O amor não escolhe hora nem data.


E no Domingo de Carnaval lá voltou a suceder. Este entroncamento deve ser um dos pontos negros das ruas da Figueira da Foz quanto a acidentes de trânsito. Uma autêntica nódoa. Tenho uma séria curiosidade sobre a estatística de toques e choques que aqui se sucedem sem fim. A visibilidade é boa e a sinalização existe. Mas neste entroncamento é como se fosse Dia dos Namorados todo o ano e não apenas hoje, dia 14 de Fevereiro. É vê-los aos beijinhos, ligeiros e pesados, que o amor não escolhe grandezas, seja Inverno, Outono, Verão ou Primavera, esteja o piso seco ou molhado, seja noite ou dia.
Já assisti a muitas cenas românticas, mas sobretudo de ouvido. Estamos nós tranquilamente entregues às nossas rotinas e zás, pás!, mais um amasso. Espreita-se da janela e ei-los. Por regra as consequências são apenas materiais. O que não significa que depois do beijo mais ou menos violento alguns dos veículos não fiquem impraticáveis e não tenham de ser rebocados. É o chamado caso de amor à primeira vista e ainda por cima de amor fatal. Por norma os condutores nem vociferam muito, resolvem tudo de forma pacata. Saem do veículo, passeiam por ali, afagam a chapa amolgada, fazem os telefonemas para a autoridade, depois para o marido, a namorada, a irmã. Alguém vem entretanto lembrar que é preciso colocar os triângulos e vestir o colete da moda. Juntam-se transeuntes. Depois chegam os carros da polícia. Umas vezes um ou dois, outras vezes quatro, ou seis. Chegam mais curiosos. Os agentes inspecionam o terreno sem pressas, fazem as medições da praxe. As pessoas vêm à janela de suas casas, apontam para o local e apresentam as suas teorias sobre como deve ter acontecido mais um blind date instantâneo!! É animação garantida.

Hoje fixei para a posteridade mais um destes rápidos encontros amorosos entre estranhos que o destino quis cruzar mesmo debaixo do meu nariz. Estão a ver como é a vida? O amor não escolhe hora nem data.Nem classe. Nestas situações a classe social não interessa mesmo nada: um distinto BMW prateado envolveu-se com um modesto Peugeot branco ou carro de lata semelhante. Até entre veículos do mesmo género o amor acontece neste entroncamento onde o Cupido monta tenda todo o ano. Atentem no veículo no canto inferior direito, um dos veículos da autoridade.

Vamos observar um pouco melhor o lugar que a autoridade escolheu para estacionar. À primeira vista parece um sítio porreiro, mas mesmo assim o carrito podia estar assim, como é que eu hei-de dizer, mais arrumadinho. Todavia a gente tem de compreender. Era um acidente, podia haver até traumatismos graves nos condutores, isto digo eu. Pois imagino que sempre que os agentes da Figueira recebem um telefonema a informar que a sua presença é requisitada neste ponto já devam saber o que os aguarda: chapa batida! Por estas bandas o amor faz faísca, mas ninguém morre electrocutado.
Agora agora vejam o carrinho preto. É da minha vizinha. A coitada tem a mesma sorte vezes sem conta. Qual sorte? É a pergunta que devem ter na vossa mente. Encontros e encontrões amorosos no entroncamento nem por isso. Com ela a cena é mais platónica. Quer saír de casa, abre o portão da garagem com o seu telecomando e lá está um amigo de quatro rodas estacionadinho e todo sorridente a fazer-lhe olhinhos. É claro que o romance nem chega a acontecer. Ao ver a sua saída barrada a situação evolui rapidamente para uma sinfonia de buzina até que o responsável apareça. Depois seguem-se outras sinfonias. Mas nunca uma serenata de amor.
Lá vem o senhor agente da autoridade a correr para remover o veículo azul e branco. Não, não se vê na fotografia. Têm de imaginar. Eu gostava de ter saído naquele momento. Abria-se o portão principal - que não se vê na foto - e deparava-me eu com esta viatura linda, que deve também ser fã do Futebol Clube do Porto. Aí,eu nem sequer buzinava. Eu ficava no quentinho do meu veículo e ligava para a polícia. Dizia que tinha um veículo a obstruir-me a passagem e que queria sair da minha garagem quanto antes, que já estava atrasada para ir ver o Corso passar. A polícia devia aparecer rapidamente para tomar nota da ocorrência, a polícia e o reboque. E quando chegassem, como seria? Eu apenas diria: "Ora, senhores da autoridade, é Carnaval, ninguém leva a mal." Que pena eu ter vendido o meu carro. Brincar ao Carnaval hoje teria tido a sua piada.

Comentários

Carros sofrem ! Coitadinho do Peugeot ...
O que é que te havias de lembrar de fazer no dia de carnaval : tirar fotografias dum carro de policia....
Os teus relatos são sempre interessantes.

Peço desculpa pela ausência...

Beijinhos
Verdinha
Anónimo disse…
Há sete dias no “dia dos namorados”, Belinha!?
Mas que amor tão pastelão!
Anónimo disse…
... se a Belinha não vai à ópera, que vá a ópera à Belinha.
Bom fim-de-semana!

http://www.youtube.com/watch?v=Ds8ryWd5aFw&feature=player_embedded#