Seduzida e abandonada:o tempo não perdoa
Há um LP velhinho-mas-não-muito que atapeta carinhosamente o prato do meu giradiscos Pionneer. De há uns bons anos a esta parte ele tem ficado ali. De vez em quando eu ligo o Power, a electricidade percorre os fios e acorda o coração da aparelhagem cinza que eu e minha irmã partilhámos longos anos. Surge então a voz de Pat Kane que continua como nova. A Pioneer está envelhecida. Quando aproximamos o ouvido percebemos que a máquina parece gemer, dir-se-ia haver um pequeno riacho subterrâneo no seu interior, um lamento contínuo. Será mágoa por ter sido abandonada, trocada por outra mais jovem, mais digital? Quando puxo o braço negro da agulha o prato demora a arrancar, a cada vez que o faço imagino que é a última! É penoso imaginar a poderosa Pioneer como sucata electrónica tão companheira que foi nas nossas vidas, tão mimada por todos! Mas depois, uma volta e duas e três, a máquina parece ir buscar as suas últimas forças. E eu então pouso a agulha suavemente sobre as linhas do disco, baixo a tampa acrílica e a música invade o espaço através das colunas gigantes. O prato gira a modos que alegre, o disco preto oscila ligeiramente como se até dançasse! E para trás fica aquele crepitar típico-é como se a música fizesse faísca na ponta da agulha e desse alma nova àqueles circuitos antigos! Terá pó, o LP? Onde pára a escovinha? Esse objecto anda sempre por perto, de um lado é uma almofada de veludo preto, do outro, a ponta, é uma escovinha para limpar a agulha. O LP em questão é da editora CIRCA Records. Encomendei-o na discoteca onde comprava habitualmente os meus LP. Esperei por ele. Era importado. Foi assim que mo explicaram na altura, era um disco que tinha de ser importado.
Não haveria certamente em Portugal muita gente a querer o LP de estreia dos Hue and Cry, Seduced and abandoned. Era apenas mais um disco pop com um toque de jazz. Mesmo se os Hue and Cry conseguiram dar nas vistas chegando a fazer primeiras partes de concertos da Madonna, por exemplo, Deacon Blue e Wet Wet Wet, também escoceses, tornaram-se de longe mais populares. Pareciam promissores mas depressa os irmãos Kane desapareceram da cena musical internacional. Durante anos a fio ninguém deu pela sua falta, nem mesmo eu.
Em finais de Novembro vão lançar Xmasday. Antes deste haviam lançado Open Soul (2008). Eu ouvi desatentamente alguns temas desse disco, entre eles uma versão de Crazy in love, da Beyoncé que me desapontou de todo. Em nome do meu antigo coup de foudre de há vinte anos fiz de conta que nada se passara. Ou eles tinham mudado ou mudara eu. O mais certo foi termos mudado todos.
Apenas quando a minha velha Pioneer toca me sinto alinhada com a música dos Hue and Cry. Talvez precise de ser conduzida pelo seu braço de metal macio e negro para ser seduzida. Ou talvez o tempo não perdoe.
Para ouvir: Strenght to strenght,labour of love, I refuse nos links abaixo.
Comentários
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c satie
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bjão
Manu