Museus grátis ao Domingo


O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, afirmou este sábado que vai acabar com as entrada grátis dos museus ao domingo, - por regra eles só estão abertos ao domingo de manhã, entre as 10 e as 14 horas - admitindo reservar apenas um dia por mês para as visitas gratuitas. O secretário de Estado sublinhou que a percentagem de entradas pagas nos museus é, actualmente, de 36% e que o nível ideal para a sustentabilidade destas instituições seria de 80%. As entradas pagas são necessárias para conservar os museus e permitiriam que estes obtivessem mais receitas para financiar horários mais alargados de abertura ao público. Disse também que o princípio da gratuitidade é um mau princípio.

Desde que fiz um curso de Produção Cultural em 2000 que me embrenho em discussões sem fim sobre o acesso grátis ou não à cultura. Eu concordo com o secretário quanto ao grátis ser um mau princípio. O grátis leva rapidamente à desconsideração do valor inerente ao produto. Porque hão-se ser grátis, por princípio, as entradas em museus, concertos e teatros? Acho que em princípio deviam ser pagas e que se devia abrir excepções para cumprir cabalmente a função educativa do museu e garantir o acesso a toda a população.

O Estado incluiu os direitos culturais na Constituição. Os poderes públicos não se podem demitir das suas incumbências de promoção do acesso à cultura. Perante a ânsia actual de catar receitas para debelar a crise não me espantava se o secretário quisesse mesmo o fim dessa válvula social. Mas lá deixou o dia grátis para não levantar (mais) ondas. Na minha opinião o secretário está equivocado pois não creio que as entradas pagas vão aumentar. Não basta o Estado subsidiar, é necessário que a porta possa ser efectivamente transposta por quem não pode pagar. Já acredito que incentivar a abertura noturna dos museus ou fazer um horário alargado ao fim da tarde possa atrair mais visitantes pagantes, beneficiando do clima pouco rigoroso do nosso país, tantas vezes convidativo a uma voltinha ao final da tarde. É sobretudo mais fácil falar em entradas grátis do que arquitetar soluções mais estruturantes - estas é que seriam necessárias, mas demoram a produzir resultados e são dispendiosas.

A cultura é um bem mas é também um negócio e um negócio que tem custos superiores às receitas que gera. Parece não vingar se não obtiver subsídios do Estado, de mecenas empresariais ou individuais. Não sei se num país onde o consumo cultural continua a ser secundário as receitas dos ingressos terão peso significativo. Mas pouco é melhor do que nada. Um museu tem pessoas a trabalhar lá dentro, despesas com água, luz, seguros e manutenção das coleções. Este valor pode variar consoante o tipo e a dimensão dos mesmos. De onde vêm os lucros dos museus? Das entradas, das lojas que vendem toda a espécie de coisas, dos restaurantes e cafetarias, talvez dos serviços educativos, talvez dos Amigos do Museu, se os tiverem. Também podem alugar a infra-estrutura, organizar eventos paralelos, pagos. Mesmo assim, o negócio é um mau negócio. Em tempo de crise também os museus têm de competir duramente por patrocínios e visitantes. Terão de fazer a melhor gestão possível, serem criativos e não ficarem dependentes da esmola do Estado mas isso é mais fácil para uns do que outros. Pensem nos grandes museus nacionais, nos museus urbanos e naqueles da província – são realidades bem diferentes, com custos e recursos associados muito díspares.

A maioria das famílias usa o tempo livre do fim-de-semana para os seus passeios. Só quando em férias podem visitar museus noutros dias, a rotina de trabalho não permite outra coisa, nem a falta de horários noturnos. Eu sou do tipo papa-museus. As viagens que fiz ao estrangeiro foram planeadas para visitar museus, ver e estudar as obras de arte que durante anos apenas conhecia no papel e não outra coisa. À média de um museu por dia não tive alternativa: tive de pagar. E paguei prescindindo de outras coisas e poupando com antecipação para esse projecto. Escolhi visitar aos domingos aqueles que tinham ingressos mais caros. Em Portugal, mantenho essa regra. Quando visitei o Museu Soares dos Reis, no Porto, o ano passado, fi-lo ao domingo. Durante a hora e meia que lá estive havia meia dúzia de pessoas a explorar o museu. Estávamos na Primavera, não foi o mau tempo que justificou a falta de afluência, nem a fraca qualidade da oferta cultural, nem o preço das entradas. O que falta em Portugal então? Uma cultura da cultura. Sem ela tanto faz que as entradas sejam a custo zero ou pagas, as pessoas não frequentam os museus de forma regular. São espaços de elite não porque tenham ingressos pagos mas porque são frequentados por minorias. Não têm as pessoas dinheiro para isso? Há quem não tenha, mas penso que muitos o teriam, se o desejasse mesmo pois os campos de futebol estão cheios, os festivais de Verão estão cheios, os Coliseus do Tony Carreira estão cheios, as discotecas estão cheias, e, no Verão, as praias estão cheias. As pessoas não se privam de roupas de marca, tomam pequenos almoços na pastelaria da esquina, gastam fortunas em comunicações móveis, compram tabaco mas depois dizem que não tem dinheiro para a cultura, que é caro. Para muitas a cultura não está perto de casa. Todas as deslocações têm, na maioria dos casos, custos associados: a deslocação é inevitável, depois temos a alimentação – quanto a ela podem ser equacionadas soluções mais económicas – ou até o estacionamento se as pessoas teimarem em levar o seu carro, solução que até se pode concluir ser a mais económica no caso de uma família com filhos. Donde se conclui que, primeiro, é necessário ser sensível aos bens culturais, sentir essa necessidade, depois é preciso fazer uma gestão do orçamento pois a ida ao museu não se resume ao preço de um bilhete. Mesmo sendo pagos existem já descontos e isenções para facilitar o acesso da população aos museus. Vejam alguns exemplos abaixo.

As entradas grátis vão também favorecer quem tem dinheiro para gastar dinheiro dentro do museu. Existe esta expectativa por parte dos museus que têm gift shops e outras estruturas a par da satisfação dos seus conservadores em dizer que estão a prestar um serviço social: a abertura a todos os estratos sociais promove uma ligação mais estreita com a comunidade onde as estruturas se inserem. Um museu aberto à comunidade tem mais um trunfo para convencer mecenas a abrir os cordões à bolsa. Mas se eu eu pagar para entrar no museu eu vou ter o direito de exigir um bom serviço. Já entrei em alguns museus para me sentir apenas explorada. Nem uma folha de sala havia disponível. As entradas grátis são também instituídas para cativar novos públicos e não apenas para permitir a entrada no museu a quem não tem posses. É bom não esquecer que é desses novos públicos que poderão surgir os visitantes e mecenas do futuro. Além do princípio legal, existem, pois, muitas razões para que as entradas grátis sejam mantidas.

Nos dias em que as entradas são pagas alguns museus favorecem a entrada a algumas camadas da população através de descontos, por exemplo, estudantes, jovens até determinada idade, a 3º idade, etc. Outras soluções poderiam ser pensadas, mais articuladas com a comunidade e parceiros sociais: porque não se cria um passe cultural para pessoas com baixos rendimentos? No meu trabalho com públicos socialmente desfavorecidos eu consegui fazer isso a nível local pelo período em que durou o curso. As opiniões sobre as visitas foram diversas, do puro tédio ao deslumbramento, mas alguns dos meus formandos regressariam ao Museu com a família, o que me encheu de contentamento. E você? Quando foi ao museu pela última vez?


Links: Rede Nacional de Museus
Algumas das condições de ingresso em museus portugueses:
Museu Calouste Gulbenkian - Lisboa

Ingressos
Museu (Colecção permanente + exposição temporária na galeria do museu): 4.00€
Exposições temporárias fora dos percursos museológicos (Galeria de Exposições Temporárias): 3,00 € / 5,00€
Museu/Exposição temporária: 5,00€
2 Museus (Museu Gulbenkian e CAMJAP): 7,00€
Descontos:
Portadores de Cartão de Turismo da CML: 20%
Portadores de Cartão Jovem, estudantes até aos 25 anos e maiores de 65 anos: 50%
Isenções:
Crianças até aos 12 anos, membros do ICOM, AICA e APOM, professores (quando acompanham grupos escolares), grupos escolares e visitas organizadas por entidades de Solidariedade Social ou Associações Culturais.
Domingos para o público em geral e no Dia Internacional dos Museus (18 de Maio).
Visitas áudio-guiadas - 4,00€ Disponível em português, inglês, francês e espanhol

Museu Nacional de Arte Contemporânea - Lisboa

Ingresso
Bilhete Normal – 4,00 €
Descontos
50% Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos; portadores de deficiência; Bilhete Família - filhos menores (15-18) desde que acompanhados por um dos pais – 2,00 €

60% Portadores de cartão Jovem - 1,60 €
Passes dos Museus e Palácios do IMC
Dois dias - 7,00 €; cinco dias - 11,00 € e sete dias - 14,00 €
Isenções
. Entrada gratuita aos Domingos e feriados até às 14h00
. Crianças até aos 14 anos
. Membros da APOM, ICOM, Academia Nacional de Belas-Artes, Academia Portuguesa da História e Academia Internacional da Cultura Portuguesa (devidamente credenciados)
Investigadores, jornalistas e profissionais de turismo (devidamente credenciados)
. Professores e alunos de qualquer grau de ensino no âmbito das visitas de estudo, desde que comprovadas documentalmente a sua condição (cartão pessoal) e o contexto da visita (por documento emitido pela respectiva instituição de ensino)
. Mecenas institucionais do respectivo museu
. Membros do Grupo de Amigos do Museu do Chiado
. Funcionários dos serviços e organismos do Ministério da Cultura (devidamente credenciados)
. Portadores do Lisboa-Card

Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa

Ingresso
Bilhete Normal - 5,00 € (museu e exposições temporárias)
Descontos
50% Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos; portadores de deficiência; Bilhete Família - filhos menores (15-18) desde que acompanhados por um dos pais – 2,50 €
60% Portadores de cartão Jovem - 2,00 €
Passes dos Museus e Palácios do IMC
Dois dias - 7,00 €; cinco dias - 11,00 € e sete dias - 14,00 €


Isenções
. Entrada gratuita aos Domingos e feriados até às 14h00
. Crianças até aos 14 anos
. Membros da APOM, ICOM, Academia Nacional de Belas-Artes, Academia Portuguesa da História e Academia Internacional da Cultura Portuguesa (devidamente credenciados)
Investigadores, jornalistas e profissionais de turismo (devidamente credenciados)
. Professores e alunos de qualquer grau de ensino no âmbito das visitas de estudo, desde que comprovadas documentalmente a sua condição (cartão pessoal) e o contexto da visita (por documento emitido pela respectiva instituição de ensino).
. Mecenas institucionais do respectivo museu
. Membros do Grupo de Amigos do MNAA
. Funcionários dos serviços e organismos do Ministério da Cultura (devidamente credenciados)
. Portadores do Lisboa-Card

Museu de Arte Contemporânea de Serralves - Porto

Ingresso
Museu + Parque: 7,00 €
Parque: 3,00€
Parque de Estacionamento – 0,80 €/horas
Descontos
Portadores de Cartão Jovem e maiores de 65 anos: 50% de desconto
Visitas de Grupo com guia: tarifário próprio, necessária marcação prévia
Isenções
- Menores de 18 anos
- Amigos de Serralves
- Estudantes do Ensino Superior (Licenciatura e Mestrado)
- Domingos: 10h00-13h00*
*bilhete gratuito válido até às 14h30

Museu Nacional de Soares dos Reis - Porto

Ingresso
Bilhete Normal – 5,00 €
Descontos
50% Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos; portadores de deficiência;

Bilhete Família - filhos menores (15-18) desde que acompanhados por um dos pais – 2,50 €
60% Portadores de cartão Jovem - 2,00 €
Passes dos Museus e Palácios do IMC
Dois dias - 7,00 €; cinco dias - 11,00 € e sete dias - 14,00 €
Isenções
. Entrada gratuita aos Domingos e feriados até às 14h00
. Crianças até aos 14 anos
. Membros da APOM, ICOM, Academia Nacional de Belas-Artes, Academia Portuguesa da História e Academia Internacional da Cultura Portuguesa (devidamente credenciados)
Investigadores, jornalistas e profissionais de turismo (devidamente credenciados)
. Professores e alunos de qualquer grau de ensino no âmbito das visitas de estudo, desde que comprovadas documentalmente a sua condição (cartão pessoal) e o contexto da visita (por documento emitido pela respectiva instituição de ensino).
. Mecenas institucionais do respectivo museu
. Membros do Grupo de Amigos do Museu
. Funcionários dos serviços e organismos do Ministério da Cultura (devidamente credenciados)
. Portadores do Porto-Card

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