Uma história de amor no metro: o amor é todos os dias



Estamos na quadra do Natal e o Público publica uma história de amor. Há um homem que desde o dia 14 de Fevereiro de 2011 coloca uma flor e uma mensagem escrita na alavanca do sinal de alarme da última carruagem do metro de Lisboa, mais propriamente na linha Azul, aquela que parte de Santa Apolónia e que termina na Amadora. No próximo mês de Fevereiro a sua aventura termina, muitas flores, palavras e fotos colecionadas, uma inequívoca prova daquilo que o amor tem de ser afinal: entrega. “O amor é todos os dias”, diz José. Inspirem-se aqueles que se dizem demasiado ocupados para o amor, para o sentido da vida, pois ele tanto se faz de pequenos como de grandes gestos.

Este destino coube-lhe quando, num jantar para “encalhados”, revelou ser o que estava há mais tempo à espera do Cupido, ficando para ele a rosa que estava na mesa. Essa flor deu origem à brincadeira que se tornou um caso sério. De regresso a casa, ao ver a alavanca de alarme do metro, o nosso jardineiro colocou lá a flor acompanhada de uma mensagem: “Só me volto a encontrar contigo quando apanhares a flor que vai no metro da linha azul”. Dali em diante começou a escrever diariamente pequenas notas de amor e a ir ao metro depositá-las com as flores. 

José quer permanecer anónimo e não revela o apelido. Mas o seu projeto de plantação de flores e palavras de amor no metro, por vezes ridículas como todas devem ser, tem página no Facebook, Sinal de Alarme. O amor escrito permeia-se dos eventos do quotidiano como as eleições, a política, as manifestações, greves ou a declaração do fado como Património da Humanidade. Este jardineiro poeta é-o também de intervenção. José comprou as flores mas também as apanhou no canteiro do Banco de Portugal, uma esmolinha para o jardineiro do amor, oferecida pela cidade. Ocasionalmente, em aniversários que marcam etapas assinaláveis, às palavras juntaram-se objetos – uma camisa, um abacaxi, um bacalhau, um bolo-rei! Até o passageiro mais empedernido daquela carruagem se deixa abraçar pelo amor entre uma e outra paragem. Porque o amor também é estranho, nem sempre racional, e muitas vezes surpreendente. Na mensagem há uma morada e já houve pessoas que colheram a flor e retribuiram com uma carta, uma chegou do Canadá. Mas a maioria vai ao Facebook e é aí que interpela este jardineiro dos subterrâneos de Lisboa sobre a sua loucura normal.

“O amor é todos os dias”. Por isso José não falhou um dia. Não teve férias, não viajou, não foi a festas, não dormiu para poder cumprir o destino da flor. Um dia em que de todo não teve possibilidade de ir ao metro houve alguém que assegurou a tarefa para que os olhares habituados à beleza não se interrogassem e os corações não tremessem de frio no vazio das palavras. Pela Páscoa não foi ao norte celebrar com a família, pediu à família para descer até Lisboa. Noutra ocasião, a avó de 88 anos teve de peregrinar até à capital se quis ver o neto! Ele esconde a natureza da sua missão com a desculpa do trabalho a fazer pois receia que até a família o catalogue como louco! Ninguém sabe da sua escravidão feliz. 

A fazer um doutoramento na Universidade do Minho, José vai mas volta, todas as sextas-feiras, por amor ao amor, às palavras e à flor. No Natal, mais uma aventura: José atreveu-se a ir passar a consoada com a família, mas regressou a Lisboa. Não sei se correu completamente bem pois havia greve na CP. Lá para Fevereiro o calendário vai embrulhar esta história num final. E então os passageiros do metro, estranhando a ausência da Primavera naquele recanto, irão certamente interrogar-se: E agora José? 

Fonte : Sinal de Alarme - O amor é rei.

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