A música portuguesa em 2011
Esta postagem é uma seleção de artistas portugueses que editaram em 2011, o ano em que o fado foi declarado património imaterial da humanidade. Portugal não é só o país do fado e apesar de estarmos a atravessar um mau período em termos sócio-económicos, resultado de anos a fio de má governação associada à crise europeia generalizada, a criatividade na música conseguiu encontrar caminhos. Eu escolhi diversidade de estilos, de formas, de géneros, mas não abdiquei do meu gosto pessoal. Reconheço que posso ter deixado nomes mais relevantes de fora. Não sou nenhuma especialista da música e isto não é nenhum best off 2011. Como não tenho vergonha de assumir que gosto deste ou daquele artista que não está na moda, aqui vai. Paciência se não gostarem. Vou pelo meu ouvido e mais nada e também não ando muito atenta, pelo que se tiverem sugestões, força, os comentários são no sítio do costume!
Em 2011 ouviu-se de tudo. Tivemos edições de cantores mais que consagrados como Jorge Palma, que já anda na música desde os anos 70, que editou Com todo o respeito. Jorge Palma escreveu algumas das mais bonitas canções e letras da música portuguesa. Conseguiu nos últimos anos tornar-se popular junto de uma nova geração de público depois de um dos seus temas ter feito parte da banda sonora de uma novela. Sérgio Godinho, é mais outro autor, compositor e intérprete que vem dos anos 70 a escrever como ninguém sobre o amor, os encontros e os desencontros da vida, a realidade social, com poesia e sentido crítico. Em 2011 lançou Mútuo consentimento. Para completar o trio de pesos-pesados da música portuguesa, Fausto ( hipertexto é para um blogue de fã) editou 23 novas canções, Em busca das montanhas azuis, um trabalho que adoro, inspirado na diáspora portuguesa, nas relações que estabelecemos com os povos de além-mar nos séculos de glória dos Descobrimentos. Fausto é um obreiro da música tradicional portuguesa, na tradição de Zeca Afonso, um poeta da música e também já edita desde os anos 70.
Tivemos uma revelação do programa Ídolos a afirmar-se de uma forma completamente imprevisível, e eu, que primeiro torci o nariz, acabei por me converter ao jeito jazzy da Luisa Sobral, com The Cherry on my Cake. Norberto Lobo lançou Fala mansa. É um artista da nova geração, versado em várias guitarras, acústica, elétrica, e, mais recentemente, a tambura. Ora serena, ora mais animada, eu acho a guitarra dele particularmente expressiva. Zeca Medeiros é um cantor das ilhas, mais propriamente de S. Miguel, mais conhecido talvez pelos seus trabalhos de realização para TV do que pelos seus CD, Torna Viagem, de 2005, é talvez o seu mais conhecido. É actor, compositor, letrista, actor, tem um jeito peculiar de estar na música, algo encantatório, talvez porque venha das Ilhas Encantadas, nome do seu último CD.
Osso Vaidoso é o mais recente projeto de Ana Deus e Alexandre Soares, que na década de 1990 integraram os Três Tristes Tigres. As letras de Animal são de valores grandes da nossa escrita como Valter Hugo Mãe, Alberto Pimenta ou Regina Guimarães. O foco é dado às interpretações, mais do que à voz da guitarra. Um disco mais alternativo é o do grupo Social Smokers que vai buscar a sua inspiração à cultura urbana e à eloquência das palavras, vale a pena ouvir o que se diz, mais do que aquilo que se canta na Magnetic Poetry.
Pedro Osório, lançou em Novembro Cantos da Babilónia, o seu último trabalho, pois acaba de falecer. Pianista, chefe de orquestra, produtor musical e compositor, uma grande perda para a música portuguesa. Nas suas próprias palavras, Cantos da Babilónia, "é constituido por peças em que o piano tem um papel de destaque, e que são construidas a partir de pequenos excertos de canções tradicionais da Europa, Ásia e África." Um trabalho que honra a raiz multicultural da cultura portuguesa, admirável, e que espero venha a ser alvo de atenção em 2012.
Para quem gosta de pistas de dança, um DJ português, Pete Tha Zuck, chegou ao #37 do Top100 DJ. E mesmo para o fim, o bom regresso dos Mesa, com o CD Automático, um grupo que deu cartas há uns anos atrás e que depois desapareceu; e mais uma banda com sotaque do norte, a divertir e a entreter muito bem, os Dois mil e oito, com Pés frios, canções descontraídas que são pequenas histórias, easy listen made in português.
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