver teatro, não que eu não goste de teatro, mas não é o que se espera encontrar quando se vai ao cinema. Ainda assim considero que o filme é bom entretenimento, não é o lixo que todos andam para aí a afirmar. Filmes bem piores têm tido melhor sorte. O orçamento gigantesco talvez seja o responsável por esta chuva meteórica de críticas, como se, muito dinheiro igual a filme de qualidade, fosse uma equação garantida. Tenho esperanças de que façam mais John Carter, sendo que Burroughs deixou 11 livros de aventuras em Marte! Mas algo terá de mudar para que o próximo filme seja mais do que entretenimento, ou pelo menos, entertenimento à prova de críticas tão destrutivas como as que venho lendo. Burroughs merece e nós, que gostamos de ficção científica, também.
Comentários